terça-feira, julho 29, 2008

II - Etapa 165

O MAL DE NÃO CONSEGUIR
FAZER-ME ENTENDER


O que eu, de há dois anos e meio, a esta parte, neste mesmo espaço - e num outro sítio onde, entretanto, foram censuradas/vetadas as minhas opiniões - tentei e, pelos vistos, falhei redundamente, foi argumentar contra a inexplicável tendência para o suicídio por parte dos - dizem-se - amantes do Ciclismo sempre que há um caso de doping.

E fi-lo, tantas vezes, mais com o coração do que com a cabeça, que as minhas intervenções chegaram a ser contraproducentes.

doping - eu creio que o termo, hoje em dia, já nem deveria ser empregue - em todas as modalidades desportivas mas só os adeptos do Ciclismo se mostram profundamente fundamentalistas, tomando, inclusive, posições, quase diria... dementes, onde nem falta (quase nunca falta) uma irreprimível - da sua parte - vontade de ver cabeças a rolar, corpos a arder em piras de fogo, homens vestidos de laranja fluorescente e, se possível, com grilhetas nos pés e nas mãos, como em Guantanamo, mesmo sem culpa formada.

Apesar de poderem achar que não, a verdade é que, multiplicando estas posições tão radicais e elevando-as à escala mundial - lembro a decisão drástica do fecho puro e simples de um dos sites mais bem conseguidos que havia sobre ciclismo, o Cycling4all - que até eu sou levado a acreditar que as autoridades desportivas se sintam pressionadas.

Mas há doping em todas as modalidades. O que não acontece em mais nenhuma é os seus adeptos parecerem todos descendentes directos da Inquisição. Bastardos, portanto, e não reconhecidos, uma vez que aos padres não é permitido casarem, ou terem filhos.

Como o professor Rómulo de Carvalho, um homem de ciências, recordo, de físico-químicas, escreveu: o Mundo pula e avança...
Sem tanto estardalhaço, provavelmente as autoridades competentes até já teriam, porque bem fundamentado, um plano exequível para, a pouco e pouco, se ir erradicando o doping do Desporto.

Mas ante uma turba de cabeça perdida, a tentação é a de apresentar resultados o mais depressa possível. E isso leva a alguns exageros.

O problema é que este... problema é global.
Leio, por dia, e numa média assim calculada à "lagardére", à volta de 250 telegramas repartidos pela Lusa e France Press, as duas agências com as quais o meu jornal tem contrato.
Nove em cada dez notícias sobre doping estão relacionadas com o Ciclismo. O aproveitamento, por parte dos jornais - não só o meu, todos - dessas notícias de doping no Ciclismo rondará os 100 por cento.

Provavelmente isto mereceria ser tema de estudo.
Como ser pensante que sou, tenho a minha própria teoria, mas vou poupar-vos. Agora.

Fiquei felicíssimo ao ver aquele artigo no Diário de Notícias.
O jornal só fala de Ciclismo por alturas da Volta a Portugal. Todas (ou quase todas) as outras corridas lhe passam ao lado.
E, precisamente num momento conturbado da vida do nosso Ciclismo, quando é raro o jornal que não aproveitou e "pintou" de cores mais ou menos garridas, o "caso LA-MSS" - que não produziu ainda prova nenhuma, passado este tempo todo - no Diário de Notícias alguém, o director, um editor, talvez a proposta de trabalho tenha vindo do próprio jornalista que o assina, mas teve de contar com a aprovação do respectivo editor, vem lembrar a todos que o Ciclismo não está morto, não pode morrer, porque continua a ser um extraordinário veículo publicitário.

E não está perdido.

Portanto, concedam-lhe algumas tréguas.
Deixem que as medidas que for preciso tomar o sejam de forma justa.

Digam não ao absurdo que é chamado de "justiça popular". Parem com os julgamentos na praça pública. Reconheçam o direito que todo o cidadão tem à presunção de inocência. Que devemos respeitar.

E... e nos casos provados, deixem de pedir a "execução" do culpado. Em termos profissionais, é evidente.

Caramba!, uma sociedade que vejo indiferente a situações gravíssimas como o é o do "caso-Casa Pia", que se está marimbando para o facto de pedófilos serem soltos ao fim de três semanas, que mostram um desinteresse total pelo chamado "crime de colarinho branco", mas se sabe de um caso de doping no Ciclismo, e só no Ciclismo, ulula ensurdecedoramente bramindo a pedir a "morte" (profissional) de alguém que um dia cometeu um erro...

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