domingo, maio 11, 2008

II - Etapa 62

MEMORIAL DOUTOR JOSÉ
BARREIROS DE MAGALHÃES

Daqui a dois, três anos, não haverá já jornalistas no pelotão que saibam quem foi o Doutor José Barreiros de Magalhães. Era - É - uma obrigação nossa, dos que com ele ainda privámos, fazer com que o seu nome não se perca no nevoeiro da ignorância dos novos... jornalistas de Ciclismo.

Ainda convivi com ele alguns anos. Por acaso, não sei, talvez porque me despachava mais cedo, tive várias oportunidades de, não falar de Ciclismo com ele, não; não o ousaria... mas de o ouvir. Ouvir mil e uma estórias, qual delas a mais hilariante, qual delas a mais humanista...

O Doutor José Barreiros de Magalhães foi um Homem especial.


De certo que fazia, em termos profissionais, mais do que estar presente nas corridas de Ciclismo, mas eu só o encontrava na Volta. E no único GP Jornal de Notícias que cobri, ainda para A CAPITAL.

Quem não viveu aqueles tempos - e parece uma enormidade eu escrever "aqueles tempos", sendo que me refiro a pouco mais de década e meia, mas a verdade é que NADA do que hoje os jovens colegas possam encontrar no pelotão tem a ver com o que eu ainda apanhei (e terei sido o último) -, quem não viveu aqueles tempos, repito, não consegue sequer fazer a mais pequena ideia do que falo.

Aceitemos que o Ciclismo não mudou mais do que, afinal, toda a Sociedade mudou. Antigamente tinha-se um emprego para a vida; fazia-se a Volta até à reforma...

Hoje há os recibos verdes, o trabalho precário... e há uma "renovação" a cada ano que passa no quadro de jornalistas que, ao serviço dos mais variados OCS, cobrem o Ciclismo, e dentro deste, a Volta, que é materialmente impossível voltar a acontecer o que então acontecia.
Era uma grande família, muitas vezes desencontrada durante todo o ano mas que, ali por Agosto, se reencontrava e reforçava, ano após ano, os laços que ligavam todos.

Sou do tempo em que era inevitável o ritual de iniciação; a praxe...
Tínhamos que passar por isso, como caloiros que éramos.
No momento seguinte éramos membro oficial da grande família.
Os mais velhos preocupavam-se com os jovens companheiros recém chegados e eram eles quem se preocupava, no sentido de garantir que o novo membro não ficasse atrapalhado. Davam dicas, davam notícias... Ensinavam truques, diziam-nos como se fazia...

Mas descaí para o jornalismo, quando quero é recordar o Doutor José Barreiros de Magalhães. Não ficámos mais amigos porque o meu jeito envergonhado me impedia de aceitar aqueles braços abertos, aquela vontade de conversar, aquela vontade de ensinar.

Foi-me mais fácil com o seu filho, Manel. Que uma vez descobri, numa papelaria, em Castelo de Vide, a comprar tintas e pincéis. Foi aí que fiquei a saber da sua paixão pela pintura. Nunca mais nos vimos...

Por mais que eu quisesse, de certeza me faltaria o engenho para aqui deixar um retrato fiel do Doutor José Barreiros de Magalhães.
E tenho a certeza - não por culpa vossa - que os mais novos jamais o poderiam entender.

O Guita Júnior, os falecidos Dias Neves ou Zé Neves de Sousa, o Fernando Emílio - o único resistente dessa geração -, ou o Vítor Sequeira Martins (DN), o meu companheiro de redacção - não nos vemos há mais de dez anos e nunca nos encontrámos enquanto companheiros da mesma redacção - José Carlos de Sousa (que fez equipa, trabalhando para a Gazeta dos Desportos, com o Neves de Sousa), o Costa Santos (Record), o Martins Morim (A BOLA), o Carlos Flórido (O Jogo) e... sinceramente, não haverá muitos mais, estes (os vivos), se me lessem, saberiam do que eu estou a falar...

Mas pronto, chega de saudosismo - acho que estou já a antecipar um desgosto que ainda está para vir -, esticou-se o artigo, mas o que queria aqui pontuar, coisa que duvido os jornais desportivos tragam mais logo, é que hoje se disputa o 7.º Troféu Município de Amarante-Memorial Doutor José Barreiros de Magalhães. Terá 167,5 km, começa às 14.00 horas e tem hora prevista para término as 18.15.

Não acredito poder vir a ler uma linha sequer de "lançamento" e adivinho já que nem todos "terão espaço" para dar sequer os resultados finais.

É a terceira prova a contar para a Taça Nacional de Clássicas, que vai sendo liderada pelo Bruno Neves (LA-MSS-Póvoa), com 30 pontos, seguido de Manuel Cardoso (Liberty Seguros) e João Cabreira (LA-MSS-Póvoa), ambos com 25 pontos.

Se conseguir ter os resultados - allô, amigo Paulo Sousa "Paulão", se os conseguires, faz-me-los chegar - na próxima madrugada aqui os deixarei. Ciente que nos "desportivos", com Benfica em Alcobendas e com o Giro, se houver uma breve será de dar vivas ao rei...

1 comentário:

VSM disse...

Olá amigo Madeira, por coincidência vim aqui ter ao teu blogue e, podes crer, fiquei cliente.
Boas palavras, excelente descrição dos ambientes, das situações e grande sensibilidade ao descreveres as pessoas que, connosco, compunham o imenso e maravilhoso circo que era a Volta a Portugal. (Que gostosas as estórias do Zé Neves e do dr. Barreiros de Magalhães; e que felicidade e orgulho sinto por os ter conhecido e com eles convivido).
Quando chegávamos à Volta, a expressão mais ouvida era: então, mais uma? Era, de facto, mais uma. Mas cada uma era única. Agora - e não quero ser saudosista - tudo é diferente. E digo que tudo é diferente, porque fiz as Voltas do antigamente (para O Jogo e para o DN) e fiz, também, as de «agora» - a última foi em 2006. Não há comparação. Acho que tudo mudou; penso que quase tudo de bom se perdeu e nada de muito bom se ganhou.
A beleza e a mística da Volta a Portugal, que nós ainda desfrutamos, já não tocam às novas gerações de jornalistas. Infelizmente. A geração 500 euros e recibo verde está mais preocupada em sobreviver e tudo o resto passa-lhe ao lado. Agora é tudo - ou quase tudo - liofilizado, mcdonaldizado. Perdeu-se o convívio, a cumplicidade, a amizade, o saber comum, enfim, a tradição. Mas isto sou eu a divagar. E como um comentário se quer curto, vou terminar com um abraço de amizade para ti.

Vítor Sequeira Martins

PS: Entretanto pré-reformei-me. Vivo no Alentejo (Ourique), mas com idas frequentes a Lisboa... e ao resto do Mundo. Por isso, um dia destes vamos encontrar-nos.