quarta-feira, dezembro 06, 2006

346.ª etapa


REFLECÇÕES - IV

(Sequência do artigo anterior, que já vem no seguimento dos dois que o antecedem)

Curiosamente, antes daquela súbita e tremenda necessidade que foi a da criação do ProTour, o que se falava era que a UCI preparava mudanças no sentido de tornar mais fáceis as permutas de equipas pelas diversas organizações nacionais estando a pensar, para facilitar as coisas, em criar Circuitos Regionais dentro da Europa. Esta sim, pareceu-me desde logo uma solução, não só exequível, como com grandes hipóteses de, realmente, ajudar ao desenvolvimento da modalidade em alguns quadrantes do espaço europeu.

(Porque terá sido que a ideia ProTour mandou tudo isto para o lixo?)


A ideia era básica, sem nada de extraordinário em si. Promover-se-ia a aglutinação em calendários regionais de provas em círculos não muito alargados de forma a que qualquer equipa dos países abrangidos pudesse, sem despesas demasiadas, apresentar-se em todas as corridas. E ia, de facto, pelo menos proporcionar a hipótese de desenvolvimento do Ciclismo em algumas regiões europeias.

A leste da Polónia centrar-se-ia um desses círculos que reuniria os calendários polaco, bielorrusso, lituano, letão, estónio e, provavelmente o ucraniano.
A Alemanha seria o centro de um outro círculo que englobaria Áustria, Rep. Checa, Suíça e o Benelux.
A região dos balcãs teria o seu próprio círculo, tal como a Escandinávia e as Ilhas Britânicas. Itália e França têm equipas e provas suficientes para constituírem círculos e restava a península Ibérica onde se conjugaram os calendários de Espanha e Portugal.
Gostei da ideia logo desde o início.

Isto foi pensado ainda no tempo das Divisões. As equipas da I Divisão tinham primazia num calendário pan-europeu que englobaria as Três Grandes e as provas que formavam a então Taça do Mundo.
Nos diversos calendários regionais haveria provas para as equipas da II Divisão, com possibilidade de convites a algumas da III Divisão e cada país manteria os seus calendários nacionais de forma a que pudessem continuar a existir as equipas de elite, semi-profissionais.
Cada equipa pontuava no seu escalão e, no final da temporada, haveria subidas e descidas.

Ora, isto vinha proporcionar, por um lado, muito maior competitividade, por outro a que a ilusão (no sentido espanhol da palavra, que é o de expectativa) aberta a qualquer equipa de que poderia, dentro das suas possibilidades, ir subindo na hierarquia. Foi o que aconteceu com a Maia, em 2002.

Uma boa temporada, traduzida em resultados, abriria a qualquer equipa as portas do escalão superior até chegar à I Divisão onde, por fim, poderia almejar em participar numa (ou mais do que uma) das Três Grandes. Sonho de qualquer Corredor ou Técnico e possibilidade a ser ponderadamente estudada por patrocinadores, tendo em vista o impacto que daí adviria em termos de Comunicação Social e, principalmente, da televisão.

E como é que as coisas funcionariam?
Simples. As corridas continuavam a ser divididas em categorias. As equipas da I Divisão corriam as Grandes Voltas (GV), a Taça do Mundo de Clássicas (TMC), as HC e as .1, organizando o calendário conforme melhor lhe conviesse; as da II Divisão só não podiam correr as GV e a TMC, e nas outras ficavam circunscritas ao respectivo calendário regional, tal como aconteceria com as da III Divisão que poderiam participar em todas as .3 (categoria que parece ter sido extinta), as .2 - por convite, se noutro país que não o seu – e as .1, estas apenas no seu respectivo país.

País periférico, sem hipóteses de escolha, Portugal – e a FPC – deveria ter feito alguma coisa para que esta ideia se tivesse sobreposto ao ProTour que, repito-me, só é uma realidade porque um punhado mal medido de pessoas viu nela a oportunidade de fazer dinheiro. Muito e rapidamente. Se calhar para refazer os cofres da UCI que terão ficado minguados com o dinheirão que custou a faraónica sede construída em Aigle.

Mas voltando ao que interessa, quer dizer que não íamos ter mais equipas italianas em Portugal (sem ser na Volta), nem holandesas ou belgas? Ou japonesas? Nas corridas abaixo da categoria .2 não. E qual era o mal?
Nas .1 (que haveríamos de ficar com algumas, mesmo que houvesse uma reestruturação – actualmente temos 6) podiam vir as da I Divisão, aquelas que mesmo em Portugal têm adeptos e nas quais correm as principais figuras do pelotão internacional.

E a partir do próximo artigo chego, finalmente, ao que é apenas a minha (humilde) proposta para a reorganização do Ciclismo em Portugal. Como as coisas estão – ProTour – não vejo saída, mas reorganizado o Ciclismo como atrás deixei exposto e que não é ideia minha – repito: era o que se falava antes de a avalanche ProTour ter varrido tudo – então tudo se tornaria mais fácil. Como irei tentar explicar.


(Só mais à noite)

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