quarta-feira, abril 23, 2008

II - Etapa 39

O QUE SERÁ ISSO DO...
SERVIÇO PÚBLICO DE TELEVISÃO?

Embora, enquanto pagador de impostos, e sabendo que parte do meu dinheiro serve para alimentar a Estação Pública de Televisão, confesso que nem sequer estava aí, para me preocupar com a coisa, mas hoje [que já foi ontem], vejo duas coisas em dois jornais que me fizeram arrebitar a orelha.

Primeiro, no Correio da Manhã, em anúncio de página inteira, a João Lagos Sports "agradece" aos parceiros que conseguiu para pôr de pé mais uma edição do Estotil Open, em ténis.

Vêm separados, consoante a ajuda prestada, como "fornecedores oficiais", "entidades oficiais" - onde aparece o Estado, através da Secretaria de Estado da Juventude e Desportos - e "patrocinadores oficiais". Em relação a estes, não há eufemismo que resista. Se foi patrocinador... entrou com dinheiro.

E entre os vários - e ainda bem que a João Lagos Sports consegue tantos - está a... Radio e Televisão de Portugal (RTP).

Portanto, a RTP pagou para ter o exclusivo do torneio. Claro que não duvido que tenha sido um bom negócio até porque depois vendeu essas mesmas imagens à miríade de canais ao nível planetário que estavam interessadas no Torneio que, ainda por cima, contava com a presença de Roger Federer. Que, também ele, se faz pagar muito bem.

É bom para Portugal promover eventos como este?
É. Não serei eu a dizer o contrário, mas o que lucra o desporto português com isto?
Nem a campeã-proveta Michelle Brito passou da primeira ronda...

Para os amantes do ténis, termos um torneio destes em Portugal não é em nada diferente dos outros que ocorrem noutros países. A televisão dá.
E a esmagadora maioria fica-se pela televisão já que as bancadas dos courts do Jamor são poucas para tanto VIP e outros que o não sendo, vão à boleia daqueles.

Confunde-se o que é desporto com o que não passa de uma provinciana feira de vaidades onde o jet-set que não temos, mas que inventámos através das revistas cor-de-rosa onde o "jornalismo" cheira a fossa de esgoto e onde tudo é combinado.

Os candidatos a figuras de jet-set pagam para aparecerem, as revistas fingem que fazem reportagens jornalísticas quando não fazem mais do que cumprir o acordo de fazer aquilo para o qual foram pagas, e o círculo vicioso adensa-se, aproximando-se, num ápice, de um labirinto sem saída no qual cada uma das partes precisa escandalosamente da outra para sobreviver.

Volto um pouco atrás...
É bom para Portugal termos um evento destes? É!
Agora... o que é que o ténis português ganha com isto?
Nada!
Temos algum tenista de nível mundial?
Não!

E passo de imediato da página 34 do Correio da Manhã de ontem, a tal onde vinha o anúncio referido, para a página 39 do Record onde o presidente da Federação Portuguesa de Triatlo - aquela modalidade dos três segmentos, natação, ciclismo e corrida, onde, a nível mundial manda uma tal... Vanessa Fernandes, por acaso, portuguesíssima de gema, natural de Gaia - se queixa que vamos organizar um Campeonato da Europa, já no próximo mês de Maio, dentro de pouco mais de 15 dias, e que não tem ainda garantido o dinheiro necessário.

O jornal com sede nas Avenidas Novas dá-nos, inclusivé, os números da prova, na área financeira, assim numa espécie de deve & haver.

O que me motivou a escrever este artigo é que na coluna das despesas constar uma alínea que diz: transmissão televisiva na RTP - 98 mil euros!

Isto é... o Canal Público de Televisão PAGA para transmitir o ténis que pouco ou nada tem a ver com a realidade da modalidade em Portugal; e faz-se pagar para mostrar uma modalidade onde, pelo menos no sector feminino, um dos dois maiores nomes a nível mundial é portuguesa, se chama Vanessa Fernandes e que, normalmente, bate a sua rival mais directa.
Será isto Serviço Público?

E as corridas de Ciclismo?
As voltas ao Algarve e ao Alentejo gastaram, tanto quanto julgo saber, 65 mil euros para poderem ter pequeninos resumos diários das suas etapas. São os enteados. Os portugueses, os nascidos cá, os campeões que ainda vamos conseguindo fazer, são os enteados do nosso Desporto. Pelo menos são tratados como tal.

As mordomias, o alargar dos cordões à bolsa, isso só para pagar aos que parecem ser os verdadeiros filhos, mas que não nasceram cá, não têm nada a ver connosco e aos quais o comum dos cidadãos continua a não ter acesso, por isso, dar o Open do Estoril na RTP ou na EuroSport seria de todo igual, pelo menos para quem tem televisão por cabo...

Mas é que os resumos da Alentejana, por exemplo, passaram não só num canal apenas acessível por cabo, como também codificado e sujeito a assinatura complementar.

E com o que os jornais deram da prova, já percebem porque eu escrevi aqui uns artigos atrás que a CS está a matar aos poucos uma das modalidades mais populares e queridas dos portugueses?

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