A ESTRUTURA QUE PENSA
SUSTENTAR TODO O CICLISMO DEIXOU
CAIR OS CORREDORES... E AGORA NÃO VAI SER CAPAZ DE SE SUSTENTAR
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Culpa, primeiro do feriado da última quinta-feira (na 2.ª feira ainda não o tinha) e ontem, por definitiva impossibilidade da minha parte em ir buscá-lo, só esta tarde tive nas mãos o n.º 8 do Jornal Ciclismo – www.jornalciclismo.com (assinem que vale a pena!).
Ainda não li o artigo de fundo, a entrevista com o Cândido Barbosa, mas logo no editorial e num outro artigo que o acompanha na página 3 encontro motivos suficientemente sugestivos para serem discutidos.
Não vou contrapôr convicções em relação, nem ao editorial, nem à outra peça.
Apenas reforçar algo que há muito tempo aqui venho a defender no VeloLuso.
Em relação ao facto de a empresa de advogados liderada pelo belga Luc Misson ter assumido a defesa do cazaque Andrei Kaschekin e, tudo o indica, estar a preparar argumentação que fará, de facto, explodir tudo o que até hoje prevaleceu como… justiça, na altura limitei-me a scannar uma notícia de O Jogo e republicá-la aqui (etapa 946.ª).
Sem uma linha que fosse de comentário.
Mas toda a gente sabe o que é que eu penso sobre o assunto.
E não tem nada a ver com qualquer diabólico plano de branqueamento das tristes situações de doping (provadas) que têm vindo a massacrar uma modalidade que não é nem mais nem menos prevaricadora que todas as outras. Mas que, e isso é algo para o qual eu não consigo encontrar resposta, se revelou penalizadoramente permeável à devassa, não em relação aos nomes comprovadamente culpados, mas de toda a classe, genericamente.
Hoje em dia, e não há hipótese de o contornar, ser Corredor profissional de Ciclismo é quase sinónimo de ser dopado.
Acho que já aqui o referi – há muito tempo, é verdade – que sou adepto, mais do que incondicional… sou quase impulsivamente adepto dos filmes sobre tribunais e causas e juízes e advogados poderosos.
Já vi muitos.
São filmes…
Não! São mais do que isso... São pequenos retratos do real.
E quem é que ainda não viu – ainda que ficcionado – a força que uma grande empresa de advogados pode ter?
E já vi histórias mostradas de ambos os lados.
Umas em que os advogados são os bons… e outras em que são os maus.
Que conseguem livrar o vilão que, se nós pudéssemos, mesmo sabendo que não passa de um filme, dávamos um tiro sem problemas de consciência.
A Lei – no genérico – é um labirinto que só os iniciados conseguem interpretar e toda a gente sabe que há sempre uma escapatória.
É evidente que não me sinto nem um bocadinho culpado por isso. As leis são feitas por quem, em princípio, percebe de leis e se deixam “buracos” que podem ser aproveitados, a culpa não é nossa, do comum dos cidadãos.
E repito aquilo que já aqui escrevi uma boa dezena de vezes:
eu não entendo nada de leis, mas tento saber as linhas com que me coso.
E acho, por isso o defendo, que há – de facto há – uma tábua de Leis que se sobrepõe a todas as outras leis em avulso.
Uma Lei universalmente reconhecida.
Entroncam aqui as “leis” desportivas.
A FIFA, por exemplo, soube – e isto aconteceu há mais de 50 anos – marcar a distinção entre as leis gerais e aquelas que impõe nos seus regulamentos. O que a UCI, por exemplo, não fez. Ainda assim, a hiper-poderosa estrutura do futebol mundial estremeceu, abanou mesmo e caiu quando do Caso-Bosman.
Haja dinheiro para pagar a um bom grupo de advogados e nenhuma “regra” desportivamente aceite como correcta sobrevirá.
Porque os desportistas são, antes de mais, cidadãos.
Estes são homens e mulheres.
E estes estão superiormente protegidos por aquilo a que eu chamaria de Super-Lei.
Reduzindo a “coisa” ao seu estado mais simples – que, ao contrário do que parece ser, é o mais complicado – tudo cai na rede (apertada) dos Direitos do Homem.
Tábua à qual ninguém tem força suficiente para fugir.
Há cerca de 20 anos – acho eu… francamente não dato a coisa –, esta mesma empresa de advogados dinamitou a super-estrutura da FIFA.
Agora é uma questão de prestígio.
Se o escritório de Luc Misson aceitou o Caso-Kaschekin vai ganhá-lo.
Não tenham dúvidas…
A UCI não soube ler os antecedentes, pior… não foi capaz de perceber que tanto caso teria que desaguar num grande caso.
Logo, não soube antecipar uma solução que não abanasse toda a instituição.
Mas isto é dos livros.
Há meses que eu ando aqui a escrever que estavam a ser, de uma forma cada vez mais preocupante, violados os direitos mais primários dos cidadãos que, por acaso, são profissionais de Ciclismo.
E lembro-me de ter escrito que a defesa da minha liberdade começava na defesa das liberdades do meu vizinho.
Vingou, até agora – e não tenho esperança nenhuma de que a coisa se inverta – a mais primária das reacções.
A dos que – mesmo que à luz dos regulamentos, que não desdenho – saltaram em frente, bateram tachos e panelas de forma a tentar ser ouvidos, argumentando com algo que, hoje em dia, é perfeitamente naïf.
Porque não é assim que se combate o flagelo do doping.
Não é assim...
Acredito que o Caso-Kaschekin vá até ao fim, que é como quem diz, que retroceda até chegarmos aos Direitos Fundamentais do Cidadão.
E, chegados aí, ninguém tem dúvidas de quem ganhará o processo.
E lamento saber da opinião de uns quantos – que acredito pode ser multiplicada por muitos mais – que acham “justo” que se aperte o torniquete sobre os profissionais de Ciclismo. Esquecendo que… apoiando a alienação dos Direitos Fundamentais de uns poucos, são tão poucos, caramba!, comparados com o universo que nos representa a todos, estão a ceder no que respeita à sua própria Liberdade.
Por isso, creio que até os Corredores profissionais comungarão desta opinião, e usando uma imagem caricaturada… antes a morte que tal sorte.
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