domingo, julho 06, 2008

II - Etapa 125

FLASHES

1. Um dos dias das minhas folgas semanais é inteiramente dedicado – e sou obrigado a rever muita coisa en passent – a por em ordem o monte de jornais que acumulo ao longo dos seis dias entre-folgas. Guardo as folhas, em papel (melhor seria dizer, amontou), salvo algumas coisas no PC, scannando-as, naquilo que mais me interessa, que é o que vai sendo publicado sobre o Ciclismo.

2. Aplaudo daqui a opção editorial de O JOGO que, pela pena do meu caro João Araújo, lançou esta edição do Tour recordando Marco Pantani. Em nome – e muito legitimamente – daquilo que todos querem, que muitos exigem, que é o espectáculo. Sem hipocrisias, nem rancores, omitindo – mas com todo o a propósito – as zonas de sombra, na vida do italiano.

3. É verdade que até eu sou adepto dos números redondos e faz agora dez anos que eclodiu o caso-Festina. É história e ninguém pode fugir à história. Ainda bem que o jornal que o recordou o fez em espaço separado, aliviando, assim, qualquer carga menos positiva em relação à corrida deste ano.

4. Façamos o pleno dos jornais desportivos. “Tour à margem da Lei” até pode ser um título apelativo, é-o, certamente, mas dado assim à estampa, sem o necessário enquadramento – pelo menos junto dos que mais próximos estão da modalidade – soa a sensacionalismo.

Não gostei!

5. Estando de folga, tive a oportunidade de ficar quietinho, a olhar para o receptor de televisão vendo as duas primeiras etapas do Tour. E fazendo zapping, entre os canais 8 e 24 da TV Cabo. Sem querer aqui ferir susceptibilidades, continua a haver diferenças abissais entre um e outro.

6. No 24, o estilo – que pode até ser mais acessível, principalmente aos mais jovens e menos informados – tende a centrar-se no óbvio. Apesar do valor acrescentado dos comentários (que têm vindo a melhorar, reconheça-mo-lo), estes caiem demasiadas vezes numa certa desresponsabilização em relação a um papel do qual não deveriam os seus responsáveis abster-se: o da formação dos espectadores que, gostando de Ciclismo, no fundo, não sabem bem o que é o Ciclismo.

7. É evidente que a postura muito mais formal – sem que eu, sinceramente, a ache… chata – do canal 8 pode afastar espectadores. Não aqueles que de facto sabem alguma coisa de Ciclismo e que querem saber mais ainda. E lá temos o Marco Chagas ao seu nível de sempre, desta feita coadjuvado pelo Alexandre Santos que, é a minha opinião, mesmo que aparecendo aqui apenas porque o João Pedro Mendonça estará de férias porque daqui a um mês estará em Pequim, nos Jogos Olímpicos, enriquece a narração com novos termos e a mesma seriedade.

8. Ontem, durante a primeira etapa, o Marco alargou-se nos considerandos sobre o facto de a ASO se ter livrado das grilhetas da UCI. Senti – posso estar enganado, mas foi o que senti – que isso não será totalmente do seu agrado. Respeito a sua opinião. Mas foi a UCI que desencadeou esta “guerra” que, inevitavelmente, vai perder.

A não ser que arrepie, o mais depressa possível, o seu caminho.

9. Todos sabemos que a UCI, conjuntamente com mais meia dúzia de figuras, a título individual ou pretensamente representativa de interesses colectivos, avançou antes do tempo para a figura do ProTour, e avançou de forma completamente cega, pretendendo assenhorear-se do bolo, em termos financeiros, que é proporcionado pelo Ciclismo.

10. Far-me-ão o favor de reconhecer de já aqui, no VeloLuso, o ter escrito, e por mais de uma vez. O futuro do Ciclismo espectáculo – que é, afinal de contas, o que o público exige – passa inevitavelmente por uma cisão entre os grandes organizadores, que neste momento já só são dois, a RCS e a ASO que, ao adquirir 49% da espanhola Unipublic tem já um poder real que reduz a UCI a mera parceira… se for para isso convidada.

11. Também não compete à UCI, como não compete às federações nacionais, a tarefa de organizar corridas. Serão é sempre o chapéu sob o qual os diversos organizadores privados terão que se abrigar. E pagar por isso. A tentativa, por parte da UCI de se apropriar dos lucros do trabalho levado a cabo por terceiros não poderia ter grande futuro.

12. A eventual tentativa de retaliação da UCI – que o não vai fazer – responderia a ASO mais a RCS, e depois outras organizações pela Europa fora, com uma sesseção que mataria pura e simplesmente aquela, que ficaria apenas responsável pelos Campeonatos do Mundo.

13. Os exemplos das ligas norte-americanas de basquetebol, basebol, hóquei no gelo e no “seu” futebol – que existem há cerca de 50 anos -, independentes das federações em que reúnem as mesmas disciplinas ao nível não profissional, mais dia, menos dias serão copiadas na Europa.

14. Só a titulo de exemplo… sendo que já é significativo o número de clubes-empresa (falo do futebol), cotados em bolsa, com administrações profissionais e que, como empresas que são, visam o lucro, quem - ou como - os poderá impedir de avançar para a realização de uma Liga Europeia que dará (nem que fosse só isso) os mesmos lucros, sendo que não terão que os repartir com os senhores da UEFA que mais não fazem que ficar sentados e contabilizar dividendos, a partir do trabalho e da imagem de outros?

15. E porque é que o Ciclismo há-de ser diferente?

16. Disputaram-se há oito dias os Campeonatos Nacionais de estrada. Sérgio Paulinho (no crono) e João Cabreira (na prova de fundo) são os novos campeões nacionais. Foi fraquinha a disponibilidade da CS, principalmente da escrita, para com este evento que leva a etiqueta de… Campeonato Nacional.

Que decide os Campeões nacionais.

17. O que mais se notou, sendo que houve quem o tivesse feito, logo, está de fora desta… crítica, foi a indisponibilidade dos OSC para honrar os novos campeões com o mínimo espaço considerável honroso em relação a um Campeão Nacional.

18. Os novos campeões são – porque será que não vi, em jornal nenhum, a lista completa dos campeões por esse Mundo fora? Era normal isso acontecer (nem imaginam o espaço que estão a perder para os sítios on-line!...) -, dizia, os novos campeões são o Sérgio Paulinho, no crono, e o João Cabreira, na corrida de fundo.

João Cabreira que mostrou, para além da raça, da capacidade de sofrimento (afinal de contas, aquilo que é a massa de que é feito um Campeão), ainda a coragem de se chegar à frente e dar à sua equipa um protagonismo que estão a tentar roubar-lhe nos esconsos corredores do poder.

19. É completamente inaceitável que, sem culpa formada, haja neste momento um técnico, um massagista e cinco corredores impedidos de exercer a sua profissão. Se a federação acha que tem elementos suficientes para os castigar, que faça disso prova, que deixe que a Comissão Disciplinar dite a sua justiça e, então sim, que os apartam dos outros.

20. É evidente que se a federação tivesse provas que sustentassem esta posição já as teria tornado públicas.

21. Com a amputação da equipa – que é passível de recurso, mas que a FPC sabe não pode transitar em julgado em tempo útil – fica a descoberto o verdadeiro objectivo que vingou neste caso: o impedimento de a LA-MSS fazer a Volta a Portugal.

E aqui vai ser preciso ter muito tacto para avançar com acusações.
Não esperem que eu cometa suicídio. Mas não contem com o ovo no cú da galinha.
O que chegar ao meu conhecimento será aqui exposto.
E quem me lê que tire as suas conclusões.

22. Tal como ficou documentado, dois artigos atrás deste, a equipa da Póvoa de Varzim continua, como sempre o fez, a treinar duramente. Mantém a esperança de que caia, sobre a cabeça de quem tem responsabilidades, um sinal, diria… divino, de que estão a proceder mal. E que a sua presença na Volta ainda venha a ser possível.

23. Aliás, e sem querer abrir polémicas, sendo que a Volta é organizada pelo principal patrocinador de uma das principais equipas, rival da da Póvoa, eu no seu lugar faria questão que esta estivesse presente.
Honny soit qui mal y pense!...

24. Esteja ou não, directamente envolvida nesta atitude estalinista por parte da FPC – e peço aqui, ao patrocinador que teve a elevação de me contactar e de discutir comigo incidentes anteriores, que o faça de novo se tiver alguma dúvida, porque se lhe escapam alguns pormenores desta guerra – há outra equipa que beneficiará do afastamento da formação da Póvoa.

25. Que equipa?

Dêem-me só esta chance:
Saragoça… Ano 2000!

26. Quanto àquela que é patrocinada pelo organizador da Volta… :-X

27. Acho engraçado que, num conhecido sítio da internet, alguém tenha vindo a defender que, se está inocente, a equipa da Póvoa o prove (não sei como será que essa pessoa antevê a produção de prova) mas que não entre, cito, “por vias jurídicas, blá, blá, blá, blá…”
Eu sei exactamente ao que se refere.

É àquilo que eu aqui ressalvei.
A tal legislação que (está quase, quase, quase a sair!... porque entraste neste jogo, companheiro?) não existe ainda e jamais será aplicável rectroactivamente.
Um tribunal comum não pode penalizar ninguém por posse ou uso de produtos considerados dopantes; e o organismo disciplinar da federação não pode aproveitar-se das provas conseguidas pelas polícias.
Chorem a baba e o ranho que quiserem!

As Leis estão feitas e cada um é livre para as usar em sua defesa!

28. Neste momento estamos na mesma. Não há bases sobre as quais sustentar o impedimento que querem impôr à LA-MSS.

Vem aí o Troféu Joaquim Agostinho, o maior vulto do Ciclismo nacional.
Que, por acaso, ganhou cinco voltas mas de cujo palmarés só constam três.
Ainda hoje todos os apaniguados do Ciclismo clamam pela ilibação do Grande Campeão nas duas Voltas que lhe foram “roubadas”.
Seria uma prova indelével, de que acreditam mais no boato do que na verdade – o que iria contra a imagem do próprio Joaquim Agostinho, que todos queremos preservar -, se, por birra, seja lá de quem for, a LA-MSS não for convidada.
Ainda que só possa apresentar sete corredores.
E o Francisco Manuel Fernandes, sucessor lógico do doutor Artur Moreira Lopes como presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo, homem de Bem, como o tenho em conta, não permitirá que se cometa tal injustiça.

Ou vai permitir?

[Editado na 2.ª feira, após oportuna chamada de atenção (está nos Comentários ) por parte do André Silva, em relação à minha confusão entre Alexandres... na RTP. Está rectificado]

5 comentários:

André Silva disse...

Manel,só uma achega. (o seu a seu dono).

Dizes neste artigo a dada altura no ponto 7 "desta feita coadjuvado pelo Alexandre Albuquerque que, é a minha opinião, mesmo que aparecendo aqui apenas porque o João Pedro Mendonça estará de férias para depois fazer a Volta".

Trata-se do Alexandre SANTOS, homem que já tem umas quantas "Voltas" no CV pela RR e a do ano passado pela RTP. É uma referência para mim e sinto-me orgulhoso por ter o Alex como amigo.

Só mais esta em primeira-mão. O João Pedro não está de férias por causa da Volta. Este ano vamos ter o JP nos Jogos Olímpicos de Pequim e é o Alex que vai ter a responsabilidade na narração das etapas da Volta. Um desafio que vai vencer porque o "puto" é grande!

Abraço,
André Silva

Biarnes disse...

Ao final, o LA MSS vai o nao vai particpar no Trofeo Joaquim Agostinho ?

So faltam dos dias !! e nao se sabe nada !

aamorim disse...

Segundo a imprensa diária (A Bola), a LA MSS não participa no Troféu Joaquim Agostinho.

Biarnes disse...

Obrigado Antonio !

RuiQ disse...

Já que falaram disto aqui, aproveito.

Nos últimos anos gostei bastante dos comentários da RTP (1 ou N, dependendo do caso), mas hoje, depois de um fim-de-semana fora e sem poder ver o Tour, fui surpreendido... pela positiva, claro. Não tenho nada a apontar contra os comentários dos últimos anos, antes pelo contrário, mas pareceu-me haver uma relevante melhoria.

A dupla de apresentadores funcionou muito bem, com comentários do príncipio ao fim da transmissão, sem erros a apontar, com respostas a perguntas frequentes sem que fosse preciso alguém as estar a fazer (para mim, uma imagem de marca dos comentários RTP) e acima de tudo com uma leitura de corrida que na minha opinião não está ao alcance de outro jornalista/comentador. Com todo o respeito para todos aqueles que o merecem (e são muitos), o Marco Chagas é neste momento quem melhor sabe ver a corrida. Não só entende a liguagem do pelotão como entende a liguagem dos campeões.

Só tenho pena de uma coisa, e estou quase certo que o Manuel e muitos mais também: só termos direito a Tour, Volta e Jogos Olímpicos de 4 em 4 anos, mas disso não tem culpa o João Pedro Mendonça, o Marco Chagas nem o Alexandre Santos.