domingo, dezembro 17, 2006

360.ª etapa


CICLISMO PORTUGUÊS, QUE FUTURO?
FUNDAMENTOS – II


Voltemos então ao assunto, que ficou naquela parte do malfadado fado que, por manifesto miserabilismo temos tendência em aceitar até porque, à falta de melhor, serve sempre de desculpa.
Esfarrapada. Digo eu.

Não somos nem temos que ser pequeninos e pobrezinhos.
Em nada.
Nem no Ciclismo.

Isto, que a seguir vou escrever, já o escrevi antes e melindrou meia dúzia de espíritos mais sensíveis. Lá terá que acontecer outra vez.

Portugal não precisa de ter dez (ou nove, ou oito…) equipas pobrezinhas no pelotão UCI. E o facto de que elas existem é que, ano após ano, somos confrontados com “defesas de honra” mais ou menos nestes termos: “Com o nosso orçamento e com o nosso plantel, mais não podíamos ter feito…”

Mas será que precisamos mesmo destes “sacrifícios”?
Eu digo que não.

E reentro então na tal linha inicial de pensamento.

O Ciclismo português precisa, para ontem, de uma reorganização estrutural que evite estas obrigações de se sair para a estrada sem as condições que devemos considerar mínimas.

E sou levado a olhar a questão, não pelo lado das equipas; não pelo lado das pessoas que insistem em fazer equipas, mas pelo lado de quem escolheu ser Corredor profissional. Certo que, a montante deste também há quem precise de garantir o seu modo de vida. Ok. De acordo. Mas não o façam esquecendo o artista principal. Que é o Corredor.

De que nos servem projectos efémeros? Ou de continuidade duvidosa?

E estamos a chegar ao quente da questão.

Defendo que a Federação Portuguesa de Ciclismo não deve tomar como primeira preocupação o ciclismo profissional. Mas podia – devia e, é a minha opinião, aqui TEM que – tomar uma posição.

Portugal não tem uma economia que lhe permita sustentar dez equipas profissionais de ciclismo.
Há, pelas minhas contas e, principalmente – tentem fazer o exercício – na projecção que faço do número de corredores que, ano após ano, chegam à idade de se enquadrarem na categoria de elite, material humano de sobra para termos oito, nove, dez… até mais equipas num patamar que insistimos em não preencher. Que é o de Elites não-amadores.

Qual é a diferença?

Ora vamos lá todos ler os regulamentos (que são públicos), e tratemos de ver as diferenças.

A diferença entre as Equipas Continentais UCI e as não-amadoras, Elite de Clube, são só a favor destas últimas.
Seguros obrigatórios reduzidos aos de responsabilidade civil, ausência de descontos para a Segurança Social – porque os corredores o serão na forma de prestadores de serviço, a recibo verde (o que já acontece nas Continentais) – e um calendário que, com os devidos ajustamentos (não era preciso muito, não era…), seria praticamente o actual.
Falta a Volta a Portugal.
Pois é.
Mas… hoje em dia, qualquer aldeiazinha de Portugal tem uma equipa de futebol. Fazem-na a pensar ver os seus jogos na Sport-TV? Ai não?
Então onde é que o Ciclismo tem que ser diferente?

O Ciclismo português precisa – urgentemente – encontrar quatro ou cinco projectos que, ancorados ao Calendário Internacional, lhe dêem visibilidade.

Há muito ciclismo em Espanha para além da Illes Balears, da Euskadi e da Saunier Duval. E todo ele cimenta a sua razão de existir no facto de a modalidade, focada naquelas três equipas de Topo, ser um excelente veículo publicitário. Um bom negócio.
Sem vender gato por lebre.

E eu volto a insistir na regionalização das equipas.
Vivemos numa Europa das Regiões. Verdade que aquelas que se quis impôr em Portugal logo me pareceram mais votadas a encontrar tachos para alguns elementos partidários do que para outra coisa, mas não deixei de acreditar numa divisão territorial menos centralizada.
Regiões onde o poder local fosse… mais local.
Em Portugal, se se conseguir fugir àquela tendência de encontrar lugares para os boys, não teríamos mais do que oito. Para além das duas grandes áreas metropolitanas. Minho, Nordeste, Beira Interior, Beira Litoral, Vale do Tejo, Alentejo, Oeste (para o separar da grande Lisboa) e Algarve.

Olho para isto e olho para Espanha.

Porque é que o País Basco tem a SUA equipa de ciclismo?
Porque é que a Galiza criou a sua?
Porque é que – embora os projectos tenham falhado, cada um ao seu nível – a Comunidade Valenciana e Múrcia tiveram os seus?
Porque é que a Andaluzia e a Extremadura continuam a ter?

Certo que, em todos estes casos, antes de chegarmos ao Ciclismo já há uma Economia devidamente regionalizada. É evidente que uma empresa implantada na Galiza, achando oportuno o investimento no Ciclismo como veículo publicitário, não negará o seu apoio a uma equipa de Ciclismo que nasça nessa região.
E conta, desde logo, com o apoio do consumidor, também ele arreigado do espiríto regionalista.

Mas, e, como acontece connosco, se não há regiões, como fazer?
É claro que há regiões. Estejam elas definidas em mapa ou não.
O Alentejo é o Alentejo. O Algarve é o Algarve. O Oeste é o Oeste.
Qualquer desculpa que fuja a esta realidade é mera… desculpa.

Eu vejo Portugal com uma equipa de TOPO e com três a quatro equipas PROFISSIONAIS.
E, como forma de as financiar, vejo exactamente esta questão da regionalização de paixões.

Consolidadas em equipas existentes ou a criar.
Mais à frente hei-de expor um organograma mas, antes disso, o que eu queria era que interiorizassem esta necessidade.

Espero que continuem a seguir-me.

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