sábado, maio 24, 2008

II - Etapa 75

ADENSAM-SE-ME AS DÚVIDAS

Li, em vários suportes, que a operação levada a cabo pela Polícia Judiciária, em relação à LA-MSS, terá sido espoletada por uma, ou mais denúncias.
Ouvi, na televisão, e da boca de um quadro superior daquela instituição, que a investigação à equipa durava há cerca de três meses.

Traduzido isto – a segunda parte, a declaração da PJ – para o calendário Nacional, as investigações ter-se-ão iniciado logo após a prova de Abertura, bem na aurora da temporada.
Porquê?

Quem, há três meses atrás, tinha argumentos tão sustentados que obrigaram a PJ a pôr-se em campo? E porque é que foram precisos três meses para esta, finalmente, ir bater às portas de quem foi?
Levou três meses a convencer um Juíz a passar os mandados de busca?

Então não eram fortíssimos os argumentos?

Sem querer pôr em causa ninguém, aceitando a teoria da denúncia é mais provável que a operação seja bastante mais recente e que se disse o que se disse para não comprometer o, ou os denunciante(s).

A verdade, e isso foi escrito, é que só depois de, com o intervalo de dois dias a LA-MSS ter ganho de forma estrondosa a Subida al Naranco e a primeira etapa da Volta às Astúrias, é que vieram a público reacções – sempre generalizadas, sem que se saiba quem é que contestava – negativas em relação à força dos corredores daquela equipa.

Ora isso foi há cerca de um mês. Nem tanto.
E se vieram à luz do dia, é evidente que os responsáveis da equipa também as ouviram. Sabiam, portanto, da contestação, mais do que isso, das acusações, ainda que veladas.

Depois, a mesma equipa viveu uma tragédia, com a perda de um dos seus corredores. Logo a seguir aproveitou a primeira corrida para, de novo, impôr a sua força.

Repito, os seus responsáveis tinham, têm, necessariamente, que saber que havia quem punha muitas dúvidas em relação às suas prestações, embora qualquer especialista em Ciclismo reconheça que a equipa está desenhada para se superiorizar às demais nos terrenos mais complicados, como os de montanha.
E não é deste ano.

Ponhamos em cima na mesa a possibilidade de que toda a força demonstrada nas corridas tem a ver com mais alguma coisa para além de um plano de preparação devidamente estruturado e muitas, mas muitas horas de treino.

Então, sabendo que, repito, mesmo que veladamente, havia suspeitas e até acusações, não compreendo como é que toda aquela gente dormia todas as santas noites com caixotes de produtos proíbidos na gaveta da mesinha de cabeceira. Não compreendo.

Ponho-me no lugar deles e, sinceramente, se tivesse alguma coisa que pudesse vir a comprometer-me, não a tinha em cima da minha secretária. Não a teria sequer em minha casa.

Nunca pensaram que as autoridades policiais poderiam fazer o que fizeram?

Um dia destes, à conversa com uma pessoa que comunga da mesma afición pelo Ciclismo que faz de mim um adepto ferrenho, essa pessoa me dizia que sabe da ciumeira que vai no pelotão, mas que, se em Lisboa já foram vistos Corredores a curtir umas noitadas pelas Docas, os daquela equipa eram – são, porque eu sei que continuam a treinar-se com afinco, diariamente – todos os dias batiam estrada, fizesse o tempo que fizesse.

E há ainda esta estranha sensação de que esta operação policial não é – não pode ser – abrangente a todas as equipas.
Tenho a certeza de que, de cada vez que a PJ nos mostra nos telejornais, notas falsas e as máquinas apreendidas aos falsários; outros falsários se apressarão a mudar imediatamente de poiso e a esconder a sua própria maquinaria e notas já fabricadas, dando algum tempo até que a poeira assente.

Sobra, portanto, a hipótese de ter sido uma operação perfeitamente direccionada.

E aí volta à baila a possibilidade de uma denúncia.
De dentro do pelotão?
Mas haverá alguém que não tenha telhados de vidro?

Que há quem tenha no contrato que dá aos seus Corredores para assinarem, em letras mais miudinhas, que em caso de barraca, ele terá que assumir a responsabilidade exclusiva e será literalmente abandonado. Isso eu sei que há.

Que há quem tenha no contrato com o patrocinador, desta vez em letras bem grandes, que ao mínimo pisar do risco, ficam em roupa interior que até os equipamentos serão retirados, isso também sei que há…

O ano passado tivemos o caso de um jovem corredor que foi despedido, depois de uns testes internos feitos pela própria equipa. Estes testes são normais e só não os farão as equipas que têm menos disponibilidades financeiras. Logo, está explicada a existência de uma máquina centrifugadora, entre os objectos apreendidos à LA-MSS. Quase todas as outras equipas a terão também.

Adensam-se-me as dúvidas.

Por isso prefiro esperar que a Polícia Judiciária e o CNAD comuniquem publicamente o resultado do trabalho que estarão neste momento a fazer para deslindar o caso.

Mas aflige-me saber que alguém, há precisamente 20 dias, me comunicava - depois de me acusar de ser parcial nos comentários às retumbantes prestações da LA-MSS - que “hão-de caçá-lo”.
E agora que o próprio presidente da FPC aconselhe as Organizações a não convidar a equipa…

2 comentários:

RuiQ disse...

Manuel, tire-me só uma dúvida: será que a PJ acredita mesmo que nós vamos acreditar que a operação começou depois (ou até mesmo antes) da prova de Abertura?

Cumprimentos,
RQ

mzmadeira disse...

Esqueçamos a PJ, caro Rui.
Por de trás daquela cena toda gente mais graúda se movimentou...

Mas eu já aqui o disse, tenhamos paciência. Tudo se vem a saber.

Infelizmente, quem não tem tempo são os corredores da LA-MSS que correm o risco de ficarem desempregados, exactamente dentro daquilo que já aqui escrevi: era preciso mudar alguma coisa para que tudo ficasse na mesma.

Ainda tenho no meu computador uma entrevista com um médico de uma equipa portuguesa que me contou coisas incríveis.

E não é dessa dessa equipa que estão a pensar...