quinta-feira, abril 10, 2008

II - Etapa 23

SENDO AS PRIMEIRAS INTERESSADAS
EM QUE NÃO MORRA O CICLISMO
PEDE-SE MAIS ÀS EQUIPAS

Salvaguardando as devidas diferenças, a Volta ao Alentejo'2008 começou de uma forma semelhante à do ano passado. E convém aqui lembrar que, apesar das voltas e reviravoltas que pelo meio foram acontecendo, o vencedor final foi um dos homens que, logo na primeira etapa, conseguiu ganhar tempo a um pelotão demasiado pachorrento.

Ok, estamos no Alentejo e a imagem que alguns insistem em querer passar das gentes alentejanas é essa mesmo, a de gente pachorrenta. É mentira, asseguro-vos eu.
Aliás, a vocês, os do meio, não os adeptos, mas os directamente intervenientes, digam... conhecem alguém mais... acelerado que o Teixeira Correia?
(Desculpa companheiro o estar a usar-te nestas comparações.)

Pois eu sei de antemão que não conhecem. Contudo... ele é alentejano.
Dos bons, daqueles verdadeiros. Dos sete costados, como soi dizer-se.

Vi os resultados e já li a crónica do Fernando Emílio (que poderão ler daqui a algumas horas, no jornal impresso) e, como aconteceu tantas vezes e vai, com certeza, continuar a acontecer, não podia estar mais de acordo com ele.

Permitam-me aqui um parentises.
Eu sei que o Fernando não me perdoa quase nada (ou mesmo nada!) do que, nestes últimos meses, eu, mais ou menos directamente, critiquei no seu trabalho e mesmo na sua maneira de estar. Ao fim de tantos anos de convivência, sempre esperei ver, principalmente por parte do Fernando, reconhecida a minha independência no que respeita a opiniões.
Posso estar tremendamente enganado. Mesmo que o não esteja, posso ser injustamente penalizado, mas tenho por mim a razão. A verdade. E é essa a única condição que me imponho.
Não posso, em consciência, não posso deixar passar casos flagrantes de desonestidade intelectual só porque quem fica em causa é meu amigo. Ou foi.
Para mim... é!
Desonesto será o querer cobrar favores. Isto é, reinvidicar imunidade às criticas só porque me ajudou. O drama é que eu não ficaria de bem comigo mesmo se, só por isso, me sentisse impedido de ser como sou.
As pessoas aprenderam a confiar em mim porque eu sempre fiz questão de sublinhar a minha honestidade, fosse em apreciações individuais, fosse em trabalhos mais genéricos. Sempre agi para com todos, da mesma forma como esperava que agissem comigo. Honestamente. Quando estão bem, estão bem... quando não estão, não esperem condescendência só porque somos amigos. E o que seria de todos e cada um de nós se não tivessemos amigos...

Obrigado por terem aturado este desabafo.
Voltemos ao assunto.

A etapa de hoje (que já foi ontem!...), da Volta ao Alentejo deixou a descoberto o pior que temos no nosso Ciclismo. Ok, enquanto especialista - e permitam-me auto classificar-me assim -, eu sei que, tanto o crono de Beja, como a etapa de Portalegre é que, cada uma à sua maneira, poderão definir o vencedor. Mas numa prova de cinco dias não é admissível essa coisa de que "o primeiro milho é para os pardais".

Temos equipas consistententes, com valor; temos equipas que correm em Espanha e ganham... não podemos é correr como corremos.
Estamos a regredir no tempo.
Na Volta ao Algarve é porque metade das equipas são do quadro ProTour e agora?...
De onde é que saiu esta equipa, de onde é que saiu este corredor que ganhou hoje?

Eu fico com a sensação - que é quase certeza - de que os responsáveis pelas equipas portuguesas, que não perdem uma oportunidade para malharem na Comunicação Social porque esta só dá um quarto de página ao Ciclismo, se aproveitam exactamente desse facto - o de não haver espaço nos jornais e o das rádios nacionais estarem ausentes (ou então não estarem enquadradas com a modalidade) - para conduzirem de forma descipiente a corrida das respectivas formações.

Descipiente, sim!
Caramba... o Ciclismo PRECISA que algo aconteça para rasgar espaço na Comunicação Social. Não se queixem. Mas eu, aqui, descomprometidamente, aponto o dedo sem quaisquer problemas de consciência. Se EU FOSSE PATROCINADOR não havia director-desportivo que dormisse descansado esta noite.

Se a corrida é uma prova de um dia, há quem não se preocupe porque não tem finalizadores.
Se é uma corrida por etapas, e esta tem um crono... há quem ache que não tem possibilidades, logo, não tem que trabalhar.
Se há uma chegada em alto, há quem se reserve o direito de se poupar para essa única etapa, fugindo à responsabilidade de ter que corresponder às espectativas do organizador...

Senhores directores-desportivos... não há um único, entre todos, que reconheça que sem o esforço das equipas por vós comandadas, qualquer dia não há Organizações que consigam por de pé uma corrida?

É verdade que não há corridas sem equipas, mas... e as equipas? Serão viáveis sem corridas?

Bolas! O pelotão da Volta ao Alentejo há meia dúzia de anos - para ser simpático - que, mesmo com as equipas estrangeiras convidadas, consegue ser mais fraco que alguns pelotões de corridas domésticas. Ainda assim, as principais formações nacionais conseguem, concertadas ou não, já não sei, que um qualquer Manuel Vazquez chegue aqui e ganhe.

E o pior nem é isso. O pior é que, depois de um erro cometido num ano, no outro a seguir nada se faz para impedir que o mesmo volte a acontecer...

Desculpar-me-ão a imodéstia. Parece que os DD das equipas nacionais sabem tanto de Ciclismo quanto eu, que nunca tive nada a ver com a modalidade até a ela chegar como jornalista.
Eu também vejo as grandes provas internacionais em que o pelotão deixa uma fuga ir até aos 15 minutos de vantagem. Mas depois vejo duas ou três a trabalhar seriamente para anular a fuga e aproveitá-la para ganhar velocidade na parte final.

Curiosamente, nunca li (o que, humildemente reconhece o facto de nunca o ter escrito) um facto que é evidente e que pela primeira vez (eu) ouvi de um Corredor. No magazine que passou na Sport-TV, e relativamente ao Troféu Sérgio Paulinho, o Manel Cardoso, um jovem ainda, disse esta coisa sublime - que, reforço, nunca antes ouvira e por ser tão evidente, coro de vergonha por nunca o ter escrito: "O facto de se terem mantido três corredores ligeiramente adiantados ao pelotão foi óptimo, pois levou a um aumento de velocidade do grande grupo o que, por sua vez, me facilitou a vida!"

Céus!!!... Tão óbvio.

Agora, o drama é que me parece que não há emenda para a forma de correr em Portugal.
Todas as equipas têm homens para ganhar o crono. Porque este acontece antes da etapa de chegada em alto, e aqui o lote de candidatos estreita-se, ninguém está para trabalhar nos primeiros dias. E correm o risco de serem surpreendidos por quem menos esperam.

Os patrocinadores é que eu acho que não vão perceber estas... "tácticas".
Já deviam ter percebido que o tempo do patrocinador porque sim, porque gosta de Ciclismo, acabou. Agora tudo está condicionado a estratégias de marketing. Toda a gente sabe disso... excepto os directores-desportivos.
Depois não se queixem.

A Volta a Portugal tem dez etapas e desoito equipas participantes.
Se continuam a facilitar - no que às etapas diz respeito - nas outras corridas... no final de Agosto faremos todos as mesmas contas.
Continuem a permitir que equipas manifestamente inferiores a metade do nosso pelotão ganhem etapas deste modo.

E, lá está... confiem em que os jornais não têm espaço para falar do vosso laxismo nas provas internacionais.
E depois queixem-se de que nas corridas internas só se dá uma breve.

Dentro da nossa realidade e não havendo managers nem promotores de imagem, condicionados apenas ao reduzido espaço que os jornais dão, desaproveitar uma única oportunidade de fazer um título numa página dedicada ao Ciclismo deveria ser considerado como lesa-projecto. E fazer parte do contrato de patrocínio.

Eu, se fosse patrocinador, cobraria isso.
Não estaria disposto a ser meramente um assegurador de postos de trabalho.

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