[Acordo Ortográfico] # SOU FRONTALMENTE CONTRA! (como dizia uma das mais emblemáticas actrizes portuguesas, já com 73 anos, "quem não sabe escrever Português... aprenda!») PORTUGUÊS DE PORTUGAL! NÃO ESCREVEREI, NUNCA, NUNCA, DE OUTRA FORMA!
sábado, dezembro 16, 2006
357.ª etapa
CICLISMO PORTUGUÊS, QUE FUTURO?
DESENVOLVIMENTO I
Depois do Intróito que deixei escrito há alguns dias atrás, prossigo agora com aquilo que não tem prentensão de ser mais do que é: a minha opinião em relação à forma como o Ciclismo português se deveria reorganizar.
Depois do escrito na citada peça introdutória, reclamo agora que é necessário – e que é urgente que se faça – dar um corpo à estrutura da modalidade. Um novo corpo.
E quando defendo isto creio deixar claro que não acho que TUDO está mal no Ciclismo português, o que significaria que seria preciso fazer TUDO de novo. Mas algumas mudanças são inevitáveis.
E a primeira coisa a fazer teria que ser mesmo a de garantir saídas profissionais para quem, em dada altura da sua vida, escolheu o ser Corredor para profissão.
A primeira coisa a fazer é criar – ou fazer funcionar – uma cadeia de ligações naturais que possa assegurar a progressão na carreira.
Por muito mal que esteja – e está – a vida em todos os cambiantes profissionais, uma das áreas mais problemáticas é mesmo o Ciclismo. Se até aos 16 ou 17 anos ainda é possível aos atletas encararem o Ciclismo apenas como actividade complementar à principal, que será (ou devia ser) a de estudante, a partir de júnior seria bom que eles tivessem a noção clara de que, optando por uma carreira profissional, teriam a funcionar uma estrutura que lhes garantisse a tal progressão normal da carreira. Sendo que, inevitavelmente, o apertar do crivo, no que respeita à qualidade, acabaria por deixar alguns de fora. Mas isso é o que acontece em qualquer ramo de actividade. Na míngua da procura face à oferta, serão os melhores aqueles que vão ser escolhidos. O que eu constato é que actualmente não existe, de facto, uma linha contínua na estrutura do Ciclismo que possa alimentar a ambição de muitos jovens. Da grande maioria.
Por isso, chegados à idade de escolher um curso universitário a debandada é quase geral.
Claro que sobram corredores para ir mantendo viva a modalidade, mas é com os que ficam pelo caminho – e quantos são aqueles que até poderiam vir dar excelentes profissionais? – que teremos que nos preocupar.
Mas não só.
Na antecâmara do profissionalismo temos a categoria de sub-23, na qual muita coisa já mudou (para melhor) mas falta ainda pegar algumas pontas soltas.
Esta é a tal idade em que, definitivamente, muitos têm que optar.
Queriam, tinham vontade e jeito, para enveredarem pelo profissionalismo mas o futuro fecha-se-lhes na cara.
Malgrado o inverter da tendência que vinha a ser a prática, e que já proporcionou, por exemplo na temporada finda, a vários jovens com menos de 24 anos mostrarem-se na principal montra do Ciclismo indígena, o futuro, para – outra vez – a maioria deles continua a ser algo de nebuloso.
E no caso de uma temporada menos conseguida? Com que tolerância podem contar?
Às vezes nenhuma. Vejam-se os casos de jovens que, depois de um ano como profissionais ficam, num abrir e fechar de olhos, sem equipa.
Vêem o Ciclismo, enquanto profissão, fechar-lhes as portas e vêem-se, não raro, desorientado quanto ao futuro.
Que fazer? Voltar atrás e retentar a progressão académica de forma a assegurarem o futuro ou procurar desde logo outro meio de vida?
Está aqui a faltar um elo na tal cadeia de que falei.
Aos 20 anos (até aos tais 23) um jovem é perfeitamente capaz de conciliar uma actividade escolar com o Ciclismo. Como outros fazem, noutras modalidades. Pode exigir alguns sacrifícios, exigi-lo-ão, de certeza, mas – voltando pela terceira vez ao caso – havendo à sua frente um mínimo de garantias de que ser profissional depende apenas dele, do que fizer, do que mostrar vir a ser capaz de fazer – por certo pensará duas vezes antes de abandonar, de vez, o Ciclismo.
E eu venho a falar de carreiras académicas mas poderia estar a falar de outras opções.
Chegados à idade de tomarem nas suas mãos a construção da sua própria vida, o que eu defendo é que é preciso estender no tempo o período em que cada um terá de optar. Até para que o faça em consciência.
São marcantes as diferenças entre a categoria de sub-23 e a entrada no circuito profissional. Falta aqui um patamar na pirâmide do nosso Ciclismo. Uma categoria intermédia, que até possibilitasse a co-existência de uma segunda actividade, e que desse mais tempo aos candidatos a profissionais para, primeiro: por um lado, percebessem eles próprios se tinham ou não capacidades para virem a optar pelo profissionalismo; segundo: para que os futuros empregadores tivesse, também eles, mais uma oportunidade para aquilatarem das qualidades do candidato a profissional.
Os que tiverem menos problemas de memória estarão ainda lembrados que, não há muito, as equipas profissionais portuguesas preferiam ir buscar jovens espanhóis ao aproveitarem os melhores da categoria sub-23 nacional. Há dois anos, com predominância para este 2006, essa tendência alterou-se mas o motivo foi exactamente o mesmo. Antes era mais barato (numa relação qualidade/experiência/custo) ir buscar um espanhol de 24 anos do que um português de 23. Agora recorre-se mais ao produto interno, mas não estou certo que se mantenha válida aquela equação.
Creio, apesar de, aparentemente, os resultados contrariarem a minha tese, que o terceiro factor foi o que prevaleceu.
As consequências ainda não são mesuráveis. É preciso deixar correr mais uma época. No final da próxima temporada veremos quais as esperanças que ainda se vão manter no pelotão principal e quais os que, não por culpa própria – em definitivo –, vão ver-se em dificuldades para conseguirem progredir na carreira.
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