quinta-feira, maio 08, 2008

II - Etapa 58

PAREM COM OS TIROS NOS PRÓPRIOS PÉS!...

O Ciclismo em Portugal, numa altura em que todos os intervenientes se deviam unir de forma a, não só “aparar” a queda mas, sobretudo, tentar que fosse atingido o reequilíbrio a partir do qual se pudesse aspirar a construir algo de novo passa, afinal, por aquilo que por mais de uma vez eu aqui chamei de autofagia.

São lamentáveis algumas posições recentemente tomadas. E vindas de quase todos os quadrantes. Até, mas não deixa de ser mais grave por isso, daqueles que… não tomaram posição.

1. Vejamos. Em finais de Abril, e numa decisão unilateral – que convinha investigar, em nome da verdade – a Comissão Nacional Anti-dopagem (CNAD) solicitou ao Instituto do Desporto de Portugal (IDP) a sesseção imediata o apoio financeiro posto à sua disposição para levar a cabo um plano vital para o Ciclismo: tentar erradicar o flagelo do doping que tão má imagem “cola” à modalidade, pese embora eu seja dos que, incondicionalmente, defende que luta contra o doping no desporto, sempre… mas abrangendo TODAS as modalidades.

Tentei, aqui no VeloLuso, brincar, construindo uma parábola. Não sei se o perceberam.

Se o CNAD é a “polícia” - à qual pagamos com os nossos impostos para existir – indicada para perseguir, detectar e penalizar eventuais “batoteiros”, não tem o direito de “desistir” assim.


Como escrevi há umas linhas atrás, a primeira notícia – a seguir à que anunciou o a sua “desistência” – teria que ter sido para nos explicar o porquê.

E não me apontem a alegada “falta de cooperação” da Associação Portuguesa de Ciclistas Profissionais (APCP).
Não tentem insultar a minha inteligência.

Tal como escrevi aqui há uns dias, se a “polícia” desiste de perseguir os meliantes porque estes levantam dificuldades à sua detenção… Espero que percebam o que quero dizer.

NÃO FOI DE CERTEZA esse o motivo para a caricata tomada de posição do CNAD. Em nome da verdade, e do respeito pelos adeptos, convinha que alguém “os tivesse” no sítio para no-lo contar.

Mais…
Sendo o presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo- União Velocipédica Portuguesa membro da estrutura superior do mesmo CNAD, deveria ter feito qualquer coisa – se calhar fez, se calhar votou derrotado, mas PRECISAMOS saber isso – em nome da modalidade que tem que defender.

A ausência de notícia, em relação a isto, leva-nos – a nós, os simples adeptos - a crer que terá traído a “sua” modalidade.
Espero, sinceramente espero, vir a ser rapidamente desmentido.

Mas, se queremos – todos os envolvidos – recuperar a credibilidade da modalidade, não se pode ficar estático.
Pior, não podemos servir de correia de transmissão de interesses terceiros, ainda por cima quando mal explicados.

E recupero a imagem que já usei…
Quem entenderia uma “polícia” que deixasse de perseguir “bandidos” só porque estes não estavam na disposição de ser perseguidos?

2. Eu quando escrevo, sei o que escrevo. E ontem mesmo escrevi que a APCP podia – já que esperou tanto tempo – ter esperado mais um dia para vir a público com a sua posição face a tudo o que se escreveu na primeira metade desta semana. Mas reconheço-lhe o direito a escolher quando deve, ou não, pronunciar. E sei que “seguraram” até à última a sua aparição nesta (má) rábula de Revista à Portuguesa.
Que, sinceramente, não merecia ter que receber um “quadro” destes.

Eu sei porque a APCP ficou tanto tempo calada, e não, não foi por isso que estão a pensar. Não!

Foi porque, senhora da razão, não tinha mesmo que dar mais cor ao folclore chamado a palco pelo CNAD.
Com o presidente da FPC-UVP a querer aparecer à boca de cena e tomar a batuta ao maestro.
E esta parte sim, esta parte seria bom que alguém tivesse a coragem de tentar explicar.

Tal como escrevi – e não escrevo nada que não saiba – a FPC-UVP já foi penalizada por atropelo grave à primeira Lei pela qual este país ainda se rege: a Constituição.

Não vale a pena querer criar pequenos “impérios” particulares porque haverá sempre quem defenda o que está escrito num documento não descartável: a Constituição.
Que garante que NÃO HAJA QUEM NÃO TENHA DIREITOS.
E que impede que candidatos a pequenos ditadores possam ser tentados a pensar que estão acima dela. Da Constituição.

Eu aqui assumo que jamais me doerão os dedos para escrever contra esses projectos de ditadores.

-- Que fique claro que não estou a querer rectificar posições que tomei, ontem ainda. Pelo contrário, estou a tentar cimentar o que eu acho estar correcto.
É MESMO um artigo de opinião.
E não fugirei, nem de “raspão”, ao que ontem escrevi aqui.

3. Quem, de facto, está com a modalidade, pela modalidade e sem compromissos inconfessáveis, não pode deixar de apontar o dedo – acusador, sim – ao doutor Artur Moreira Lopes.
Somos (sei lá se somos!... Tantos que eu julgava ter como tal e que tão prontamente se afastaram) amigos e quero acreditar que uma crítica fundamentada não chegue para quebrar essa amizade que me liga ao doutor Artur Moreira Lopes.

E, ou eu não sei avaliar com quem lido, ou ele até prefere quem o contrariem, fundamentando as razões, aos caniches que o rodeiam só por uma festinha no pelo. Ou um ossito!...

Como escrevi lá atrás, não sei, ninguém sabe, se o presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo tem algo a ver com a decisão do CNAD. Porque, perante um cenário não desprezível, enquanto notícia, não houve jornalista que tentasse sequer saber disso.

Condená-lo sumariamente seria despropositado. Não é isso que estou a fazer…

4. Contudo, não é difícil – antes pelo contrário – perceber como e de onde vieram as primeiras informações que ditaram a publicação do artigo que nos deu conta da “marcha atrás” do CNAD.
Não foi a primeira nem será a última vez que, por um motivo ou outro, essa correia de transmissão terá sido usada. E – no fundo – abusada!
Pelo que até pode chegar a merecer a nossa piedade.

Que tenham pena de mim será a última coisa que admitirei e quando isso estiver para acontecer… saberei que chegou ao fim a minha validade neste Mundo.

5. Escrevi antes – ontem – que a saída da notícia sobre a “abdicação” do CNAD, em relação às suas funções, veio implicar directamente a redução do espaço que a Volta às Astúrias – que foi dominada pelos portugueses – tinha prevista nos mais diversos OCS.

Na verdade – porque hoje estive de folga que aproveitei, como habitualmente faço, para reler o monte de jornais que vou acumulando aqui – a primeira notícia surgiu nas vésperas do arranque da Asturiana. Ok… mea culpa. Já o referi dezenas de vezes que não pretendo ser impoluto. Claro que podia defender-me, sendo assim tipo “rato de biblioteca”, o que podia mesmo ser porque tenho matéria arquivado suficiente para isso. Mas continuo a preferir ser espontâneo. Mesmo que me engane.

O que quero mesmo é que, quem me leia saiba que escrevi embalado na paixão que tenho pelo Ciclismo. Podia ser, mas não quero parecer uma enciclopédia. E aceito que seria muito mais fácil para mim… Mas eu nunca procurei facilidades.

6. De facto, a notícia apareceu antes de a referida corrida ter começado, mas – e só quem não seja honesto o poderá negar – acendeu rastilho que depois fez explodir a “bomba”.

Por isso, nos dias seguintes apareceram as notícias veiculadas, primeiro pela Lusa, depois pelos outros OCS que não levantam o cú da cadeira para acompanhar o Ciclismo, mas não perdem a oportunidade de, sendo negativo o teor da notícia em relação ao próprio Ciclismo, “abrir” o tema Ciclismo com elas em detrimento dos feitos desportivos.

-- Há tantos “culpados” nesta cadeia de noticiário deturpada em nome de… não sei o quê, que sobre isto não adianto mais nada.

7. Agora, que – impulsionados pela Agência Lusa – muitos OCS puseram o fait divers (porque não provado, não explorado…) do caso-CNAD/IDP à frente de resultados concretos de uma equipa portuguesa que elevou bem alto o nome do País e da Modalidade – enquanto o presidente da federação aparecia em notícias negativistas – isso não podemos chutar para canto.
Aconteceu mesmo.

E o Ciclismo Português deu mais um tiro no pé

3 comentários:

Marina Albino disse...

Queria a prop�sito do seu coment�rio dizer o seguinte: o ciclismo portugu�s n�o deu um tiro no p� o seu dirigismo sim.
Apesar dos abutres prepararem o festim � espera que os ciclistas caiam por terra n�o quero falar de coisa negativas, mas sim positivas.
A prop�sito da Volta �s Asturias, quero-lhe dizer que as belas imagens que viu da prova emitida pela RTPA, foram colhidas por portugueses que pela sua compet�ncia e Know-How de ciclismo come�am a ser cada vez mais contratados para ao servi�o das televis�es auton�micas fazerem a cobertura da prova, j� assim foi em M�rcia e continuar� a ser no futuro noutras provas.
Todavia gostaria de dar a conhecer que me chegou �s m�os na sua edi�o do dia 7 de Maio o di�rio " La Nueva Espa�a", jornal que f�z a cobertura da prova em 10 p�ginas e n�o � um jornal desportivo.
Foi com agrado que li as not�cias, vi as reportagens fotogr�ficas e as cr�nicas de diversos jornalistas sobre a referida prova.
Foi com orgulho que li o subt�tulo " Pires y Tondo, Geniales" e por isso n�o � pelo facto do Vicioso ser de Espanha, que os jornalistas n�o deixaram de admirar o trabalho do Bruno Pires, em cuja reportagem de tal maneira entusiasmante quanto ao modo como ajudou o seu colega, que parecia que estava l� a ver a dita prova.
� sinal do profissionalismo e da " aficion" que a modalidade tem aqui ao lado.
Sem patriotismos falaram de todos, e do Manuel Zeferino, a maneira inteligente como t�cticamente comandou os seus homens, e sabendo n�s e sabendo eles jornalistas que alguns dos mais conhecidos claudicaram em momentos chave da prova, mesmo assim n�o deixam de reconhecer a mestria como o Manuel Zeferino comandou as suas hostes.
Foi bom ler este jornal para depois pegando em tr�s dos nossos di�rios desportivos desse dia vermos que aspectos t�o positivos do nosso ciclismo, mereceram um quarto ou meia p�gina, em que o protagonismo foi dado �s queixinhas do CNAD, secundadas pela subservi�ncia, ou o que lhe quiserem chamar da UVP/FPC a falsas quest�es que s� servem para esconder a incompet�ncia e a in�rcia de uns quantos, que na realidade nada pretendem fazer pelo ciclismo e sobretudo nem querem saber quem são aqueles que proporcionam tão maravilhoso e emocionante espectáculo que é esta modalidade.
Assim, só me resta mesmo desejar a quem quer fazer do jornalismo vida e sobretudo do jornalismo dedicado ao ciclismo, que tente ler um exemplar deste jornal, para ver o que é mesmo saber falar de ciclismo com emoção e entusiasmo.
Viva o ciclismo ! Vivam os ciclistas! Vivam os verdadeiros amantes da modalidade

Marina Albino disse...

ui! parece que há virus no texto!
Será que já me começaram a bloquear o meu PC?
Bom, com algum esforço quem quiser ler o texto assim,perceberá o que quero dizer...
O ciclismo não morre e os abutres hão-de voar até outras paragens...á procura de outras vítimas. Vejamos se as ditas queixinhas aparecem noutras modalidades... por exemplo no futebol!

mzmadeira disse...

Sabe, corremos o sério risco de parecermos combinados, mas cada um de nós tem a consciência tranquila e o resto é folclore.

Tem a doutora toda a razão. Aliás, precisamos urgentemente, na modalidade que elegemos como NOSSA, de alma e coração, de olharmos para lá da fronteira e ver como em Espanha o Ciclismo é tratado.

Sei de mentes mal formadas que, ao lerem isto vão logo "buscar" a Operação Puerto... Contudo, sabendo que, afinal de contas, essa gentinha não sabe nada de Ciclismo, apesar de termos de "engolir" - passe a expressão - opiniões puritanas, mas tão longe da realidade, o melhor é mesmo não lhes dar mais importância do que aquele que têm. Muito pouca.

Já um amigo me tinha dito que a cobertura televisiva da Volta às Astúrias foi feita por uma empresa portuguesa. Fiquei calado porque, estando um repórter português no local, fiquei sempre à espera que a notícia saísse no (cada vez mais) único jornal português que ainda segue o Ciclismo. Não saiu. Tenho imensa pena. Lamento mesmo.

Mas quero - sem ignorar esse facto, ao qual poderemos sempre voltar - manter aqui uma "linha aberta" dedicada à Volta às Astúrias, no campo estritamente desportivo.

Vamos esperar por mais logo, quando os jornais desportivos estiverem na banca, para ver que espécie de balanço fazem.

E para ver - se é que vai acontecer - como é que o único repórter português presente consegue lidar com o problema que ele próprio criou. De um lado, a espectacular prestação da equipa da Póvoa de Varzim; pelo outro, as veladas acusações de que aquela só está na forma que está, devido a... truques pouco menos que ilegais. Foi ele quem abriu esta via, dando voz a quem - sem que eu o consiga perceber - mesmo tendo responsabilidades, e em vez de fazer fosse o que fosse para eliminar essa ilegalidades, preferiu a "boleia" de um jornal para ganhar visibilidade... "contribuindo" com isso para "enterrar" ainda mais a modalidade.

Depois de amanhã - quero dizer, mais logo, pela manhã - ler o que cada um dos "desportivos" escreve acerca da Volta às Astúrias... voltarei aqui para deixar a minha opinião.