sábado, dezembro 16, 2006

357.ª etapa


CICLISMO PORTUGUÊS, QUE FUTURO?
DESENVOLVIMENTO I

Depois do Intróito que deixei escrito há alguns dias atrás, prossigo agora com aquilo que não tem prentensão de ser mais do que é: a minha opinião em relação à forma como o Ciclismo português se deveria reorganizar.

Depois do escrito na citada peça introdutória, reclamo agora que é necessário – e que é urgente que se faça – dar um corpo à estrutura da modalidade. Um novo corpo.
E quando defendo isto creio deixar claro que não acho que TUDO está mal no Ciclismo português, o que significaria que seria preciso fazer TUDO de novo. Mas algumas mudanças são inevitáveis.

E a primeira coisa a fazer teria que ser mesmo a de garantir saídas profissionais para quem, em dada altura da sua vida, escolheu o ser Corredor para profissão.
A primeira coisa a fazer é criar – ou fazer funcionar – uma cadeia de ligações naturais que possa assegurar a progressão na carreira.

Por muito mal que esteja – e está – a vida em todos os cambiantes profissionais, uma das áreas mais problemáticas é mesmo o Ciclismo. Se até aos 16 ou 17 anos ainda é possível aos atletas encararem o Ciclismo apenas como actividade complementar à principal, que será (ou devia ser) a de estudante, a partir de júnior seria bom que eles tivessem a noção clara de que, optando por uma carreira profissional, teriam a funcionar uma estrutura que lhes garantisse a tal progressão normal da carreira. Sendo que, inevitavelmente, o apertar do crivo, no que respeita à qualidade, acabaria por deixar alguns de fora. Mas isso é o que acontece em qualquer ramo de actividade. Na míngua da procura face à oferta, serão os melhores aqueles que vão ser escolhidos. O que eu constato é que actualmente não existe, de facto, uma linha contínua na estrutura do Ciclismo que possa alimentar a ambição de muitos jovens. Da grande maioria.
Por isso, chegados à idade de escolher um curso universitário a debandada é quase geral.

Claro que sobram corredores para ir mantendo viva a modalidade, mas é com os que ficam pelo caminho – e quantos são aqueles que até poderiam vir dar excelentes profissionais? – que teremos que nos preocupar.
Mas não só.

Na antecâmara do profissionalismo temos a categoria de sub-23, na qual muita coisa já mudou (para melhor) mas falta ainda pegar algumas pontas soltas.

Esta é a tal idade em que, definitivamente, muitos têm que optar.
Queriam, tinham vontade e jeito, para enveredarem pelo profissionalismo mas o futuro fecha-se-lhes na cara.

Malgrado o inverter da tendência que vinha a ser a prática, e que já proporcionou, por exemplo na temporada finda, a vários jovens com menos de 24 anos mostrarem-se na principal montra do Ciclismo indígena, o futuro, para – outra vez – a maioria deles continua a ser algo de nebuloso.
E no caso de uma temporada menos conseguida? Com que tolerância podem contar?
Às vezes nenhuma. Vejam-se os casos de jovens que, depois de um ano como profissionais ficam, num abrir e fechar de olhos, sem equipa.

Vêem o Ciclismo, enquanto profissão, fechar-lhes as portas e vêem-se, não raro, desorientado quanto ao futuro.
Que fazer? Voltar atrás e retentar a progressão académica de forma a assegurarem o futuro ou procurar desde logo outro meio de vida?

Está aqui a faltar um elo na tal cadeia de que falei.

Aos 20 anos (até aos tais 23) um jovem é perfeitamente capaz de conciliar uma actividade escolar com o Ciclismo. Como outros fazem, noutras modalidades. Pode exigir alguns sacrifícios, exigi-lo-ão, de certeza, mas – voltando pela terceira vez ao caso – havendo à sua frente um mínimo de garantias de que ser profissional depende apenas dele, do que fizer, do que mostrar vir a ser capaz de fazer – por certo pensará duas vezes antes de abandonar, de vez, o Ciclismo.

E eu venho a falar de carreiras académicas mas poderia estar a falar de outras opções.
Chegados à idade de tomarem nas suas mãos a construção da sua própria vida, o que eu defendo é que é preciso estender no tempo o período em que cada um terá de optar. Até para que o faça em consciência.

São marcantes as diferenças entre a categoria de sub-23 e a entrada no circuito profissional. Falta aqui um patamar na pirâmide do nosso Ciclismo. Uma categoria intermédia, que até possibilitasse a co-existência de uma segunda actividade, e que desse mais tempo aos candidatos a profissionais para, primeiro: por um lado, percebessem eles próprios se tinham ou não capacidades para virem a optar pelo profissionalismo; segundo: para que os futuros empregadores tivesse, também eles, mais uma oportunidade para aquilatarem das qualidades do candidato a profissional.

Os que tiverem menos problemas de memória estarão ainda lembrados que, não há muito, as equipas profissionais portuguesas preferiam ir buscar jovens espanhóis ao aproveitarem os melhores da categoria sub-23 nacional. Há dois anos, com predominância para este 2006, essa tendência alterou-se mas o motivo foi exactamente o mesmo. Antes era mais barato (numa relação qualidade/experiência/custo) ir buscar um espanhol de 24 anos do que um português de 23. Agora recorre-se mais ao produto interno, mas não estou certo que se mantenha válida aquela equação.
Creio, apesar de, aparentemente, os resultados contrariarem a minha tese, que o terceiro factor foi o que prevaleceu.

As consequências ainda não são mesuráveis. É preciso deixar correr mais uma época. No final da próxima temporada veremos quais as esperanças que ainda se vão manter no pelotão principal e quais os que, não por culpa própria – em definitivo –, vão ver-se em dificuldades para conseguirem progredir na carreira.

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