domingo, outubro 21, 2007

942.ª etapa


A DIFERENÇA ENTRE TER UMA “BOA IMPRENSA”
E SOFER COM UMA IMPRENSA HOSTIL


Nota prévia: A ideia para este artigo fui buscá-la ao Editorial do último número do Jornal Ciclismo. Não concordo totalmente com ele mas, contudo…

… contudo é, de facto, matéria para estudo o facto de, só por vermos uma Selecção – formada por doutores, engenheiros e advogados com escritório montado, mas cobertos pela manta do… amadorismo (esperem aí que eu já volto!...) – berrar em plenos pulmões o Hino Nacional termos feito aquilo que os portugueses mais estão dispostos a fazer: acreditar.

Estamos – todos nós, povo português – tão carentes de, seja qual fôr, encenada ou não, manifestação de patriotismo que, fiquei com muitas poucas dúvidas de que elevaríamos ao estrelato fosse quem fosse. Colectiva ou individualmente.
Mas foi exactamente isso que aconteceu...
É isto, para quem o não sabia, “ter uma boa Imprensa”. No sentido de colaborante e protectora.
Ter quem “limpe” as vergonhas do passado – que foram vergonhas mesmo (quem é que se esqueceu dos problemas com a polícia, no Uruguai?) – ainda por cima porque os rapazes são médicos, engenheiros, advogados… não são os semi-analfabetos que giram na órbita do futebol (esse é intocável).

Aproximando-se da – por todos excomungada, mas a verdade é que vende – Imprensa cor-de-rosa, que faz e destrói carreiras artísticas, a Imprensa Desportiva criou um novo mito. E, por exemplo, já depois do Mundial (de Râguebi) ter acabado para os nossos “amadores” já li pelo menos quatro páginas em que o empurrão ao râguebi é flagrante.
Mesmo mantendo, em nome da consciência, lado a lado um exemplo de uma escola para os filhos das elites e um clube para os putos dos bairros de lata.
Bonito!

Reforço: é isto a que se chama boa Imprensa.
Aquela que “apaga” da fotografia os momentos menos… recomendáveis.

Mas isto compensa-se.
O mal é que a compensação, em relação aos “amadores” – advogados com escritório montado, por exemplo – do râguebi, me parece que vem a ser feita à custa da “cambada de dopados” do Ciclismo.
Que, já não cabendo no arquétipo do trabalhador rural ou, pelo menos assalariado, pouco instruído e que tirava férias para irem correr a Volta, ainda não têm tempo para tirar cursos superiores, pelo menos a partir do momento em que decidem ser profissionais.
Apesar de termos no pelotão jovens que andam na Universidade, que estão a fazer um curso superior, os Corredores continuam a ser olhados como uma raça menor.
E, quando a coisa dá para o torto, são metidos todos no mesmo saco.

Pior ainda… usa-se o nome e a foto de um corredor, que hoje está liberto de quaisquer suspeitas, para ilustrar uma notícia genérica, que fala de um estudo que não vi ainda em nenhum lado e que dirá que é em Portugal e Espanha que moram os maiores batoteiros.
Pelo menos há essa suspeita, segundo o tal estudo.
Isto quando na dita foto aparecem bem visíveis os patrocinadores e nome da equipa do Corredor em causa. Numa altura delicada, em que cada vez é mais difícil encontrar quem queira investir no Ciclismo.
Dir-me-ão: mas o que é que está a fazer mal ao Ciclismo? As notícias na Imprensa… ou os casos reais de trafulhice? Claro que são estes…

Por isso dou comigo a pensar… o que é escavacar metade de um bar – já depois de uns copos bem bebidos – comparado com a hipótese, revelada não consistente – de um Corredor que apresentou níveis de hematócritos acima do permitido?
O permitido é de 50%. Quanto apresentou esse mesmo corredor?
51? 60? 75? Não sabemos.

É “normal” um grupo de jovens, ainda por cima em representação do País, depois de conseguirem o apuramento para o mundial, escavacarem um bar? Parece que é…
Coitadinhos. Foi a euforia.

Pelo contrário, é tratado quase como um criminoso um Corredor que chumba um controlo de hematócritos.
Isto é um exemplo de Imprensa hostil.

É a diferença entre ter-se uma “boa Imprensa” e a Imprensa hostil.

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