ALENTEJANA FIEL À TRADIÇÃO
Terminou mais uma edição da Volta ao Alentejo – a Alentejana – e, é isso que nos diz o palmarés da prova, e assim será para todo o sempre recordado, manteve-se a famosa tradição. Em 26 edições da corrida, que se estreou no calendário nacional no já longínquo dia 29 de Junho de 1983 e que foi ganha por Paulo Ferreira (Sporting-Raposeira) – no ano seguinte viria a ganhar uma etapa no Tour -, em 26 edições, escrevia eu, soma oficialmente (e isto é que conta), vinte e seis vencedores diferentes.
E, ano após ano, e porque a tradição já atingiu a maioridade, a hipótese de esse recorde se alargar começa a ter o seu peso específico, tanto que já li até que é possível uma candidatura ao famigerado Guinness Book of Records. Tenho as minhas dúvidas se isso vai servir para alguma coisa. Mas voltarei ao tema.
Este ano, como desde há mais de uma década, desde que eu fiz pela primeira vez parte do pelotão de jornalistas que cobrem a Alentejana, esta… particularidade voltou a ser amplamente publicitada.
E é norma sublinharem-se os nomes dos dois ou três (já houve anos em que foram mais) candidatos a quebrarem a tradição.
A verdade é que ninguém cujo nome já está perpetuado no palmarés da prova conseguiu, até agora, repetir um triunfo, mas este ano – e fiquei sem saber se alguém se recordou ou não disso – ganhou a corrida o único corredor que não o poderia ter feito.
Calma. Calma Américo Silva, calma Vítor Paulo!
Aquele não podia não tem nada de negativo, nem para a vossa equipa, nem para o Hector Guerra. No fundo, não é negativo para ninguém, uma vez que o que conta sãos os resultados aceites pelo Colégio de Comissários e depois homologados pela federação. Que só tem que os homologar pois as decisões finais do CC não são passíveis de contestação. Uma vez tomadas são definitivas.
A maioria dos que têm a santa paciência de me ler já sabe onde é que quero chegar. Lembraram-se disso?
Porque é que raio eu escrevo que o único corredor que não podia ganhar a Alentejana era o Hector Guerra? Que a ganhou de forma imperial, incontestável e supremamente justa depois de no crono da passada sexta-feira ter dado mais de um minuto de avanço a todo o pelotão, com as excepções do David Blanco e do Tiago Machado. Aliás, o triunfo de Hector Guerra num crono, nos dias de hoje nem pode já ser considerado surpresa. Todos sabemos o seu indiscutível valor, nomeadamente nestas etapas em solitário, contra o cronómetro.
Sabemos hoje, mas há quatro anos muitos de nós testemunhámos uma situação que mancha para sempre o bonito historial da Alentejana. Malgrado o branqueamento aparentemente encetado.
No domingo, ao princípio da madrugada, quando vi o resumo da etapa final da edição deste ano da corrida, nomeadamente, a entrevista final feita ao Hector Guerra, eu que estive sempre à espera que o episódio fosse relembrado, não pude evitar um sorriso quando constatei que o único que se recorda... é o próprio Hector Guerra.
O madrileno já vai metendo umas buchas de portunhol no meio de um dos sotaques mais difíceis do castelhano, que é o que se fala na região da capital espanhola. Falam muito rápido, vincando de tal forma as palavras que há sílabas que nos escapam e, não estando muito habituados a ele [ao sotaque madrileno] podem-se perder pormenores importantes em declarações importantes.
Foi exactamente o que aconteceu.
Pergunta/deixa do jornalista: (mais ou menos isto) Satisfeito com a sua primeira grande vitória numa corrida internacional por etapas?
A resposta do Hector Guerra foi esta: … a primeira foi aqui há uns anos, mas tiraram-ma.
E, cá está!
Disse-o no seu sotaque natal, falando rápido, comendo sílabas, só isso explica que o jornalista não tenha reparado. E é provável que este nem saiba da estória que aconteceu no largo fronteiriço à sede da Adega Cooperativa do Redondo, na tarde de 30 de Maio de 2004.
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