terça-feira, novembro 20, 2007

975.ª etapa

CONTRA TODA A ESPÉCIE DE “BATOTA”, SEMPRE!

“A democracia é a pior forma de governo, com a excepção de todas as outras que foram experimentadas ao longo dos tempos.”
Digamos que concordo em absoluto com estas palavras proferidas por Winston Churchill no “baixo parlamento” britânico há pouco mais de 60 anos…

Muitas coisas mudaram nestas seis décadas e a democracia evoluiu. Talvez que não no melhor sentido, principalmente para a esmagadora maioria dos cidadãos que nela acreditaram, acreditam e continuarão a acreditar.
Talvez nunca antes, como agora, tenha estado tão perto de ser verdade apenas… a primeira parte da frase. Mas a frase, aquela frase toda, será sempre óbvia.

Contudo, hoje, mais do que nunca – e as coisas tendem a piorar – é preciso que todos os cidadãos, cada um dos cidadãos, se mantenham alerta e preparados para defenderem os seus direitos. São eles a trave mestra do edifício que é a democracia, mas há cada vez mais quem, a propósito de tudo e de nada, encontre uma justificação para os restringir. Minando, corroendo, amputando… fragilizando o pilar que sustenta a democracia, fácil é de antever que um dia… a casa vem abaixo.

E, como já aqui tenho escrito, a melhor maneira de preservar os meus direitos é ajudando o vizinho a lutar pelos dele.

E entre os direitos não alienáveis – sendo que não aceito que qualquer deles possa ser dispensável –, a liberdade de expressão e o direito à opinião são dos mais importantes.

Por isso aceito, democraticamente, as várias opiniões que me foram chegando (o meu e-mail é público, porque achei que o devia ser), opiniões em relação à posição que há muito tempo tomei em defesa dos Cidadãos que não têm (não podemos deixar que isso aconteça) menos direitos que os outros só porque são Profissionais de Ciclismo.

Refuto, contudo, as etiquetas que me querem colar.

De “defensor da mentira”, de “defensor da imoralidade do doping”, de “opositor” em relação “à verdade desportiva”.

Nunca aqui escrevi, porque não o poderia fazer já que a minha consciência o impediria, nada que pudesse ser lido (a não ser por maldade ou inconfessáveis intenções) nem sequer como insensibilidade em relação ao (real) problema do doping no desporto. No Desporto em geral. Não. Sou contra toda a espécie de batota. Sempre!

Mas, se as liberdades de expressão e de opinião são direitos que uns esgrimem a seu favor, o direito ao bom-nome também o é. Mesmo no colectivo, e o Ciclismo, no geral, tem sido arrastado pela lama, curiosamente com a preciosa ajuda dos seus mais altos responsáveis.
Imaginemos um pai que tem alguns filhos problemáticos e, em vez de, dentro das quatro paredes da sua casa fazer algo para os reabilitar, os expusesse na praça pública para que a turba os lapidasse.
É mais ou menos o que as altas instâncias do ciclismo mundial estão a fazer aos Corredores.

A alguns Corredores.
Porque a situação assemelha-se, cada vez mais, com aquilo do “vergonha não é roubar… é ser apanhado a roubar”.

Poderão dizer que não, não é nada disto!

Que o objectivo é o de, punindo exemplarmente os batoteiros (que… foram apanhados), com isso fazer com que os outros não o tentem. Não tentem fazer batota? Porque o que acontece é que – e não me digam que foi iniciativa dos Corredores – se tenta sim, mas que não sejam apanhados. E assim, creio que ninguém o negará, se chegou à situação de os laboratórios, investigadores, ou lá o que sejam, que se dedicam ao doping andarem – e isso eterniza-se – dois passos às frente dos homónimos que pretendem dar-lhe luta.

Se doping é droga pode-se fazer uma comparação. As autoridades desportivas competentes esfalfam-se em apanhar os consumidores não se ralando nem um pouco com os deallers.
Já faltou mais para, tal como acontece com o tabaco – as tabaqueiras contribuem voluntariamente com chorudas verbas para ajudarem as instituições que têm de lutar contra os malefícios que ele provoca –, apareçam laboratórios a patrocinar equipas ou, quiçá, as próprias União Ciclista Internacional e Agência Mundial Anti-dopagem.

Entretanto, e voltando um pouco atrás, o método escolhido pelas autoridades desportivas – levar ao cadafalso o maior número de nomes, quanto mais sonantes melhor e exibir depois as suas cabeças – teve o condão de arregimentar um já considerável número de seguidores que se entretêm numa versão moderna da caça às bruxas. Ao melhor estilo mccarthista dos anos 50 do Século XX, nos Estados Unidos.
E estas milícias intelectuais (alguns, outros, como sempre acontece, apenas arrastados por qualquer espécie de ódio ou frustação), que se dizem amantes do Ciclismo, já só querem saber quando é que vão apanhar mais este ou aquele Corredor, sem deixarem de ter debaixo de olho aqueloutro.
Para esta espécie de vigillantes, todos os Corredores passaram a ser potenciais batoteiros. E negam-lhes o direito ao bom-nome, o direito à privacidade, juntando-lhes ainda, e invertendo o sistema, a exigência do ónus da prova. Que a democracia entrega, e bem, a quem acusa.

E voltamos assim à democracia e aos direitos dos cidadãos, justificando a forma como comecei este artigo.

Já não falo da caça às bruxas, na Idade Média, ou no Santo Ofício, uns séculos mais tarde. A democracia ainda não tinha sido inventada.
Mas aqui há meio século atrás, num dos países que foi o berço da democracia, como a conhecemos nos dias de hoje, e em nome daquilo que ele próprio definira como segurança nacional, o senador Joseph MaCarthy perseguiu, prendeu, deixou morrer milhares de cidadãos apenas por suspeita de puderem ser simpatizantes comunistas, negando-lhes os mais elementares direitos que protegiam os estadunidenses… patriotas.

Há ou não alguma coisa de mccarthismo no Ciclismo actual?
No Ciclismo. Porque sendo o doping um problema transversal, uma nódoa em todo o Desporto, parece que o espírito de Joseph McCarthy só vagueia nas noites de pesadelo que atormentam (mas inspiram) as autoridades máximas do Ciclismo mundial.
Mas pronto. Isto tudo só para garantir àqueles que acharam por bem criticar-me - curiosamente, três dos quatro e-mail que recebi serão falsos porque as respostas que enviei vieram deviolvidas - que não senhor, eu não sou defensor do recurso ao doping ou métodos proíbidos. Nem, como um deles referia - e bem, porque eu escrevi-o aqui - quando cheguei a defender a cração de uma liga tipo-NBA à margem das instituições vigentes e que, à imagem do que acontece na liga norte-americana de basquetebol, blindasse as suas competições a ingerências externas.
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Como sabem, a AMA não risca nada naquela competição, que tem órgãos próprios e, por acaso, com mão bastante pesada sendo vários os casos dos jogadores multados e temporariamente excluídos por testes positivos em relação... às chamadas drogas sociais. Doping é coisa de qe não se fala. E toda a gente já viu jogos da NBA... Sem falar que, não raro, entre dois jogos consecutivos de uma equipa, jogados a milhares de quilómetros um do outro, não passam mais do que 48 horas. E o que correm aqueles homens!!!

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