quinta-feira, maio 22, 2008

II - Etapa 73

DEMASIADAS INCÓGNITAS PARA
QUE SEJA POSSÍVEL RESOLVER A EQUAÇÃO
(à primeira, porque eu tenho todo o tempo do Mundo)

Não sei, francamente não sei, se alguma vez alguém com responsabilidades materiais na modalidade se perguntou, principalmente depois do caso Operation Puerto, ocorrido há dois anos em Espanha, o que poderia acontecer se, em Portugal, estoirasse uma bomba parecida.

E explico de imediato: sem muitos jornalistas especializados, minimamente conhecedores do fenómeno Ciclismo (chegam os dedos de uma só mão para os contar), como é que uma eventual notícia de um eventual caso apareceria no dia seguinte na Comunicação Social.
No dia seguinte, não!

Logo na altura, ainda por cima a quente.
É que não são – já emendo a questão – os OCS que ficam em causa, é o Ciclismo!

Segue a emenda
: li no ciberespaço um montão de baboseiras, óbvias, porque se reconheço que não há meia dúzia de jornalistas especializados que sejam capazes de lidar com um caso destes (é verdade, aconteceu!), como poderemos esperar que o simples adepto de beira-de-estrada o entenda?

Mal cheguei a casa, há pouco, fazendo zapping na TV fui cair no Porto-Canal, uma estação regional sedeada na Cidade Invicta, onde no Telediário (nome pouco original pois é assim que se chamam os Telejornais em Espanha) uma jovem toda sorridente nos comunicava que a equipa, cito “LA-MSS-Pecol[sic] fora alvo de uma investida da Polícia Judiciária…
… que foram apreendidas bolsas de sangue – congelado, escreveram uns; para disfarçar práticas de auto-transfusão de forma a mascarar eventuais situações passíveis de serem detectadas, adiantaram outros -, mais hormonas de crescimento, mais EPO… eu sei lá.

Nem sei em que bases se sustentaram para escreverem o que escreveram.
Sei é que não reconheço, objectivamente nos generalistas, nenhum nome de nenhum jornalista que possa ser considerado especialista em Ciclismo.

E se entre estes ainda se aperta mais o laço quanto aos que poderão opinar sobre casos de doping… dá para ver a desinformação veiculada.

Mas que o adepto comum, porque também não sabe, aceita como válida porque… vem no jornal. É onde começa a nossa responsabilidade.

Aconteceu ter lido no mesmo jornal que a operação foi levada a cabo pela Polícia Judiciária, através do DCICCEF – Direcção Central de Investigação de Corrupção e Criminalidade Económica e Financeira -, à qual, no mesmo texto, se referiam como sendo… a Polícia Científica!!!

Existe, de facto, este departamento da PJ – claro que existe – mas basta ser-se adepto da conhecida série televisiva CSI para perceber que Polícia Científica não tem nada a ver com corrupção e criminalidade económica.

A verdade é que ainda não percebi qual dos departamentos da PJ actuou.

Mas não sou completamente idiota.
A ser a Polícia Científica… dispensava como, creio seja óbvio, o CNAD.

Se foi um outro departamento da PJ, sem meios para interpretar o que iria ser encontrado – porque, e isso é definitivo, a PJ actuou em resposta a uma denúncia – porquê o da Corrupção e Criminalidade Económica?
Não!... esperem por favor.
Continuem a ler e sintam-se à vontade para me contrariar.

O que é que uma práctica que só pode ser olhada no quadro de um presumível atentado à Saúde Pública arrasta para o terreno o DCICCEF? Expliquem-me.

E se foi mesmo este departamento da PJ o que levou a cabo a acção – estão a ver como até eu estou confuso? – enquadra-mo-la sob que prisma?

A PJ, aqui fazendo de ASAE, não andava à procura de mais nada do que da fuga aos impostos em relação a produtos farmacêuticos alegadamente introduzidos em Portugal ilegalmente?
Seria isso?

Então, façam o favor, alguém que faça o favor, de me explicar o que é que isso tem a ver com o Ciclismo, enquanto modalidade.

Eu sei!... Eu sei!…
As virgens do costume – que reduziram a sua aparição em público, depois de “n” vezes desmascaradas como fraudes intelectuais - há muito que se resguardaram.

Tentem seguir o meu raciocínio…
Há, de facto, e como referi – não sei se um departamento, se apenas brigadas de – um segmento a que podemos chamar de Polícia Científica (ao estilo do CSI) na PJ.
Mas para que precisariam os cientistas da PJ dos médicos do CNAD para levar a cabo a missão?

E já nem vou entrar na questão de o CNAD ter, ou não – eu acho que não – autoridade que se equipare a uma Policia.

Percebem onde eu quero chegar?
Exactamente!...
Toda a história está mal contada. Desde o princípio.

Mas foi o que, à falta de melhor - porque ninguém se deu ao trabalho de fazer três telefonemas - saiu na CS.
Em geral.
Ancorada nas informações veículadas pela Lusa.

Já o disse aqui no VeloLuso que não tenho formação em Direito.
Sou da área de Letras.
Mas interesso-me.

Tudo o que a PJ, seja através do DCICCEF, seja através de uma eventual Brigada da Polícia Científica, conseguir reunir e constituir como prova, será apenas válido, através do Ministério Público, para levantar acções cíveis aos eventualmente implicados. E no tal quadro de atentado contra a Saúde Pública, ainda que envolva agentes desportivos.

Aliás, o próprio presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo, citado pelo Record, reconhece, cito: “O caso foge da esfera desportiva”.
Claro que foge.
Ninguém aprendeu nada com a Operation Puerto?
Pelas alminhas!...

E está escarrapachado – embora subentendido – que a alegada presença de brigadas do CNAD nesta operação vale… zero!

Ou o doutor Artur Moreira Lopes, membro, por inerência, da dita CNAD, não teria dito o que disse.
O que temos então, bem espremidinho?
Nada!

E é O Jogo que no-lo diz, volto a citar: “Não há lei que impeça os corredores da LA-MSS de alinharem nas provas deste fim-de-semana.”
Claro que não há!...

O que é que, e afinal de contas, temos entre mãos?
Fácil.
Uma operação policial, em quase tudo semelhante à da Guardia Civil espanhola, há dois anos, que não consegue encontrar enquadramento legal para punir presumíveis prevaricadores, e uma Justiça Desportiva que não pode fazer uso da investigação policial, em termos disciplinares.

E socorro-me outra vez do Record.
Diz o doutor Artur Moreira Lopes, cito: “Que eu saiba – e ele seria o primeiro a saber - não houve qualquer controlo positivo no Ciclismo, este ano. A federação não pode agir disciplinarmente, dado que as regras são muito claras: só se age se houver um controlo positivo.”

Apetece-me aqui citar Mark Twian.
Tendo lido no obituário do New York Journal a notícia da sua própria morte, com o sentido de humor que só está reservado aos grandes de espírito, enviou uma carta ao director do periódico vincando que, cito: “Os relatos sobre minha morte foram desmedidamente exagerados."

A notícia da morte da LA-MSS-Póvoa tem duas leituras.
A primeira, que foi precipitado o abrupto abandono da equipa por parte de todos os patrocinadores.
Afinal… o que é que foi provado legalmente contra a equipa?

E se os frasquinhos e as ampolas e os comprimidos e as cápsulas não forem mais dos que os habituais suplementos vitamínicos que toda a gente usa?

Passaram 36 horas – já descontando o que mais logo pode surgir de novo, enquanto notícia – e a verdade é que nem a PJ, nem o CNAD adiantaram grande coisa.

E volto a sublinhar… se a acção da PJ foi mesmo levada a cabo pelo CDICCEF, mesmo que tenha pedido, e conseguido, a participação do CNAD, qualquer prova levantada não terá valor legal em termos desportivos.
Se foi com uma Brigada da Polícia Científica… aí, meus caros, não acredito que cientistas criminais tenham pedido a ajuda ao CNAD. Porque não faz sentido…

Eu sei que passei por cima de um dado importante para que se consiga perceber o caso.
Porque é que os patrocinadores foram tão céleres em denunciar a parceria com a equipa da Póvoa?

Fosse eu o Sherlock Holmes e diria a sua mais famosa frase: Elementar meu caro Watson. Amanhã tudo o que se julga Jornalista vai-nos massacrar. E, falado por falado, que seja para dizer que nós estamos de fora deste imbróglio todo.

Facto: Não pesa, pelo menos à hora em que estou a escrever, qualquer acusação formal sobre a equipa de Manuel Zeferino, excluindo – até porque não tem peso acusatório, em termos legais, embora não deixe de fazer grande mossa – o trabalho constrangedoramente amador de quem se diz jornalista.
Transversalmente, em todos os OCS.

E lembro o que escrevi logo no princípio. Um canal de televisão, 36 horas depois do acontecido e tendo tido a oportunidade de ler e ouvir o que todos os OCS escreveram e disseram, ainda consegue enganar-se no nome da equipa!

Querem melhor exemplo que este?
Falar, falam....
Sobre o quê… ignoram.

Cinjamo-nos ao que, de facto, é importante.
Não há acusação formal alguma contra a equipa do Manel Zeferino.
A listagem de “produtos proíbidos”, pelo que li, ficou ao critério de cada um, e daí as discrepâncias que pude ler.

Mas há mais.
A única coisa que tomo como certa, foi aquilo que vi.

O habitual aparato da PJ que chamou as televisões para mostrar… uma série de packs de seringas, uns frascos não identificáveis – e, se de facto lá tivesse estado o CNAD, os seus técnicos teriam sabido identificá-los (ninguém se lembrou disto, pois não?) - tudo floreado ao gosto de cada um, sendo que nenhum sabe o que está a escrever.

Do Manel Zeferino… só li uma declaração.
Mais nenhum jornal, rádio ou televisão – nem eu – conseguiu falar ontem com ele.

Nenhum dos outros responsáveis pela equipa apareceu em público, nem para se defender. Pode isto ser lido como a aceitação de uma culpa.
Será que pode mesmo?

O Direito aceita, de facto, a confissão de culpa. Jamais um silêncio como sinónimo de confissão. E ainda somos um estado de Direito.
Por mais tentativas de atropelos que se tentem.

Sem confissão, enquanto o Magistério Público não conseguir montar um caso defensável – sob a sua perspectiva – é, pelo menos, desonesto querer-se culpar seja quem for.
Eu estava convencido que esta regra era sagrada para os Jornalistas.

(Estou extremamente cansado. A noite passada, porque havia uma reunião do Jornal e, morando longe e sujeito aos horários dos transportes públicos, acabei por não dormir mais do que três horas e meia, e sendo, neste preciso momento, três horas da manhã, confesso: estou cansado.)

Mas não acabo sem tocar naquele que será o mais sensível dos pontos de toda esta situação.

Disse, no Comunicado que é público, a PJ, que há cerca de três meses que iniciou esta investigação que culminou com o raid às instalações – e não só – da LA-MSS.

Ora… há três meses o que é que terá levado a PJ a centrar – e é essa a imagem que perdura – as suas investigações numa determinada equipa?
Porquê a LA-MSS?

É que, se ganhou, é verdade, a prova de Abertura... depois nada fez que merecesse ser destacado em relação às suas congéneres portuguesas.

Ontem – que já é antes-de-ontem – li várias vezes que tudo poderá ter sido despoletado por uma denúncia.
Ok, mas sustentada em quê?
Porquê esta equipa, e sustentado em quê, se só há duas semanas ela explodiu de uma forma - e não serei eu a negá-lo - passível de suscitar suspeitas?

São as duas perguntas que me apoquentam.
Tiraram ao acaso?
Neste caso sou livre de interpretar a acção da PJ.

O importante era fazer sangue, fingir que se estava a fazer algum trabalho embora eu ache que o pretendido era… mudar alguma coisa para que tudo ficasse na mesma.
E este tudo é facilmente interpretável.

Porque é que a PJ se terá interessado por uma – e até agora não há indicações de que a investigação tenha sido abrangente, pior! Com esta acção destruíram a investigação porque, a acontecer o caso de haver mais equipas sob mira, há mais de 48 horas que alguns aterros sanitários foram enriquecidos com material e produtos que, em princípio, não seriam para desbaratar desta forma, porque são caros – escrevia eu, porque é que a PJ se terá centrado numa única equipa?

E tendo-o feito desde há cerca de três meses atrás, como é que saberiam que neste preciso momento essa equipa apareceria a dominar corridas sem dar hipóteses aos adversários?

É – ou devia ser – esta a linha de investigação que deveria ser tomada.
Até porque, e eu escrevi-o aqui na altura, aquando da primeira etapa da Volta às Astúrias - numa altura, tendo como certa a informação da PJ de que já estava na peugada da equipa que todos sabemos qual é – porque é que eu recebi uma mensagem no meu telemóvel a dizer que o Zeferino haveria de ser apanhado?

Terá havido, dentro do pelotão, quem se tenha prestado a armar uma cilada a uma equipa rival?

Entretanto, volto a sublinhar, em termos desportivos nada impede, neste mesmo momento, a equipa do Manel Zeferino continuar a correr.

E, muito provavelmente – e aqui já sou eu a especular – ninguém (nada nem ninguém) vai conseguir constituir prova válida em tribunal para condenar a equipa da Póvoa. Que, como ontem escrevi, pode até já ter acabado por falta de apoios.

E entramos numa cena tipo “pescadinha de rabo na boca”.

Porque é que os três principais patrocinadores se apressaram a abandonar o barco?
Eu hei-de saber.
E logo que o saiba colocá-lo-ei aqui.
Só me move um interesse: fazer o que puder para que o Ciclismo não caia na lama.

E desta intenção ninguém, mas mesmo ninguém, me conseguirá afastar. Nem calar!

1 comentário:

Antonio Dias disse...

Manuel (desculpa escrever sem acentos e cedilhas), eh evidente que em termos legais ninguem pode, neste momento, apontar seja o que for aos membros da equipa LA-MSS-Povoa, pelo menos pelos escassos elementos que nos foram dados a conhecer, relativamente ah responsabilidade desses mesmos membros nesta investigacao.

No entanto, ha coisas que sao inegaveis: primeiro, a "desmarcacao" em antecipacao do medico Marcos Maynar que tratou de lavar as maozinhas; segundo, o abalar de TODOS os patricinadores principais da equipa, com rescisoes de contratos; terceiro, aquilo que foi apreendido configura uma rede de dopagem em massa, ainda que nada do que foi apreendido seja ilegal... Mas a nivel desportivo, por exemplo, na Franca, na Belgica, na Alemanha e na Italia, quem se apanha na posse destes produtos sem receita medica eh alvo de processo crime. E peco desculpa, mas este caso tera CLARAS implicacoes desportivas... quando tudo se esclarecer... Se se provar que dosi massagistas e alguns ciclistas estavam na posse daqueles produtos sem prescricao medica, como eh que o vao justificar? Isto da direito a suspensao... A menos que digam que os medicamentos eram p o cao ou p a sogra...

Nao vamos julgar ninguem na praca publica, nem mesmo o Zeferino, mas depois de tudo esclarecido (e se ficar provado preto no branco o q aconteceu), que nao haja impunidade...