quinta-feira, agosto 10, 2006

194.ª etapa




OLH'Ó AVIÃO!!!...


Hoje assistimos a uma rábula que não tinha razão nenhuma para ter acontecido. Refiro-me àquele “temos-de-parar-a-emissão-por-causa-do-controlo-aério”, depois volta a emissão, passados 4 minutos para, mais à frente, com direito a “legenda” en-passant nos nossos televisores surgir mensagem idêntica à primeira e, quatro minutos depois tudo estar regularizado.

O que terá acontecido? Não sei. Mas tenho as minhas desconfianças.

Sei da impossibilidade de haver chegadas da Volta, por exemplo, na Avenida da Liberdade, em Lisboa – lá se vão os nossos
“Campos Elíseos” –, ou no Campo Grande. Esteve mesmo previsto o final da 1.ª etapa, este ano, para as imediações do Estádio de Alvalade, integrando esse final nos festejos do Centenário do Sporting Clube de Portugal, antes que aos responsáveis da PAD se lhes deparasse o problema que eu, como a maioria dos meus leitores ainda desconhece, desconhecia até meados de 2000 quando fiz uma entrevista ao Manuel Amaro (um grande abraço, amigo) no âmbito do Mundial de 2001 que se realizaria em Lisboa.

O Manuel Amaro trabalha – pelos menos trabalhava – no Aeroporto de Lisboa (creio que mesmo ligado à ANA – Aeroportos e Navegação Aérea) – e explicou-me como era preciso negociar com aquela entidade a realização dos Mundiais em Monsanto.
Explico: o Aeroporto da Portela tem dois corredores de aproximação à pista. Um, o principal, passa no eixo Costa da Caparica-Praça de Espanha-Aeroporto (quem é que ainda não aterrou na Portela? Vê-se bem aquela parte da costa portuguesa), corredor que abrange, é bom de ver, a zona leste do Parque de Monsanto: o outro, secundário, mais a nascente, sobrevoa a Baixa, mais ou menos paralelo à Avenida Almirante Reis, por isso é impossível ter helicópteros e aviões com o repetidor de sinal a circular por essa zona, que inclui a Avenida da Liberdade.

A RTP há-de ter pedido autorização à ANA para
“ocupar” o corredor ocidental de aproximação ao Aeroporto, no domingo passado, e eu, que cheguei bem cedo à Praça do Império, tive oportunidade de constatar que, ainda à hora de almoço, os aviões comerciais passavam normalmente por ali mas que, depois, quando a corrida se aproximava, deixou de haver tráfego aéreo naquele corredor. Chegaram os ciclistas, os helicópteros, o avião com o repetidor de sinal, a avioneta das acrobacias… mas aviões de grande porte, nem um. E durante bastante tempo.
O que me leva a deduzir que a RTP tenha pedido à ANA o desvio da rota de aproximação para a aviação comercial, e o pedido aceite.

Ora, hoje, por duas vezes, a transmissão da RTP foi interrompida
“porque a autoridade de controlo aéreo pediu que o avião com o repetidor do sinal abandonasse o local”, segundo a explicação da própria RTP. Ainda durante a transmissão, quem viajava no helicóptero deixava no ar a sua estranheza em relação àquela exigência, justificando-o com o facto de a zona de Felgueiras dista “cerca de 50 milhas (mais ou menos 75 km) do Aeroporto de Pedras Rubras".

O Aeroporto de Pedras Rubras tem só uma pista de aterragem, orientada no sentido S-SE/N-NO, pelo que, de facto, os aviões que viessem fazer-se à aterragem não passariam nem sequer perto da zona de Felgueiras. Ou Fafe, na etapa de hoje – (já é hoje, à hora em que escrevo) – o que me faz desconfiar que os responsáveis pelo controlo de tráfego em Pedras Rubras não faziam a mínima ideia de que teriam um avião a voar a baixa velocidade e durante cerca de 4 horas naquela área.

Mas, se o avião com o repetidor…
– Explico: o sinal recolhido pelas moto-reportagem na estrada não consegue, pelo acidentado do terreno, chegar a nenhum ponto terrestre (ou teria que ser a vários) de onde possa ser enviado (repetido) para um receptor na rede de emissores-receptores da RTP espalhada pelo País pelo que se usa um avião que sobrevoa a zona onde vão as motos, que recebe destas o sinal – quase na vertical, por isso sem obstáculos – e o reenvia, de muito alto (outra vez sem obstáculos) para aqueles receptores que o encaminham até à
“régie” onde as imagens são escolhidas pelo realizador e postas no ar…
… dizia: se o avião com o repetidor não estava, de facto, na rota de aproximação à pista de Pedras Rubras, e mesmo que estivesse, estaria sempre a uma altitude bem superior à de qualquer outro que para se fazer à pista ali já viria bastante mais abaixo, estaria praticamente no meio da
“auto-estrada” aérea que passa por ali. Quem nunca voou para Paris, ou Londres, ou para o Norte da Europa? Mesmo saindo de Lisboa, a rota dos aviões seguem a linha de costa portuguesa até alturas do Porto e depois flectem para nordeste passando, por exemplo nas viagens que têm como destino os países nórdicos e mesmo a Grã-Bretanha, por cima das Astúrias e do Mar Cantábrico… a partir da zona Minho/Galiza.

E o avião com o repetidor há-de estar a voar bem acima dos helis, que todos vemos, sem que consigamos vislumbrar o primeiro. Ora, estaria então demasiado próximo da tal
“auto-estrada” aérea que passa por ali.

Como não interferia com a aproximação a Pedras Rubras… não me admirava nada que se tivessem
“esquecido” de pedir autorização para terem ali o “passaroco”.

É que não estou a ver a autoridade de controlo aéreo a
“embirrar” só por embirrar. Nem a explicação avançada de que poderia a tal “proibição” ter a ver com a necessidade de andarem por ali meios aéreos de combate a incêndios tem lógica. Para combater os fogos, aviões e helicópteros voam muito poucos metros acima das copas das árvores. O héli da RTP até podia atrapalhar (mas os helicópteros tem uma manobilibidade tão grande, que podem estar vários numa área muito pequena) mas nunca o avião com o repetidor que, esse voa muito, mas muito mais acima, no céu.

Mas pelo que nos foi dado a perceber… houve ali uma meia hora de intensas explicações e justificações para conseguirem convencer os controladores aéreos. Esperemos que para as próximas etapas tudo tenha ficado devidamente previsto.

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