quarta-feira, maio 21, 2008

II - Etapa 72

PODE HAVER MUITO CACO PARTIDO,
MAS AINDA SÓ AGORA COMEÇÁMOS A ESCAVAR

(Este título é para um amigo meu que é arqueólogo!)

As mais de quatrocentas visitas que registo, depois do meio da tarde e até às zero horas de hoje, significam para mim que ainda há muita gente que procura – espero, porque nela confiam – a minha opinião, mormente num momento tão conturbado como o que ontem abalou o Ciclismo português.

Por isso, não vou usar – aliás, façam-me essa justiça, nunca aqui o fiz – paninhos quentes.

Mas também não esperem que junte a minha voz ao histerismo que, repentinamente, contaminou os habituais observadores.
E não me refiro à Comunicação Social.
Não matem o mensageiro só porque não gostam das notícias de que ele é apenas portador…

Como devem calcular, li, vi e ouvi tudo o que foi escrito, dito ou mostrado, durante a tarde de hoje, espoletado, é evidente, pela notícia que A BOLA avançou em primeiríssima mão.

Em relação à CS, não creio que tenham nada a apontar.
Li, num conhecido Fórum, que, por exemplo, a televisão – referiam-se concretamente à TVI, mas podiam juntar-lhe todas as outras – só fala de Ciclismo quando há borrasca da grossa.
Convenhamos que, perante os factos, não havia hipóteses de não falar deles.

Do que os jornais vão trazer impresso daqui a quatro ou cinco horas, só sei aquilo que o meu dá à estampa. No que respeita ao que as diferentes edições on-line foram debitando ao longo da tarde-noite – afinal, aquilo a que os simples adeptos tiveram acesso – devo dizer, por ser verdade, que se resumiu ao caudal noticioso que a Agência Lusa foi disponibilizando.

Do que li em Fóruns, mais ou menos públicos, é que não gostei nem um bocadinho.

Mas voltando ainda atrás, àquilo que a CS, neste caso, as televisões, mostraram, seria preciso, provavelmente, fazer o que eu me obriguei a fazer. Esperar. Absorver a maior quantidade de informação possível e deixar acalmar a paixão que reconheço a todos mas que alguns (muitos, infelizmente) não souberam calar.

E li atrocidades de bradar aos céus.
Atrocidades que reduzo a um único, simples e inatacável facto: ninguém, ontem – e este ninguém inclui a PJ – acusou ninguém de crime algum. Ponto.

Para quem não teve acesso, e a maioria, sei-o, teve porque andou pelos mesmos sítios na Internet por onde eu andei, junto neste artigo o comunicado da Polícia Judiciária. O único comunicado oficial disponibilizado.

Depois… depois muitos terão escutado declarações, muitos terão lido declarações – e ainda assim não leram tudo, e vejam mais logo o que A BOLA traz -, declarações de gente com peso, e refiro-me, nomeadamente aos patrocinadores, que, estas sim, podem ser tomadas como base para uma acusação pública sem julgamento prévio.

Manda a minha formação enquanto Homem, manda, também, a minha consciência que, apesar de tudo o que li, que ouvi e que vi… não deixe que sejam outros a pensar pela minha cabeça. Tenho uma, para alguma coisa há-de servir.

Infelizmente há intelectos – não é gralha, quis mesmo escrever intelectos – que se soltam qual pássaro que se escapa à gaiola sem dar por que voa directamente para a boca do gato.

Céus!... Tanta baboseira que li esta tarde.
E depois, numa clara demonstração de que, no fundo, no fundo, não sabem mesmo do que estão a falar, voltam à cena para tentarem sustentar a primeira asneira com outra ainda maior.
Por muitas horas que eu leve a olhar para a EuroSport de olhos pregados naquela coisa estranhíssima a que chamam curlling, jamais me apanharão a tentar opinar sobre ela.
Disso estão todos livres. Garanto.
Por muitas horas, por muitos jornais e revistas lidos, por muitos sítios na Internet coleccionados nos favoritos, há quem jamais venha a ter estofo para ser crítico de Ciclismo.
E isso ficou hoje provado à saciedade.
(Não, também não é gralha. É assim que se escreve.)

CINJAMO-NOS AOS FACTOS

Facto: inesperadamente – embora tenha sido um responsável pela instituição a declará-lo – a Polícia Judiciária andava a investigar uma determinada equipa há, cito de memória, “cerca de três meses” e na segunda-feira de manhã, munidos dos necessários mandados judiciais, vasculhou, ao que parece, o domicílio a cerca de uma dezena de pessoas, incluindo corredores, ligados a essa mesma equipa.

E apreendeu, não só equipamentos como produtos que, atenção… indiciam a possibilidade de estarem a ser usados métodos que poderão ser enquadrados como proíbidos no quadro desportivo.
Isto não é um eufemismo meu.
É o que se lê no Comunicado da PJ.

Pica-me a mosca atrás da orelha no que respeita ao “há cerca de três meses”.
Por duas razões e dir-me-ão onde é que eu não tenho razão.

Primeiro: porquê incidir uma investigação assim tão demorada numa só equipa?
Segundo: (ainda menos compreensível) se essa investigação é global, abrangendo todas as equipas, porquê denunciá-la assim que obtiveram resultados?

Dúvida: foram investigadas todas as equipas e aquela que agora está em causa foi a última – ou não, mas sempre tomando como certo que a investigação incidiu sobre todas as equipas – por isso, e neste caso teria sido mesmo a única a ser apanhada em falso, se revelou o resultado dessa investigação?

Tudo o que fugir a isto merece-me apenas um, e só um comentário: era preciso fazer sangue – passe a expressão – e a missão foi cumprida.
Bem á portuguesa.
Se há alguma coisa que corre mal, encontra-se um culpado – seja ou não o único – e volta a puxar-se a manta, com toda a gente a sentir-se aconchegada e… já no pasa nada!
Já há culpados. Morre o assunto.

Seria o maior erro provavelmente jamais cometido, nem digo em relação ao Desporto nacional, mas em relação ao Ciclismo, definitivamente, sim!

Amanhã – quero dizer… mais logo daqui a quatro, cinco horas – vão poder ler de enfiada uma séria de declarações (a maioria delas, diga-se em abono da verdade, já são do conhecimento público, porque repetidas na rádio e na televisão) e receio bem que todos as aceitem como aceitam um rosário de mea-culpa por parte de um bando de virgens que, mais ou menos à força, se confessam violadas. Nem faziam ideia que era assim que podiam perder a sua virginal pureza. Parecem todos dolorosamente enganados.
Santa hipocrisia.

Deixem-me aqui contar uma estória que, tanto quanto me foi dito, é mesmo verdadeira.
Aconteceu numa cidade perto de Lisboa, e na cerimónia que se queria de apresentação de uma determinada equipa de futebol da I Liga.
Foram convidadas as forças vivas da região, era um jantar, mais ou menos de gala.
Um dos convidados, gente importante, claro, mas rapaz solteiro e sem compromisso, porque o convite era para um casal, não teve pejo em levar consigo uma daquelas raparigas a que pudicamente chamamos... de vida fácil.
Ora, a moça era por demais conhecida e à entrada, alguém da organização puxou o nosso protagonista à parte e, segredando-lhe ao ouvido, tentou fazer-lhe ver que a presença da sua acompanhante não caía ali bem.
"É uma mulher de reputação duvidosa", disse-lhe quem estava ali para controlar as entradas.
Mas ele, sem papas na língua nem contas a dar a ninguém, terá ripostado assim mesmo: "Desculpe, esta senhora é mesmo puta! De reputação duvidosa será a maioria das senhoras que já estão lá dentro!"

Genial!
Isto para falar em hipocrisia…
E não estou a falar de ninguém do Ciclismo.

Há quem não recuse a oportunidade para, da sua pequenez, se pôr em bicos dos pés e vir à praça pública com lições que pretende moralistas.

Quem nos quer vender à viva força a NBA como desporto, não tem o direito de escrever isto.
Este sim, é um caso de quem busca visibilidade à custa do Ciclismo.
Que nada lhe deve.

Mas tenho que voltar de novo atrás para que se não perca o fio à meada.
Facto, facto, apenas temos que a Polícia Judiciária apreendeu uma série de seringas e frascos e comprimidos e uma máquina centrifugadora que serve para as equipas – e não há uma única que não a tenha – fazerem os seus próprios testes ao hematócrito aos respectivos corredores.
De tudo o que li, de tanta gente que li, só uma pessoa – e peço desculpa por não ser capaz de a identificar (também escreveu sob pseudónimo), lembrou que seringas e frascos e comprimidos e pastilhas não é obrigatoriamente sinónimo de práticas não permitidas.

Toda a gente sabe, pelo menos quem tem responsabilidades e escreve em jornais devia saber que, por ser de efeito mais rápido, é usual o método de reposição de sais e vitaminas pela via intravenosa, até intramuscular em atletas sujeitos a esforços às vezes desumanos.
Como os Corredores.

Mas como já escrevi, o que a populaça e alguns arautos de uma verdade que apenas mora nas suas pequenas cabeças, quer é sangue.
Não é a Comunicação Social.

É evidente que, em consciência, não posso descartar a possibilidade de, feitas as peritagens que com certeza serão feitas por quem tem para isso autoridade, não se confirme o pior cenário. Não!
Mas hoje, agora… Não há nada de palpável.

Está bem… até sou capaz de ir até ao, ainda não há nada de palpável.
Mas isto é um facto. Ainda não há.

Claro que o imediato abandono do barco por parte de todos os patrocinadores não deixa antever nem sequer um esboço de um hipotético final feliz para esta triste história.
O que a mim me leva a pensar duas coisas.
Só duas coisinhas tão simples como 2 mais 2 serem quatro:
ou não acreditam em quem confiaram o seu dinheiro, ou… sabem mais do que aquilo que, eu, nomeadamente, neste momento sei.

Eu não sei nada.
E eles?
Fica aqui a questão… tirem dela as ilações que quiserem.

Mas há mais.
Li, não sou eu quem o afirma, li, que este… terramoto poderá ter sido provocado por uma denúncia.
Seria bom que isto fosse muito bem esclarecido.
Por várias razões.
A primeira, para que saibamos, com segurança, que há quem ande no Ciclismo tão puro, tão virginal, tão sem… qualquer espécie de peso na consciência que de peito aberto – o que não foi, senão já sabíamos quem tinha sido – entrega assim um parceiro de estrada.
Eu...
Nah!, não vale a pena, vocês lembram-se…

A segunda questão, que imputo de pertinente e que quase diria não ser possível contornar, era a de sabermos todos se todas as equipas foram alvo de investigação similar.
Se não, porquê?…

E todos temos ainda presentes as declarações de alguém, de dentro do pelotão, que deixou insinuações por demais claras…

Já agora, peço-vos que leiam A BOLA, daqui a bocadinho – caramba!, daqui a pouco tenho uma reunião em Lisboa e hoje não vou dormir mais de quatro horas… - e atentem nas declarações do Paulo Couto.

Não seria necessário crescentar isto - porque aqui deixei, na devida altura, a minha opinião - declarações que eu assino por baixo.

Pronto, já olhei para o relógio, os ossos pedem-me descanso e hoje já não lho posso dar dentro daquilo que seria razoável, mas não podia deixar de vir aqui.
Já se anuncia a morte da LA-MSS.
Com o retirar do tapete, por parte dos patrocinadores, provavelmente morreu mesmo ontem, mas que uma coisa fique bem claro em certas cabecinhas… Não há inocentes nesta história.
Bem pode o presidente da FPC vir dizer que avisou
Se sabia de alguma coisa não tinha nada que avisar, tinha que agir.
É o mínimo que se pede à figura de quem preside a uma federação.

Quanto a reacções de outras equipas, pelo menos no meu jornal não vi nenhumas.

E porque tenho mesmo que fechar a loja, senão amanhã vou a dormir para o trabalho, acabo deixando um desafio:
Aceitemos que se vai provar o pior dos cenários.

Agora, digam-me lá os opinadores de cátedra… (e é impossível a não comparação deste caso com a Operation Puerto), ainda acham que são os Corredores os maus da fita?
Engulam a vossa vergonha.
Que se a não têm deveriam ter.

E nada há que possam fazer – escrever, ou dizer – que aligeire as barbaridades que escreveram contra quem menos culpa tem nesta engrenagem toda,

Perceberam, finalmente, porque é que eu me recusei sempre a deixar de estar do lado dos mais fracos?

4 comentários:

cristina neves disse...

como eu tenho pena de toda a gente nãio poder ler isto...existe muito gente que não sabe o que é um computador pena...beijo para si

SempreNaRoda disse...

Fico feliz que a ABola também deu destaque à Volta a Portugal.

Concordo consigo em relação às declarações de MAnuel Zeferino e acho que a sua frase "como os ratos, mal o navio começa a meter água" aplica-se a este senhor, e não tanto aos patrocinadores, penso que que foi demasiado severo para com estes.

É de louvar estes patrocinadores apoiarem o ciclismo nestes anos menos bons, no entanto, a verdade é que este caso já está a ser julgado na praça pública independentemente do resultado que surgir.E com todas as notícias da TV e por muito que possa ser a boa vontade destas empresas, estas não são obrigadas a sujeitar-se a isto...

pedropereira disse...

Voçê fala bem e se calhar os ciclistas são os menos culpados... mas terá a PJ inventado odo este material? e toda este escandalo? Concordo que este tipo de investigação seja feita, mas, e está claro... tem de ser igual pra todos.
não sei se tudo isto se vai provar ou não, mas pelo que sei, só dois ciclistas foram constituidos arguidos, existe uma luz ao fundo do tunel... pois nem todos podem estar envolvido no escandalo.
Relativamente ao treinador... O Sr. Zeferino... a ser culpado... penso que já poderia ter "abrido a pestana", pois já é a segunda vez que se ve envolvido num filme destes( Paris-Nice, à alguns anos atrás, lembram-se?)... atenção, a ser verdade tudo isto.

SempreNaRoda disse...

Estive a ler o artigo do Record e o senhor como jornalista talvez saiba responder a estas duas perguntas:

1º Qual o objectivo deste artigo, um jornal desportivo para além de informar não tem o dever de zelar pelo Desporto, só vejo aqui "dizer mal", não vejo nada de construtivo?

2º Sinceramente leio poucos jornais desportivos, mas penso que um jornal desportivo nunca editaria um artigo destes sobre a corrupção no futebol?

Por exemplo, se esta frase:
"Duvido muito é que a percentagem de utilizadores seja tão grande e que o seu grau de "sofisticação" na arte da mentira seja tão elevado",

Fosse sobre a corrupção do futebol, este artigo não teria sido censurado pelo jornal?

Com isto não quero dar razão ao Ciclismo ou ao Futebol, estou apenas a querer saber como o Jornal reagiria...