quinta-feira, outubro 11, 2007

925.ª etapa


EXPLICAÇÕES COM… SEIS ANOS DE ATRASO

Eu sei que o António Costa me desculpará por transformar aquilo que seria, em princípio, passível de resposta ao comentário que ele colocou há dois artigos atrás, num novo artigo. E sustento, em minha defesa, que este artigo NÃO É UMA RESPOSTA ao António Costa, antes o acrescentar de alguns dados – que não podem ser novos, seis anos depois – aos quais muito boa gente se furtou.

Gente com responsabilidade nomeadamente quem, usando as páginas de um jornal preferiu jogar “escondendo” cartas que eram de todo obrigatório lançar na mesa da discussão.

Não, meu caro amigo – tu sabes que me refiro a ti –, não pretendo exumar o que está morto e enterrado. Deixá-lo estar. Gastámos, eu, tu, a maioria dos nossos colegas, tinta de mais no assunto.

Calhou que eu me lembrasse de assinalar a efeméride.
E que o António Costa, pessoa que respeito (muito) como homem, que cumprimento, mas com quem já mantive várias polémicas (o que nos iliba, aos dois, de estarmos “feitos” neste “reacender” de uma fogueira há muito dada como extinta e com rescaldo e tudo) lhe juntasse um comentário.

E porque há coisas que, puxando pela memória, revendo os jornais da altura, ainda assim acho que – todos (eu incluído) – conseguimos não ver.
Assim, à distância torna-se mais fácil.

E não passará nunca de um exercício académico porque não há maneira de voltar atrás.
Está feito, está feito…

Costa, espero que compreenda as minhas razões e não leve a mal o puxar para aqui o assunto. É verdade que em 1999 se testou aquilo que viria a ser o percurso dos Mundiais nos Europeus de sub-23. É verdade que foram transmitidos pela RTP tal como o foi, por exemplo, a chegada ao mesmíssimo local da 2.ª etapa da Volta a Portugal de 2006.

Aqui, vão todos perdoar-me o que pode ser interpretado como um auto-elogio. Juro que aconteceu. Juro que não estava à espera, nem sequer preocupado – eu já estava de baixa médica na altura – com estas questões de pormenor, mas revelo-vos que, cerca de duas horas antes da chegada da 2.ª etapa da Volta de 2006, depois de ter almoçado com um pequeno grupo de amigos – que revelo, sem problemas: o Guita Júnior, o Martins Morim, o Fernando Emílio e o, desgraçadamente, já ausente Boaventura Bonzinho – num tasco em Santo Amaro de Alcântara, acompanhei outro amigo, o Fernando Petronilho, no seu almoço. Bebi mais um café… naquele espaço que eu conheço como Espelho de Água, junto ao Padrão dos Descobrimentos.

E como tive tempo para olhar à volta… reparei que, a partir de certa altura deixámos de ter aviões a sobrevoar a zona.

Era aqui que queria chegar.

A Organização da Volta a Portugal – tal como a dos tais Europeus de 1999 – conseguiu que, num espaço relativamente curto de hora e meia/duas horas, o Aeroporto de Lisboa fechasse o corredor de acesso à pista principal, que passa exactamente pelo vale de Alcântara, vindo da Costa de Caparica.
Quem é que nunca aterrou no Aeroporto de Lisboa?

O problema, e aqui já entram as críticas nunca fundamentadas, é que para os Mundiais de 2001 esse corredor teria que estar fechado entre as 9 da manhã e as seis da tarde durante… quatro dias.
Era impossível. Foi impossível.

O meu caro amigo Manuel Amaro, director-executivo dos Mundiais, era (não sei se ainda é) funcionário da ANA – Aeroportos e Navegação Aérea. Não podia a organização ter ninguém mais bem posicionado. E era impossível desviar dezenas (centenas de vôos) até porque a outra pista, à qual se acede de Norte, sobrevoando a Arruda dos Vinhos e passando aqui, à minha vista, em Alverca, é a pista mais curta…
Mas não era, não foi uma questão de… comprimento.
Estava em causa a operacionalidade do Aeroporto de Lisboa.

Por isso, e só por isso, uma eventual passagem – que também nunca passou disso – do circuito pela Avenida de Ceuta foi “chumbado”.

Céus!... Eu acho que nem eu expliquei isto. Eu que estive com o Manuel Amaro na sede da organização dos Mundiais, no Estádio Universitário, que com ele vi os mapas, os planos… acho que nem eu escrevi isso.
Mas é esta a explicação simples, tão simples… para que o circuito final fosse ligeiramente arrastado para poente.

Porque os vôos de carreira não sobrevoam o Parque de Monsanto, logo, a presença, sobre ele, dos hélis de recolha de imagem e dos aviões-antena não interferiam com o corredor de acesso à Portela dos vôos comerciais.
Isto não foi mesmo explicado?
Já não sei.

Depois, e já que chamei para aqui a resposta, diz o António Costa que a EuroSport transmitiu na íntegra a prova final. E sublinha que tem as gravações.

Mas o António Costa também deve saber que a EuroSport NÃO TEM, nunca teve… uma produção própria.
O que o António Costa viu na EuroSport, o que os espanhóis viram na TVE, os franceses na TF1, os holandeses na NOS e por aí adiante… foram as imagens que a… RTP – Rádio Televisão Portuguesa colheram e difundiram para todas as associadas na União Europeia de Televisão e a quem tinha comprado os direitos.

SÓ PORTUGAL é que não viu. Na RTP.

Agora, amigo Costa, em relação aos estacionamentos e acessos.
Nós somos como somos e, acho eu, já nem vale a pena tentar sequer desejar que mudemos.
Se pudessem, os portugueses estacionavam o carrinho, não em frente à porta do prédio – onde moram mais, em média e para um prédio de três andares, sete famílias – mas no patamar do respectivo andar. Assim o pópó subisse as escadas!

Só falando de Mundiais.
Estive em 1999 em Treviso e em Verona. Ambos os circuitos eram citadinos. Lugares para estacionar? À vontade!... nos parques de estacionamento subterrâneos das duas cidades.
Não houve abébias para ninguém.
Aliás, e em Treviso então, onde o traçado dos contra-relógios foram desenhados assim numa espécie de… Bairro Alto lá do sítio… nem bicicletas podiam ser estacionadas junto ao percurso.
E em Verona foi mais do mesmo.

Em 2002, em Zolder, com é habitual – acho eu – o circuito automóvel terá de ter um parque de estacionamento para quem vai ver as corridas… Terá, acredito, porque não o vi. Deve ter sido ocupado com os camiões da TV, pela produção... pela Organização...

O que sei é que a CS tinha o seu parque de estacionamento a cerca de três quilómetros do local. E havia meia dúzia de “shuttles” que faziam a ligação entre aquele… campo ervado, junto a um canal, e o Circuito propriamente dito.
Íamos de carro e escolhíamos…
Chegávamos cedo e deixávamo-lo o mais perto possível da saída (logo, o mais afastado do ponto onde se apanhava o “shuttle”, percurso que era sensivelmente de 800 metros – que é algo parecido ao entre o Marquês e os Restauradores – que tínhamos de fazer quatro vezes (porque também almoçávamos) – ou junto ao ponto do “shuttle” e, quando acabássemos o trabalho, ficávamos 40 a 50 minutos “entalados” à espera que os que tinham estacionado lá atrás, mais perto da saída, aparecessem.

SÓ o português é que fica irritado porque não pode levar o pópó para o átrio do 5.º andar onde mora (subindo escadas e tudo!).

Ah!... Em relação às bancadas…
Em todo o lado são pagas a “peso de ouro” e metade está reservada a “convidados” e convidados dos patrocinadores…
Não foi só em Lisboa. Garanto-lhe!...

3 comentários:

Anónimo disse...

isto é apenas uma observação de quem teve que se deslocar diariamente para Lisboa durante anos a fio...

trabalhei em Lisboa desde 1980 até me ter reformado nos ultimos anos.

tirei a carta em 85, mas apenas em 1992 passei a não usar outro meio de transporte que não fosse o automóvel. e com muitas razões para o fazer, especialmente porque
partilhava o automóvel com a minha
esposa, poupando no tempo, despesa e farmácia (que andar no stress dos transportes publicos não dava muita saúde..).

alturas houve em que cheguei a levar quase duas horas para chegar ao trabalho, para fazer 41 kms, pela 25 de Abril (antes de haver a IC13, hoje IC21, que liga o Barreiro à ponte Vasco da Gama). ainda assim, era preferivel a usar os transportes publicos. em 1980 conseguia colocar-me no meu trabalho (no IST) apenas numa hora, usando o barco, autocarro e
metropolitano. isto nas horas mortas. alguns anos depois essa hora esticou... esticou... e nem valerá a pena falar da péssima qualidade do transportes públicos, das longas esperas, dos autocarros a rebentar pelas costuras, dos barcos pejados de gente perfumada, after-shaves, perfumes, tabaco, etc... com janelas hermeticamente
fechadas no Inverno (um sufoco autentico)

não admira portanto que este português chamado António preferisse levar o carrinho até ao 5º andar.. não foi por comodismo.. (em 2003 uns amigos
levaram-me a ver o Tour nos Pirinéus e não tive problemas em fazer mais de 10 kms a pé apenas para ver passar os ciclistas por
uns instantes).


nos Mundiais de 2001, devo relembrar que a meta estava instalada numa via nova que foi inaugurada no dia em que os campeonatos se iniciaram. não havia, portanto, transportes publicos para lá. a que horas teria eu que me levantar da cama, no Barreiro, para poder ver o inicio das provas ? ir de casa até ao barco, eram pelo menos 10 minutos a pé (mais, se tivesse que ir a carregar com a lancheira para o dia inteiro) , depois o barco levava 45 minutos a fazer a travessia, mais o tempo de entrar e sair.. depois mais uns 5 ou 10 minutos para apanhar um autocarro
até à Praça da Figueira, mais 5 ou 10 para apanhar o metropolitano até Benfica, que seriam mais uma meia hora, pelo menos.. e depois ir a penantes uns kms para ver a corrida na zona da meta ? isto dava umas três horas, por aí... e de automóvel coloquei-me lá em meia hora, em Monsanto, na subida (indo pela Vasco da Gama).

para Monsanto não há metro, e eram escassos os transportes. e "fecharam" às 8 horas em ponto.

uma coisa é bloquear o percurso da prova, outra é bloquear o acesso a quem queira lá chegar perto, havendo parques de estacionamento e espaço com fartura.
é a mesma coisa que haver um premio de formula 1 no estoril e impedirem o acesso ao respectivo parque de estacionamento e imediações do autodromo.

quanto à transmissão televisiva (claro que aquilo tinha que dar barraca.. se até uma chegada da Volta aos Restauradores dava problemas..) ainda hei-de rever (por curiosidade) o que para aqui tenho...

no plano desportivo foram mesmo uns campeonatos sensacionais, emotivos até final. e até houve uns portuguesitos lá metidos no barulho da última subida dos élites.

mzmadeira disse...

Caro António Costa, não precisava de tanto para me convencer, porque eu não precisava de ser convencido!...

Você tem razão - sou eu quem o diz - no práctico, eu fico-me pelo teórico (em relação a Lisboa).
Eu escrevi esses Campeonatos para a ABOLA, como poderá comprovar... Não tenho sequer carta de condução! Ia de comboio, de Alverca para Sete Rios (onde chegava cerca das 8.30 da manhã)... e a PÉ... até à escola dos Pupilos do Exército, em cujo páteo estava a tenda para a CS. À noite, à saída, havia sempre uma alma caridosa que me dava boleia até Sete Rios, onde apanhava o comboio que, 50 minutos depois me deixava na estação de Alverca. De lá a minha casa são "só" 25 minutos a pé...
Fiz isto TODOS os dias.

E era o primeiro - da minha equipa - a chegar, e o último a sair.

A "estória" dos carrinhos estacionados nos patamares dos andares dos prédios... era acessório.

No real, estamos de acordo.
Foram, desportivamente, uns campeonatos dos mais disputados...

Abraço!,
MzM

mzmadeira disse...

Um abraço muito especial para o Manuel Amaro, velho amigo, dos verdadeiros. Sim, é esse mesmo o meu contacto.

Quando eu encontrar alguma serenidade, em termos emocionais, havemos de combinar um almoço.

Abraço, amigo Manel