segunda-feira, julho 28, 2008

II - Etapa 164

O COPO ESTÁ MEIO CHEIO...
OU MEIO VAZIO?

É um dos aforismos mais conhecidos e é usado para explicar a diferença entre um optimista e um pessimista. Aquele é o que ainda vê o copo meio cheio, o outro o que já o vê meio vazio.

Numa altura em que engrossa o pelotão dos que vêem o Ciclismo como... o copo meio vazio, e sobre isso derramam alquevas de lágrimas de crocodilo antevendo o apocalipse como inevitável, tudo isto, ao mesmo tempo que, a pouco e pouco, vão cavando um pouco mais fundo a cova onde, afinal de contas, querem é mesmo enterrar a modalidade porque o que os move não é o futuro do Ciclismo, mas sim verem, à viva força, confirmados o seu pessimismo e profundas dúvidas existenciais, só para um dia, que desejam aconteça o mais depressa possível, poderem, de sorriso no rosto, dizer: eu tinha razão!...

Numa altura em que nem a Imprensa Desportiva - incluindo a "especializada" - move uma palha em defesa de uma das modalidades mais queridas pelas gentes do Povo, povo que, apesar de tudo, continua a acorrer à beira das estradas para ver passar a Corrida...

Nesta mesma altura sou surpreendido com este trabalho feito pelo Diário de Notícias e dado à estampa ontem, sábado, dia 26 (ok... há dois dias, porque já é segunda-feira!).

Quando - e lá vem outro aforismo... - um tipo está caído no chão, todos aproveitam para lhe dar pontapés. Mesmo o que nada têm contra ele. Mesmo que dele nada saibam.
E os até lhe devem alguma coisa, se não dão o tal pontapezinho, também não lhe estendem a mão e o ajudam a levantar.

Não há mais batota no Ciclismo do que em qualquer outra modalidade desportiva.
E na vida, na nossa vida, de simples cidadãos, trabalhadores, contribuintes com os impostos em dia... também não há quem faça uma trafulhicezinha?
Ai não que não há!...

O Ciclismo de hoje só é diferente do Ciclismo de há 20 anos, como as casas de hoje são diferentes das casas de há 20 anos, ou os carros de hoje são diferentes dos carros de há 20 anos.
Como a nossa vida é diferente da vida dos nossos pais há... 20 anos.

É bem mais vistoso, veste-se melhor, tem bicicletas melhores, carrinhos melhores...
Como qualquer cidadão comum.

Mas, apesar da nova e mais sofisticada imagem, algures, sempre meio escondidos - porque não há defeito que se consiga esconder completamente - mantém exactamente alguns dos seus defeitos.

Embora haja quem pense - e disso se tenha convencido - que o problema do doping no Ciclismo surgiu em 1998, na bagageira do carro de um auxiliar da equipa técnica da Festina.

E como de Ciclismo sabem pouco - sabem muitos nomes, muitos currículos, mas isso, hoje em dia, com a Internet vulgarizada, é simples de se saber - e gostam de se ouvir, ou de se ler, resta-lhes transcrever aquilo que vão lendo, aqui e ali. Fazendo deles a opinião que outros emitiram.
De Ciclismo não sabem nada. A não ser o trivial.

Mas afastei-me do propósito deste artigo...
Retomemos o trilho.

Numa altura - e refiro-me concretamente ao Ciclismo português - em que, a alguns e não são tão poucos quanto vocês julgam saber, a memória não devia falhar e podiam fazer o que se faz, por exemplo, no futebol (vocês sabem do que estou a falar...) e mostrar a quem não está por dentro como é dura a vida de um Corredor profissional, como tem de passar meio ano longe da família, de hotel em hotel, como tem que cerrar os dentes quando o asfalto lhes rouba fatias de pele e nacos de carne, quando, quer faça sol ou chuva, às sete da manhã já estão na estrada e todos os dias pedalam uma centena de quilómetros expostos a todos os perigos que as nossas estradas oferecem, acrescidos do facto de rodarem numa frágil bicicleta...

... quando querem, à viva força justificar que, um cidadão, só porque escolheu como profissão o ser Ciclista, só tem é que se sujeitar a toda uma torpe vaga de medidas que eles próprios jamais aceitariam, que sabem serem, para além de humilhantes, feridas de ilegalidades, mas não deixam de defender a sua aplicação... aos Ciclistas em nome de uma apregoada verdade desportiva que, de facto, não fazem a mínima ideia do que seja...

... quando exigem espectáculo e num dia entronizam um qualquer Landis ou Riccò, para, no seguinte, e descobrindo-se que haviam feito batota - corrijo: haviam sido apanhados na batota, porque batota.... quem é que sabe quem faz? Só se sabe dos que são apanhados! (*) - se apressam a tratá-los como criminosos, mostrando claramente que não percebem nada, mesmo nada de Ciclismo, não sabem e nunca hão-de saber, essa gente diz-se adepta da modalidade; amiga de uma centena de Corredores; que são tú-cá-tú-lá com uma dezena de técnicos; que falam todos os dias com meia dúzia de jornalistas... "especializados".
Pois!...

E continuo a fugir ao assunto que motivou este artigo!...
Mas antes de lá ir, deixem-me explicar aquele (*) que deixei ali atrás:

Não tenho o mínimo problema em falar aqui do "caso" LA-MSS-Póvoa de Varzim, muito menos de dizer, sublinhando-o, o seguinte...

... se o senhor presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo, quando posto ao corrente - e foi avisado disso - da denúncia que levou à intervenção da Policia Judiciária junto da equipa da Póvoa, pensasse, realmente pensasse que estava na hora de cortar a direito, no que ao doping diz respeito, ele, que é membro do Comité Olímpico de Portugal, membro da Comissão Nacional Anti-dopagem, só tinha que fazer uma coisa: aceitando aquele denúncia como credível, e sendo um homem ligado ao Ciclismo há mais de 30 anos, tendo sido dirigente de um clube (o Lousa), médico de um outro (o Sporting, de Joaquim Agostinho, duas vezes desqualificado por doping após ter ganho a Volta a Portugal) só tinha que ter tido uma atitude: concerte-se a coisa e façamo-la por inteiro;
não pode ser em Junho... pois que seja em Julho, ou Agosto - se tivesse coragem para isso, fá-lo-ia em plena Volta a Portugal, mas a operação haveria de abranger todas as equipas, ao mesmo tempo, para que nenhuma tivesse oportunidade de fazer desaparecer provas incriminatórias.

Aí, sim! A isso eu chamaria uma Operação de Limpeza ao Pelotão Nacional.

Perante o que estamos a assistir, mantenho a minha opinião de que se trata apenas de uma perseguição perfeitamente direccionada e com objectivos por demais concretos: acabar com a equipa da Póvoa; mais... assassinar desportivamente o Manuel Zeferino.
E, finalmente, entro no tema do artigo.

Fiquei surpreendido, repeti-me, por, numa altura em que, na sequência de uma operação claramente persecutória, houve quem tivesse aproveitado para - sabendo que a equipa em causa era apenas vítima de uma vingança e, mais dia, menos dia, hei-de saber por parte de quem e nesse mesmo dia o denunciarei aqui - dar uns valentes pontapés a alguém que tinha sido, traiçoeiramente atirado ao chão e, pior ainda, houve quem, sabendo de tudo não tenha tido a verticalidade de estender a mão para ajudar aquele grupo de Homens Bons a levantar-se.

E do muito que poderia ter sido feito, e como já referi, o mais óbvio seria - foi-o, tanto que houve quem o fez - não branquear a imagem do Ciclismo, mas não ignorar que, apesar de todos os defeitos que possa ter, ainda lhe restam algumas virtudes.

Fê-lo, na sua edição do passado sábado o Diário de Notícias, pela pena do Jornalista José Pedro Gomes. Que não conheço pessoalmente. Aliás, confesso, que não conheço de todo. Com este nome e ele que me perdoe só conheço o actor.

Jornais e Jornalistas, nem que apenas por omissão, e falsos adeptos da modalidade pintaram, ou contribuíram para isso, um quadro totalmente negro do Ciclismo. O que, aliás fazem sempre que surge um caso de doping.

Até o senhor presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo, ao dizer, nesse mesmo trabalho, que, cito: «... a crise que o País atravessa, em termos económicos, e os recentes casos de doping também não ajudam.»

Isto está escrito na coluna mais à direita (maldadezinha, o homem até é de Esquerda!) da Página 13 - e creio que poderão ler o documento que publico, se o "salvarem" para os vossos PC e depois aumentarem a foto - do DN do passado sábado, dia 26 de Julho de 2008.

Que casos de doping, senhor presidente?

É que nós - simples adeptos - não sabemos de nenhum caso recente de doping...
Sabemos de dois corredores alvo de processos disciplinares - dos quais recorreram, aliás - mas por não estarem no local que indicaram onde poderiam ser encontrados. E não sabemos ainda se as suas justificações - que, parece, não convenceram o Conselho de Disciplina da FPC, e que o Conselho Jurisdicional parece não querer aceitar também - não possam vir ser aceites num tribunal comum, ao qual, tanto quanto julgo saber, recorrerão se os órgãos Disciplinares da FPC teimarem na sua cegueira.

Recentes casos de doping, senhor presidente?
Eu sei que não nos lo revelará, não depois de ter sido penalizado já com uma multa pela Comissão Nacional de Protecção de Dados Pessoais, e quando corre o risco de a ver actuar mais uma vez...
Mas o senhor presidente é taxativo: "recentes casos de doping"... hei-de descobrir.

(Já tinha que pôr o despertador para acordar, agora tenho que o pôr também para me ir deitar e ele já tocou...)

Acabemos...
Numa altura em que parece que a maioria, olhando para o Ciclismo só vê um copo tristemente meio vazio, ainda há quem, com um sorriso e uma boa dose e optimismo, afinal, veja o mesmo copo ainda meio cheio.

Quem?
Ora quem!... Ninguém de importância nesta temática.
Apenas... os patrocinadores.
Afinal de contas, quem permite manter um pelotão profissional na estrada?
Não, não são nem os adeptos, nem os Jornalistas, nem os Jornais, nem os "comentadores" de cátedra... são mesmo as empresas que investem nele.

E foi preciso que o Diário de Notícias, um generalista, descobrisse essa cacha!
É que ninguém mesmo jamais iria perceber isso... ;-)
Uns porque devem favores, outros porque não vêem, outros porque não querem ver...
Quem gravita à volta do Ciclismo, quem melhor o conhece... numa altura em que ele precisava de uma mãozinha para se reerguer... ficou a ver, de longe.

Obrigado Diário de Notícias.
Obrigado José Pedro Gomes.

Não diz em lado nenhum que não há podres no Ciclismo, mas conseguiu fazer realçar uma faceta positiva. Daí os meus parabéns.
E, já agora, uma pontinha de inveja. Queria ter sido eu a fazer esse trabalho.
.

Leitor amigo e atento, comunicou-me que não se consegue ler o artigo. É natural, teve que ser muito reduzido. São as centrais do jornal. Mas esse mesmo amigo enviou-me o link para a notícia na versão electrónica do DN. Só que não estão lá as peças todas... mas podem ler aqui.

3 comentários:

aamorim disse...

Não li o artigo na edição em papel, mas sim a edição on-line do DN, embora imcompleta (não tem a "entrevista" com o Presidente da FPC).
De onde menos se esperava, ou talvez não, um jornal generalista apresenta aquele trabalho em prol da modalidade.
No reverso da medalha, uma revista da especialidade (Bike Magazine) tem no seu editorial (e sob a responsabilidade do seu director) a seguinte afirmação:
"... Recentemente foi Tom Boonen, que acusou cocaina, ainda que fora da competição. Por cá temos o caso da LA MSS, UMA EQUIPA QUE MAIS PARECE UM LABORATÓRIO e que, para mal do ciclismo, andou nos media nacionais durente uns dias..."
Sem comentários! Porque também não os merece!
Parabéns ao DN pelo trabalho realizado.
Quanto à outra revista, prefiro nem comentar. Teria que baixar muito o nível deste blogue!
Cumprimentos

Paulo Sousa disse...

Pelo muito pouco que sei sobre a Bike Magazine ela é especializada nas várias vertentes do BTT.

Será esse (o do doping) que a esmagadora maioria dos organizadores preferem fazer as corridas piratas e ilegais?

É que assim não há controlos anti-dopagem.

aamorim disse...

Poia é, Caro Paulao.
Também eu, que faço muita estrada, gosto de fazer umas maratonas de BTT. Este ano ainda só pude fazer 5 ou 6! E o nível dos participantes é incrível, com grandes meios e grandes apoios. E o nível de andamentos é fantástico. Há quem faça médias incriveis.
Todos os fins de semana faço em média 110/120 Kms em estrada, normalmente com médias superiores a 30 km/h e com muita serra (volta a Castelo de Paiva, Serra da Freita, Senhora da Graça, etc.). Mas no BTT, em maratonas de 75/80 Kms, por muito que me esforçe, levo sempre 2 horas no mínimo!!!
Mas, contínuo a gostar de participar e conto fazer este ano pelo menos mais 4 ou 5 maratonas. Apenas pelo prazer de participar e de dar o litro.
Mas que é um meio com andamentos muito estranhos, lá isso é!
Abraço.