sexta-feira, maio 02, 2008

II - Etapa 49

QUE CORRIDA! QUE ESPECTÁCULO!... QUE MESTRIA!
QUE VISÃO E CAPACIDADE DE ANTEVER A FORMA
COMO AS PEÇAS IRIAM MOVER-SE NO TABULEIRO!
QUE VITÓRIA PARA O MANEL ZEFERINO!...


Acredito piamente que todos os que hoje puderam assistir à 42.ª Subida al Naranco, e que percebem alguma coisa de Ciclismo, terão ficado – tal como eu – perfeitamente maravilhados.
Que Corrida! Que espectáculo!...
E, no meio de tudo isso, que demonstração perfeita de como se pode redesenhar uma corrida ao jeito que nos interessa.


Coisa só ao alcance de alguém que sabe muito de tácticas; que demonstra conhecer perfeitamente os adversários; a estrada, essa conhece-a bem, mas se esse facto ajuda, por si só não pode resolver nada.

O que resolve, e ficou demonstrado, é saber exactamente, aonde, quando e com quem manipular a corrida de forma a que esta nos saia a contento.

Nem eu quero - nem o Manel Zeferino precisa disso - endeusá-lo, mas digam-me, em consciência, a pouco mais de uma dezena de jornalistas e/ou comentadores que realmente percebe de Ciclismo, se não assistimos hoje [ontem, à altura que, por motivos que reconhecerão prudentes, este artigo estará acessível] a mais uma demonstração perfeita de como se movem, se distribuem, as peças de uma equipa para ganhar uma corrida.

Até porque o triunfo de Xavi Tondo não foi em nada facilitado, antes pelo contrário…

Comecei a ver a transmissão da RTPA a cerca de 50 quilómetros do final da corrida, iam 17 corredores escapados, entre eles o Pablo Urtasun e um outro corredor da Liberty Seguros que, nem eu identifiquei, nem a realização nos disse quem era, mais o João Cabreira, da LA-MSS-Póvoa. E ia também, nessa fuga, o homem em que os espanhóis – pelo menos os comentadores da RTPA – apostavam, o italiano Steffano Garzelli.

O Benfica não tinha ninguém nesse grupo, por isso apareceu, juntamente com mais uma ou duas equipas, a trabalhar na cabeça do grande grupo, tentando encurtar distâncias, senão mesmo anular a escapada. Não conseguiram.

Entretanto, o grupo da frente fica reduzido a 13 unidades e um pouco mais à frente a apenas cinco. Sempre com Garzelli a quem os comentadores cedo começaram por anunciar como mais que provável vencedor. Sempre com João Cabreira que eu ia “vendo” capaz de fazer um final como fez no Alto do Malhão, há dois anos atrás, ou na etapa da Torre, na Volta do ano passado…

Com uma pequena nuance que não terá passado despercebida aos conhecedores. Cabreira, vai-não-vai, era ele próprio quem esticava o grupo da frente.

Não, não era ele o trunfo do Manel Zeferino!

Senão resguardar-se-ia e jogaria com o facto de ser praticamente desconhecido dos adversários a quem poderia surpreender.

Já em plena ascensão para o alto do Monte Naranco, às portas de Oviedo, numa situação que revolveu a corrida, com os da frente a serem alcançados – que não postos fora da corrida -, apareceu outro homem da LA-MSS-Póvoa que, segundo o relato da RTPA, seria o Afonso Azevedo. Instantes mais tarde, quem ia na frente era o Bruno Pires. Em consciência, porque não é tão fácil assim seguir a transmissão via Internet, não sei, de certeza, se o Afonso apareceu por ali ou não. Se não foi logo o Bruno a aparecer e os comentadores leram mal o número do dorsal. Talvez não.

Mas já estamos numa fase em que, claramente, Bruno Pires ataca a meta final. Pensei eu e terão pensado todos, tanto que ali, por momentos, há uma entreajuda entre várias equipas para anular o avanço do alentejano do Redondo, e entre essas equipas estava a Liberty Seguros que apostava tudo em Koldo Gil – que vencera esta corrida, o ano passado, ao serviço da Saunier Duval -, mas esse esforço recolocava o italiano Garzelli na luta pela vitória.

À entrada dos últimos 1000 metros, Bruno Pires seguia isolado e podia ganhar a corrida, só que os mais directos perseguidores, empurrados pela tal conjugação de esforços por parte de mais do que uma equipa acabaram por o engolir a meio caminho. A 500 metros do final.

A emoção atinge níveis incontroláveis e o relato dos comentadores da RTPA saía dividido.


Uns que (parecia) puxavam por Garzelli, outros que ainda antes de tempo deram a vitória mais do que assegurada por Koldo Gil.

Só nos últimos metros, saindo por fora, mais pelo meio da estrada, Xavier Tondo deu a sapatada misericordiosa que acabou com a veleidade dos dois mais directos adversários, assinando uma tão clara quanto justa vitória para a LA-MSS-Póvoa.

Dois espanhóis – Tondo e Gil – nos dois primeiros lugares, mas dois espanhóis que representam equipas portuguesasQuem diz que não temos lugar no pelotão espanhol?

Foi lindo, o final da corrida e não me cansarei de o referir. Primeiro, metendo Cabreira na fuga principal do dia; depois, soltando as lebres para que estas levassem ao engano a concorrência para, na jogada final pôr na mesa o às de trunfo – leia-se: Xavier Tondo – Manuel Zeferino mostrou, uma vez mais, que deve ser, actualmente, o técnico MUNDIAL que melhor conhece, seja o pelotão no seu todo, seja as condições físicas e anímicas dos seus próprios corredores. Tem um naipe alargado de trunfos e joga com eles todos, sem fazer bluff.

Espero que não seja só eu a ter visto – e compreendido – a forma magistral como ele conduziu a corrida de ontem.

Ai, o que o Manel faria com uma equipa de outra dimensão!
Parabéns amigo.


Um grande e apertado abraço.

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