[Acordo Ortográfico] # SOU FRONTALMENTE CONTRA! (como dizia uma das mais emblemáticas actrizes portuguesas, já com 73 anos, "quem não sabe escrever Português... aprenda!») PORTUGUÊS DE PORTUGAL! NÃO ESCREVEREI, NUNCA, NUNCA, DE OUTRA FORMA!
quarta-feira, dezembro 13, 2006
355.ª etapa
CICLISMO PORTUGUÊS, QUE FUTURO?
INTRÓITO I
Neste já longo período que levo afastado das lides profissionais descobri uma coisa, coisa essa que não é opção quando em actividade. Há alturas em que não me apetece escrever. Certo que lá aparece um assunto ou outro que, até para contrariar a monotonia, forçam ao quebrar dessa preguiça, luxo ao qual não tenho habitualmente direito.
E serve este intróito para me desculpar perante os meus leitores pelo facto de os ter deixado pendurados quase uma semana na expectativa quanto àquilo que penso sobre o que poderia ser uma saída para o ciclismo nacional.
Vai agora.
Convém, antes de mais, estender o cenário sobre o qual pretendo projectar aquilo que penso.
É evidente que, no actual panorama, o ciclismo português atingiu há muito o prazo de validade. Em conversas que vou mantendo com várias pessoas ligadas à modalidade, e quando se trata de especular sobre o futuro, vai-se do 8 ao 80, esquecendo-se que… no meio está a virtude.
Há uma anedota que diz, recordando o livro do Genesis, no qual se lê que o Mundo foi construído a partir do caos, que já não nos falta nada… é começar a reconstruir.
Mas falta – e esta é que é a grande verdade do nosso Ciclismo – quem esteja disposto a deitar mãos à obra.
Não levem a mal por os chamar assim, mas existem vários teóricos para quem a reestruturação do Ciclismo Português tem que ser feita de base. Não sei se desta base que temos mas, mesmo que não seja assim, não concordo.
O Ciclismo é uma modalidade com particularidades muito suas. E aqui valho-me de um exemplo: as escolinhas de futebol. Vão ver que não é inocentemente que falo disto.
Quantos anos tem esta moda? Que vingou e a prova é que as referidas escolas – pagas a preços altíssimos – têm vindo a multiplicar-se. Mas, e até pelos preços cobrados, pecam por serem selectivas. Só os filhos dos que têm um rendimento bastante superior à média nacional podem dar-se ao luxo de colocar o petiz a tentar aprender de forma a vir a ser um novo Cristiano Ronaldo. E atenção a esta parte que também é importante.
Mas a história diz-nos que os melhores futebolistas de sempre vieram da rua. Do futebol da bola de trapos… de Eusébio a Pelé. Até o próprio Cristiano Ronaldo.
Há coisas para as quais o dinheiro não importa. Uma delas é o talento com que cada um nasce.
Por isso, e por educação, eu limito-me a sorrir perante quem defende que o ciclismo tem que começar na escola. Nas escolas.
Eu defendo o ciclismo na Escola – assim, em termos genéricos – mais pela oportunidade que isso traria a muitos jovens de experimentar uma bicicleta do que por outra coisa. Pode-se fabricar um campeão na escola? Ah, pois pode. Vejam-se os exemplos da antiga RDA, dos quais Jan Ullrich foi o último produto acabado se bem que com as duas alemanhas praticamente reunidas na altura em que começou.
E se eu acho que as escolinhas de futebol são sectárias, que dizer das escolas de Ciclismo? Então, o nosso maior nome na modalidade não foi, ele mesmo, um campóneo que usava a bicicleta para ir trabalhar na quinta?
Tentar reconstruir o edifício do Ciclismo nacional a partir de escolinhas – particulares ou patrocinadas pela FPC – revelar-se-ia, mais cedo, ou mais tarde, uma aposta furada com a qual só ganhariam os respectivos promotores. Ganhavam em termos financeiros, que no que à prática respeita, duvido muito que desse alguns resultados.
O que não quer dizer que não sejam importantes no todo da estrutura do Ciclismo. Como tentarei explicar. Mas não sendo a base da renovação.
Volto então ao exemplo das escolinhas de futebol.
Qual foi o segredo descoberto por meia dúzia e que parece ter dado resultados? (Financeiros… deu, na óptica do promotor. Práticos… estou à espera do primeiro exemplo.)
Pois bem, com o advento de inúmeras jovens esperanças da modalidade, dizendo de outra forma, com a idade dos ídolos a baixar exponencialmente, algumas das estrelas do passado viram na abertura das escolinhas um projecto e negócio bastante viável. Que se provou ser verdade.
E muitas delas (dessas estrelas) contavam ainda com a auréola que os coroou como chamariz. E voltamos ao ponto em que, quem tiver dinheiro é que põe os filhos nessas escolas. Mesmo que sejam morfologicamente inadaptáveis à condição de jogadores de futebol.
Não queria que isso acontecesse no Ciclismo. Quem se chegasse à pretensa formação apenas porque o pai teve dinheiro para inscrever o puto numa escola.
(Eu sei que não é totalmente assim, nas escolas que já existem. Mas que também há partes disto que se encaixam na realidade, disso também não tenho dúvidas. Como acontece o caso de muitos pais que foram corredores medíocres, obrigarem os filhos a escolher o Ciclismo na esperança de verem neles confirmados os sonhos que os próprios falharam.)
Não!
Em definitivo, apesar de achar que têm a sua importância, não será a partir das escolas que o nosso Ciclismo poderá encetar a revolução.
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