terça-feira, dezembro 05, 2006

344.ª etapa


REFLECÇÃO - I

O Ciclismo vive uma das suas piores crises.
Ora, aqui está uma frase que me garante, provavelmente, a unanimidade de opinião por parte dos meus leitores. Mas concordar com isto e depois não se mexer um dedo para que, no meio da confusão, se encontre, nem que seja só isso, uma esperança de achar o caminho certo, não vai, concerteza, alterar o estado das coisas.
Mas, confesso, num aspecto continuamos a estar ao nosso melhor nível. Na crítica. Mas critica-se e não se apontam alternativas.

E depois há aqueloutra faceta que caracteriza – e que bem o faz – o português. Apressamo-nos a festejar as vitórias, que são sempre nossas, e disparamos à queima-roupa contra as não vitórias que são, inapelavelmente, culpa exclusiva deles. E este eles abarca toda a gente que se ponha a jeito de servir de alvo.
Enfim, reconheçamos que, recorrendo à impagável sabedoria popular, podemos encontrar a definição perfeita no “em casa onde não há pão…”

Pois é! O problema é que não há dinheiro. Mas reparem… até as modalidades que têm bilheteira sofrem do mesmo mal. Portanto…
Mas já me focarei no Ciclismo em Portugal.
Para já, começo com a modalidade no global.

Os males por que passa o Ciclismo, na generalidade, não são tão fáceis de identificar assim, por mais piruetas que alguns teóricos dêem. Nos dias de hoje, e graças a uma operação policial – e à cobertura mediática da mesma – acontecida aqui ao lado, em Espanha, qualquer não iniciado vem, de cátedra, apontar o dedo ao doping como o grande, senão único mesmo, cancro que mina a saúde da modalidade. Nem se apercebem que, afinal, se está a falar de algo que tem vindo a coexistir, não digo desde sempre, mas pelo menos há umas 5 décadas (só para apresentar um número), com o ciclismo.

Não!
Não estou, de forma alguma, a advogar o branqueamento dessa prática.
Enquanto pessoa, e adepto, só posso estar contra toda e qualquer espécie de batota no desporto. O doping no ciclismo (e não só, e não só…), as simulações de faltas sofridas e de grandes penalidades inexistentes, no futebol, e por aí adiante…

O problema é que a grande (enorme!) maioria dos novos Torquemada não é capaz de apontar a diferença entre doping, real e negativo, de – porque não parámos no tempo – novas práticas que apenas têm como fim humanizar (proporcionando aos atletas uma melhor e mais rápida recuperação do esforço dispendido) um desporto que é dos mais duros que se praticam. Ou preferiam ver os corredores a arrastarem-se montanhas acima sem poderem sequer mover os pedais das máquinas?

Se calhar era esse o espectáculo que esperavam!...

The Show Must Go On. E quem exige que assim seja são os primeiros a, pudicamente, levantar depois a voz contra a mentira. Como se para se saber o que é mentira não fosse necessário conhecer a verdade.

Eu continuo a defender que não, o doping não está generalizado no pelotão. E quem pretende o contrário está, pelo menos, a cometer uma tremenda injustiça em relação à grande maioria dos profissionais que o tentam ser da forma mais honesta possível.
Mas há estes casos, como a Operação Puerto. Pois há. E também eu sei que não há fumo sem fogo. O mal está na generalização que, a partir de um caso ou outro, logo se faz, metendo toda a gente no mesmo saco.

Sem contar que, repetindo aqui o que há algumas semanas atrás escrevi no Cyclolusitano, a polícia não me pode tirar a carta de condução por, mesmo com a prova das câmaras de vigilância de um qualquer supermercado que me mostram a comprar meia dúzia de garrafas de whiskie, soprando eu o balão dê… zero! Ou me fique dentro dos limites legais previstos para a taxa de alcoolémia.
Descodificando: até pode haver bolsas de sangue – mesmo com EPO – com o nome do corredor lá escarrapachado mas, se não o apanharem num controlo anti-doping é atentatório dos seus Direitos, Liberdades e Garantias que o acusem seja do que for. Ou que tentem penalizá-lo seja de que forma fôr. Como vetar a sua presença numa corrida ou aconselhar a sua não contratação por nenhuma equipa.

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