[Acordo Ortográfico] # SOU FRONTALMENTE CONTRA! (como dizia uma das mais emblemáticas actrizes portuguesas, já com 73 anos, "quem não sabe escrever Português... aprenda!») PORTUGUÊS DE PORTUGAL! NÃO ESCREVEREI, NUNCA, NUNCA, DE OUTRA FORMA!
quarta-feira, agosto 02, 2006
178.ª etapa
ÍDOLOS: ADMIRAMO-LOS OU INVEJAMO-LOS?
Aproveitando os tempos livres, que têm sido muitos, nos últimos meses, vou, devagarinho, arrumando o meu arquivo de recortes de jornal. E devagarinho porque, a todo o instante acontece que descubro mais qualquer coisa interessantíssima que me faz parar para a reler. Assim se “queima” o tempo.
Tenho aqui a meu lado, devidamente agrafadas, quatro folhas da primeira revista SÁBADO, que andou nas bancas pelos anos 80/90 do século passado (assim ainda dá mais ideia de “velharias”) folhas da edição do dia 19 de Agosto de 1989 (está a fazer 17 anos que as tenho guardadas!) por onde se estende um trabalho sobre… o jornal A BOLA, assinado por Rogério Rodrigues que, se não estou a confundir nomes e pessoas, foi o último director da “minha” A CAPITAL, cujo derradeiro número, antes de fechar, saiu para as bancas há cerca de um ano (tal como aconteceu com o COMÉRCIO DO PORTO, outro título histórico da nossa Imprensa).
O trabalho de Rogério Rodrigues faz, sintetizadamente, a história de A BOLA (na altura com 44 anos, ainda quadrissemanário e, nas palavras citadas do então Director, Carlos Miranda, já falecido, «recusava publicidade que faria a felicidade de muitos jornais») e complementa-a com o “retrato”/testemunho dos seus jornalistas mais emblemáticos – Vítor Santos, Carlos Pinhão e Carlos Miranda (todos já falecidos) mais Aurélio Márcio, Alfredo Farinha e ainda Vítor Serpa, na altura chefe de redacção-adjunto.
Para falar o sucesso do jornal, sublinha-se a estreita ligação entre este e os seus leitores explicando-se assim o fenómeno: «Os desportos de massas (futebol, ciclismo, atletismo) têm n’A BOLA a sua Magna Carta. Os ídolos são geralmente jovens oriundos das classes economicamente mais débeis e socialmente desprotegidas. E grandes camadas populares reflectem-se neles, identificam-se com eles, no “transfer” do sonho. Carlos Lopes é o beirão obstinado, é o emigrante que não-chegou-a-ser, vencedor em Lisboa e no Mundo; Joaquim Agostinho é o saloio de enxada que pedalou o sucesso em estradas quentes e reinvestiu o emigrante no orgulho de ser português. São estes fenómenos sociais de que A BOLA se faz porta-voz.»
Nesta parte do trabalho a que estou a referir-me, foi muito vincado o papel de A BOLA como elo de ligação entre os emigrantes e o País, referindo-se que Paris era, na altura, a terceira cidade onde mais se lia o jornal.
No entanto, o que me deixou mesmo a pensar foi aquela explicação do que eram os ídolos do povo. «… oriundos das classes economicamente mais débeis e socialmente desprotegidas e as camadas populares reflectem-se neles e identificam-se com eles…»
Nem mais.
Andamos nós, hoje em dia, “desesperadamente” à procura de novos ídolos, esquecendo aquela grande verdade. Tudo se transformou. Hoje os ídolos já não são aqueles que nos são iguais e são exemplo de que se pode chegar mais longe, com trabalho e persistência, mas são… aqueles que nós GOSTARÍAMOS de ser. Não nego que o trabalho e a persistência continuem a ser factores fulcrais para que cheguem onde chegam, mas, em definitivo, já não são nossos iguais em praticamente nada.
Admirávamos e idolatrávamos «beirões obstinados e saloios de enxada na mão» e hoje seguimos milionários e figuras que o “jet-set” reclama para si.
No fundo, na nossa condição de simples humanos, já não os admiramos… invejamo-los. Principalmente pelo dinheiro que ganham, pelos grandes carros que conduzem… pelas mulheres que têm!
Carlos Pinhão refere, a dada altura, que havia ídolos que «tratavam mal os putos que lhes pediam autógrafos» porque… com vergonha de o confessarem, não sabiam ler nem escrever.
De pensamento em pensamento, sou levado a outra questão que acho pertinente (desculpem a minha… impertinência).
No Cyclolusitano (que também tem coisas boas – mais do que as más, felizmente) ainda não há muitos dias se discutia a legitimidade de os organizadores incluírem nas suas corridas etapas como, por exemplo (foi dos mais citados), subidas ao Anglirú. Dividiram-se as opiniões, como está bom de ver. E ambos os lados terão a sua razão.
É desumano fazer os corredores sofrerem da maneira que sofrem nas grandes etapas de alta montanha, mas o público gosta é dessas, porque dão espectáculo.
Há espectáculo no sofrimento humano?
Se pensarmos que não fazemos mais do que acorrer para ver um grupo de milionários a sofrer a bom sofrer – eu sei que os milionários são uma pequena minoria no pelotão, mas não me estraguem a “imagem” – se calhar está explicado porque gostamos das grandes etapas de alta montanha. Principalmente se for para as seguir confortavelmente sentados no nosso sofá.
Esta ideia, confesso, retirei-a de uma anedota que li há já não sei quantos anos. Dizia um fulano ao amigo: «Mas tu vais ao futebol? Ainda acreditas naquilo?», ao que o outro, com um rasgado sorriso, respondia: «Estás enganado, mas que outra oportunidade tenho eu de assobiar e vaiar um “bando” de milionários?...»
Pois!...
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