segunda-feira, maio 12, 2008

II - Etapa 64

ADEUS AMIGO BRUNO

“Não acredito poder vir a ler uma linha sequer de "lançamento" e adivinho já que nem todos "terão espaço" para dar sequer os resultados finais.”

Escrevi isto, ao início da madrugada de ontem, na Etapa 62, em relação ao Memorial Doutor Barreiros de Magalhães. Agora, não desejava outra coisa. Que esta prova, que contaria para a Taça de Portugal de Clássicas, não merecesse por parte da CS mais do que uma breve.
Que a ignorassem até…

Infelizmente, por um nefasto acontecimento, hoje os jornais dão-lhe espaço nobre. Ninguém o desejaria, mas é de todo justo. Que saibamos guardar na memória a imagem sorridente do Bruno.



Fugir ao lugar-comum, numa situação destas, é tremendamente difícil. Por mais que queiramos – mesmo noutras situações em que ela está pré-anunciada [e eu sofri isso] – não conseguimos jamais entender a morte. Pior ainda se ela nos rouba alguém que conhecemos, de quem somos amigos. Pior ainda quando esse alguém é um jovem na plenitude dos deus 26 anos.

Ninguém, em alturas destas, terá cabeça para tentar explicar-nos que aconteceu porque… assim estava traçado no destino.
Não aceitamos.
Não aceito.


Passavam poucos minutos das cinco da tarde. Ontem. Estava na redacção, tinha uma entrevista para fazer. Toca o telemóvel. Era o Paulo Sousa.
Eu tinha deixado aqui o pedido para que ele me conseguisse as classificações da prova e prometido que aqui as deixaria na íntegra. Não estava era à espera da notícia que a voz embargada do Paulo me comunicou.


“Morreu o Bruno Neves…”
E seguiu-se um silêncio. A dividir pelos dois.
Atarantado, perguntei-lhe se ele estava a correr.
Que sim. Sofrera uma queda, fora recolhido pela ambulância da prova mas…
Embargou-se-lhe de novo a voz e eu, com a cabeça vazia de pensamentos recusava-me a acreditar.



“O Bruno Neves?”
O Bruno Neves!…

Depois de o Paulo me ter contado o que, na altura podia contar, saí do meu lugar e fui queimar um cigarro. Naqueles três minutos que leva a consumir-se o vício, a minha cabeça girava.



Quando fui comunicar aos responsáveis pela edição do jornal do dia… eles já sabiam.
Tem asas, a notícia que leva desgraça. Que leva drama…

Como escrevi lá atrás, fugir ao lugar-comum, numa situação destas, é tremendamente difícil.
Espreitei os sítios na internet que falam de Ciclismo e, em todos, lá estava a notícia.
Curiosamente, o Rui Quinta (Ciclismo Digital) recorda aquilo que era, de facto, a imagem de marca do Bruno. É verdade, não me lembro de o ver sem ser com um sorriso no rosto. Curiosamente, a única vez que o vi (em fotografia) sem esse sorriso é naquela que publico nos dois artigos anteriores.

Liga-me uma amizade sincera ao António da Silva Campos (o ASC, no Ciclismo) por isso desde os tempos do Guilhabréu que tenho uma relação privilegiada com as suas equipas.
Do Guilhabréu, o Bruno passou para a ASC-Vila do Conde que não era senão a mesma equipa, mas profissionalizada.
Depois passou para a Madeinox e, em 2005, já com as cores laranja desta equipa, então orientada pelo Mestre Emídio Pinto, quando ganhou uma etapa na Volta – batendo o Cândido (em S. João da Madeira) que lutava por todos os segundos de bonificação possíveis na perseguição que já fazia ao então camisola amarela, Vladimir Efimkin – e as suas palavras, sinceras, sabemos todos os que mais de perto com ele privaram foram… “Espero que os quatro segundos que ‘roubei’ ao Cândido não venham a fazer-lhe falta…”




É feliz o Rui – no Ciclismo Digital – ao recordar (e ilustrar) que raramente o Bruno não estava com um sorriso pregado nos lábios. Eu, como disse, não me lembro. Com a excepção que apontei.

Porque sei que foi sempre um rapaz simples e humilde, não vou aqui enumerar as suas vitórias… apenas recordá-lo com o seu muito próprio ar sorridente.

Já passou o tempo suficiente para, caindo em nós, aceitarmos a indesdita.


Mas eu não consigo ainda perceber… porquê o Bruno?
Não devia… Não podia!...

Num aparte, quero aqui deixar à sua irmã, Cristina – leitora, e participante, através de comentários, do VeloLuso – um apertado abraço de amizade nesta hora tão difícil.
E que o transmitas a todos os familiares, pai, mãe…
Cristina, quero que saibas que comungo da vossa imensa dor. Claro que vocês estão a sofrer muito mais do que eu… E é difícil, por mais que soframos, tentar interiorizar a dor dos familiares.

Já sei que o Paulo te transmitiu os meus sentidos pêsames, e sei que pediste para eu não esquecer aqui o Bruno…
Jamais. Fica a promessa.
E, por favor, aceitem que junte as minhas lágrimas – que são sentidas - às vossas. Nada… nada mesmo, pode aliviar esta dor nos nossos peitos…

Meu querido Bruno, onde quer que estejas…
Primeiro, tenho que te dar um raspanete
Quem te mandou ir embora quando estavas no teu apogeu?
Segundo, deixaste os teus amigos em lágrimas…

Onde quer que estejas… meu querido amigo, descansa em Paz…
Deixa-nos chorar a tua partida mas fica ciente que não te esqueceremos.

Desta vez não pedi autorização, mas o António Costa não levará a mal. Agradeçamos-lhes o trabalho e a paixão que nutre pelo Ciclismo

As ultimas imagens do Bruno... na RTP; na SIC... e a sua vitória no Troféu RDP-Algarve

2 comentários:

Duarte Ladeiras disse...

Absolutamente triste: não há forma de deixar de lamentar a morte do Bruno Neves e os acidentes que de vez em quando alguns ciclistas sofrem enquanto treinam. De facto, estes homens põem as próprias vidas em risco pela paixão por esta modalidade.

cristina neves disse...

sr.madeira,o Paulo veio dar-me de facto os seus recados, e quanto a isso só tenho a dizer uma coisa...OBRIGADO, as palavras que tem escrito estes dias, não existem palavras para as defenir,lindas,lindas...mais uma vez obrigada é muito bom saber que não estamos sozinhos nesta dor...
um grande abraço