Começa amanhã a 95.ª edição do Tour.
Nos últimos treze anos este vai ser apenas o terceiro sem portugueses.
Recuemos até 1996 e encontramos o Orlando Rodrigues, então na espanhola Banesto, que fez ainda os de 1997, 1998 e 2000.
Em 1999 aconteceu a primeira falha.
Em 2001 também não tivemos ninguém e França, mas de 2002 a 2006 fomos superiormente representados pelo José Azevedo, primeiro na espanhola ONCE, depois na equipa de Armstrong, que começou por ser US Postal, e depois mudou o nome para Discovery Channel.
Nestas cinco presenças consecutivas, José Azevedo, agora no Benfica – curiosamente, treinado pelo Orlando Rodrigues -, conseguiu um 6.º lugar, logo no ano de estreia, e um 5.º, em 2004.
O ano passado estivemos representados pelo Sérgio Paulinho (Discovery Channel).
Este ano até o meio-português (uma força de expressão) Carlos da Cruz já não alinha por ter posto fim à carreira. Mas há um luso-falante: o brasileiro Murilo Fischer (pelo apelido quem havia de dizer!...) que, cumprindo-se a lista dos pré-inscritos, estará à saída de Brest com a camisola esverdeada da italiana Liquigas.
Só outra achega.
Não tenho nada contra a globalização - ou tenho? às vezes confundo-me -, de qualquer modo, não tenho mesmo nada contra a livre circulação e direito ao desempenho da sua profissão por parte de qualquer cidadão, de qualquer país, de qualquer parte do Mundo, mas não deixo de aqui saudar a política da Euskaltel-Euskadi que não alinha com nove espanhóis, mas com NOVE bascos.
A base da equipa, dizendo-o de forma correcta, a entidade pagadora - aqui no sentido de instituição com responsabilidade juridico-empresarial - que começou por ser um clube (foi, durante muitos anos, o único clube de Ciclismo no Mundo, com associados que pagavam as suas quotas), entretanto evoluiu para uma Fundação.
Não sei se em Espanha as fundações também merecem um tratamento fiscal diferenciado, como acontece em Portugal onde, qualquer cão ou gato cria uma fundação que não é mais do que uma empresa vulgar... só que com apelativos benefícios fiscais.
Curiosamente, há cerca de três ou quatro anos - quando apareceu o ProTour e eu ainda acreditava que podia estar ali a solução para o Ciclismo profissional - tive a oportunidade de falar pessoalmente com o doutor Artur Moreira Lopes sobre esta situação e perguntar-lhe até que ponto a FPC não poderia "patrocionar" uma fundação - e tinha mesmo o nome, seria a Fundação Joaquim Agostinho - que, com as devidas compensações às diversas equipas, formasse uma espécie de Selecção Nacional com os melhores Corredores lusos (dois ou três líderes, um ou dois sprinters e um forte bloco de "operários"), equipa essa que inscreveríamos então no Protour.
Sendo uma Fundação, os patrocinadores passavam a mecenas e também eles retirariam dividendos fiscais dessa situação.
E lembro-me perfeitamente de o doutor Artur Moreira Lopes me ter dito que era uma ideia excelente e que merecia a pena ponderá-la.
Modéstia à parte, eu acho que continua a ser uma ideia... engraçada.
Seria uma equipa para participar só no calendário ProTour - ressalvo que nessa altura eu ainda acreditava no ProTour - e para a formar juntando os melhores, teria que se arranjar uma forma de compensar, financeiramente, claro, as equipas às quais se iam buscar esses corredores.
As vantagens para o Ciclismo português, para mim, não deixavam lugar a discussão.
Quanto mais visível fosse o nosso Ciclismo além fronteiras, mais fácil seria consolidá-lo intramuros porque a CS lhe daria uma muito maior cobertura.
E haveria uma espécie de renovação anual.
Da Equipa Nacional sairiam os mais velhos e os que menos bem tivessem estado durante a temporada, abrindo vagas para os que, internamente se tivesem destacado mais, sendo que, tendo um objectivo concreto - que seria o de chegar à Equipa Nacional - isso motivaria os que Corredores que corriam apenas nas provas nacionais.
E o nome também tinha uma explicação óbvia: Joaquim Agostinho, apesar de o homem ter falecido há já 24 anos, é um nome que ainda é lembrado e respeitado no Mundo do Ciclismo.
Joaquim Agostinho-Turismo de Portugal; Joaquim Agostinho-edp; Joaquim Agostinho-Sonae; Joaquim Agostinho-Sagres ou Joaquim Agostinho-Super Bock (eu sei que não se pode fazer publicidade a bebidas alcoolicas, mas entretanto foi inventada a miraculosa designação... zero, e ela já andou no pelotão)... nem precisava do nome Portugal para todos saberem que era uma equipa portuguesa...
Falei nisso ao doutor Artur Moreira Lopes.
Na altura disse-me que era uma ideia interessantíssima.
Depois esqueceu-a.
Hoje as suas preocupações assentam noutros objectivos.
Haja quem lhe atire a primeira pedra, que eu não serei.
A carreira de cirurgião está no fim, por motivos de idade... gosta de Ciclismo, não poderá recandidatar-se ao cadeirão da Rua de Campolide... resta-lhe mostrar algum serviço para - e não lhe será nada difícil cumprir esse designio - ganhar um lugar num gabinete em Aigle. Repito: haja quem lhe atire a primeira pedra.
Eu não serei, de certeza.
Mas já agora aqui fica este artigo para que TODOS SAIBAM, vindo um dia - que me dera, quem nos dera - em que a ideia seja aproveitada, todos saibam que essa ideia fui eu quem a teve.
Porque sempre, até hoje, e não pretendo mudar de atitude, quando se trata de Ciclismo acho que, quem realmente gosta dele, tem que o pensar pela positiva.
É obrigado a ter ideias e a tentar ajudar.
É que não faltará nunca quem esteja desejoso de lhe por o pé no pescoço e pisar até o sufocar. Não precisam ser os de "dentro de casa" a fazê-lo.
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