sábado, dezembro 30, 2006

375.ª etapa



NÃO DEIXEMOS QUE A ÁRVORE
ENCUBRA A FLORESTA

Na hora de esboçar um balanço à temporada velocipédica de 2006, adivinho que muitos não resistirão em pautá-la pelos acontecimentos da chamada Operação Puerto. Temos, gentes do Ciclismo, uma estranha e inexplicável atracção pelo negativismo.

Aos que me disserem que 2006 ficou marcado pela Operação Puerto retorquirei que não.
Que ficou marcado pela enorme vitória de Ivan Basso, no Giro, depois de ter feito uma corrida a fazer-nos recordar as vitórias dos grandes campeões do antigamente; ficará marcado também pela desqualificação de Floyd Landis, no Tour. O que aconteceu pela primeira vez na história da Grande Boucle cuja organização também será recordada pela hipocrisia ao fechar as portas aos principais nomes da actualidade.
Embora na altura ainda se acreditasse que, a sequência da mesma Operação Puerto muito sangue seria derramado. Passe o mau gosto da expressão.

Ficou marcado pela extraordinária demonstração de força de Alexander Vinokourov, na Vuelta. Dele e de quase toda a equipa da Astana - que havia sido impedida de correr o Tour - com o Sérgio Paulinho entre os melhores.

O ano de 2006 fica marcado pela regularidade de um Alexandre Valverde ainda um pouco curto, para as corridas de três semanas, mas vencedor do ranking UCI-ProTour.
Fica marcado pelo justíssimo triunfo de Paolo Bettini que, finalmente, se sagrou Campeão do Mundo.

E 2006 – espero eu – poderá vir a ser recordado como o ano em que, pondo os interesses do Ciclismo, em geral, à frente de outros bem mais particulares, se começou a redesenhar um mapa da modalidade, mais justo e que permita uma verdadeira evolução na continuidade. Enterrando-se de vez este modelo do ProTour que, mal nascido, está a arrastar o Ciclismo para um abismo de onde será muito difícil sair-se.

E, claro, há a Operação Puerto.

Notem onde eu a coloco num escalonamento, por importância, dos acontecimentos do ano.

Serviu para que, passando a ser argumento, se falasse de redes mais ou menos organizadas de fornecimento de produtos não recomendados e prestação de serviços em práticas médicas menos ortodoxas. Que todos sabiam que existem há muito em redor do Ciclismo, MAS NÃO SÓ, apesar de, quando o assunto foge para além do Ciclismo rapidamente ser abafado e, naturalmente, cair no esquecimento.

E vejo nisto um impressionante paralelismo com o sucedido com o livro da mais conhecida das alternadeiras cá do burgo. Só diz coisas que todos já sabiam mas, a partir do momento em que foi posto à venda, tornou possível que todos dissessem o que já sabiam mas sempre preferiram calar, usando o muito conveniente segundo o livro da senhora


(Claro que não me esqueci que 2006 foi o ano zero, pós-Lance Armstrong!)

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