quarta-feira, agosto 16, 2006

207.ª etapa



GOSTEI MUITO (NA GENERALIDADE) DA COBERTURA DA VOLTA


Afastado do terreno, fiquei estes dez dias agarrado à televisão e aos jornais. E assim fui complementando as minhas ideias muito próprias.
É verdade! Confesso que nunca sintonizei a rádio. Não sei porquê… normalmente são ajuda preciosa mas, talvez porque não me era prioritário saber que ganhara esta ou aquela meta intermédia… e porque no fim tinha as declarações dos principais personagens na TV… não liguei a rádio.

(Mas aproveito para daqui enviar um estreito abraço ao “Quim” Vieira e ao Alex, da Renascença – que pude cumprimentar quando fui à chegada a Lisboa – e ao João Carlos Garcia, da Antena 1, com quem também troquei um abraço. Não cheguei a descortinar a equipa da TSF. A propósito… que saudades Carlos Severino… quantas voltas fizemos? E o Jorge Gabriel, hoje figura pública graças à TV… foi meu companheiro de muitas jornadas na Volta de 1992…)

Em relação aos jornais, li todos os dias os três desportivos – hábito enraizado e que não tenho intenção de mudar – e algumas vezes também os outros, os generalistas.

No que respeita aos desportivos, não sei quantas mais pessoas têm por hábito ler os três, diariamente, o que notei e aqui sublinho é que, se calhar pela primeira vez, sendo que a parte da crónica da etapa, mesmo vista por olhos diferentes não fogem muito umas das outras, no resto complementaram-se muito bem. Gostei.

Lendo os três, ficava todos os dias com uma visão abrangente. Quer ao tratamento do noticiário, com as declarações dos “homens do dia”, quer com os trabalhos feitos à margem da Volta.

Mesmo n’A BOLA – que tínhamos sido o Jornal Oficial nos dois últimos anos, logo, com mais espaço, mas também com a quase obrigatoriedade de, para fazer um retrato do País, encontrar reportagem fora do pelotão – este ano achei a reportagem bem mais… coesa no seu conteúdo.

O Record também encontrou “escapatórias” bem interessantes à simples narração da etapa, e O JOGO prendeu-me todos os dias com as diversas rubricas fixas.

Creio que, em termos de desportivos, o público ficou muito bem servido. E no fundo, também acabei por gostar dos trabalhos publicados no JN, no Diário de Notícias e no Correio da Manhã. Acho que o público não se pode queixar da cobertura da Volta. Pena é que, nas outras corridas, estes sejam completamente ausentes e, mesmo entre os desportivos, só A BOLA fez todas as corridas.

Quanto à televisão…
Quanto à televisão, temos que dividir as coisas em duas partes. Três, talvez…
Dividamo-la em três.

A primeira, a realização.
Quase sem mácula, digo eu.
De facto, creio que não ficou nada por mostrar. E muitas (mas muitas) vezes com imagens de uma qualidade que não ficou nada a dever às realizações das grandes corridas internacionais. A RTP não faz mais nenhuma corrida em directo, por isso faltam referências. Mas, só como exemplo, refiro uma pequena passagem a que pudemos assistir na etapa da Torre.
A dada altura Nélson Vitorino faz com insistência o sinal de que precisa de beber. Logo a moto que o seguia nos deu uma imagem preciosíssima: no quadro da sua bicicleta os suportes para os bidons de água estavam vazios. Melhor do que mil palavras.

Aqui, se calhar, é preciso dizer que os operadores de câmara e os motards são os da empresa que faz o Tour.


(Já agora, nas "empresas" que nasceram que nem cogumelos e vão vendendo os seus serviços às diversas organizações ao longo da temporada, para realizarem aqueles resumozinhos que passam no sábado a seguir ao fim da corrida, já vi - vi, não o podem negar - "operadores" de câmara montados na moto... ao contrário, de costas, de frente para a corrida o que é ABSOLUTAMENTE PROÍBIDO por todas as regras de trânsito e mesmo da corrida - aqui não entra a tal coisa de o espaço da corrida ser neutralizado. Os cameramen têm de montar a moto regularmente, agora, se não são capazes de filmar sem ser virados de costas... se calhar bão são profissionais!)

Voltando atrás, não acredito que o operador de câmara (francês) tivesse percebido os comentários do estúdio, na chegada, mas a verdade é que, na altura exacta, as imagens mostraram aquilo que se dizia. O corredor estava sem água. O operador é experiente e sabe de ciclismo.

A segunda parte vai para o João Pedro Mendonça e o Marco Chagas.
Estiveram à altura daquilo a que nos habituaram. O Marco sempre bastante sóbrio, sem, uma vez que seja, fazer um comentário que não fosse explicado, naquilo a que o João Pedro ajuda de uma maneira que já é quase imagem de marca. Nenhuma das questões que o João Pedro põe “cai” do ar sem justificação…
E não duvidem que ele sabe perfeitamente as respostas, mas ali tem o papel de fazer as perguntas que os espectadores fariam. Perfeito. Muito bom.
Qualquer deles deixa perfeitamente claro que faz aquilo com muito “gozo”, e o resultado final não é bom, não é óptimo: é “bótimo”. Sem nunca se arvorarem em estrelas.
Toda a gente sabe que o Marco venceu quatro Voltas a Portugal, mas são raríssimas – a não ser em algumas respostas ao João Pedro – as vezes em que ele diz que foi corredor. E quando o faz marca as distâncias. Quase sempre lá vem o… «no meu tempo!...»

A terceira parte, nesta análise ao trabalho da RTP, tem a ver com as intervenções dos outros “pivots”. Primeira nota para que não fiquem dúvidas: nenhum deles era estreante. Antes pelo contrário.

Um deles cometeu demasiados erros para escaparem nesta análise.
Desde o Manuel “Severino”, logo no dia de apresentação das equipas, ao “David Blanco fez menos 4 segundos que o seu compatriota…”, quando ELE ERA OBRIGADO A SABER que o Martin Garrido é argentino e não espanhol… foi um rosário de… imprecisões. O grave nisto foi o ter ficado plenamente provado que a maior parte desses erros foi devido à falta de… ter feito o “trabalho de casa”.
Algumas das suas “tiradas” foram de exemplar mau gosto.

(Estou a rever o resumo de todas as etapas.)
Ainda agora disse que o Lizuarte Martins “teve a oportunidade de passear a camisola amarela perto de casa”. Fosse o Lizuarte, fosse qual fosse o corredor, merece um pouco mais de respeito. Que ele não seria o vencedor da Volta… ok, qualquer um diria, mas naquele dia ninguém mais do que ele quereria manter a camisola e não a envergou apenas para… a passear.
Mas pronto. Está dito, está dito… já passou.

A 4.ª parte (eu tinha dito que eram só três!...) tem a ver com o Há Volta.
Eu sei e compreendo a razão da sua existência.
Quando vende uma chegada a uma autarquia a PAD junta como “bónus” um espaço – que a PAD comprou à RTP, que também cobra pela transmissão – na televisão. Um espaço onde o senhor presidente e os senhores deputados municipais podem aparecer, mostrando as coisas bonitas que fizeram. Juntam-se-lhe uns nomes da música pimba (que, afinal de contas, é o que o povo gosta) e um ou dois grupos da terra, mais uns concursos e está a festa montada.
Agora, começarem o Há Volta num canal ao qual todos têm acesso, à hora em que num outro canal da própria RTP começam a transmissão em directo da etapa… faz algum sentido? Quem fica em casa para ver o ciclismo e tem os dois canais nem sequer hesita.

Que audiência terá então o Há Volta? Alguma, acredito. Há uma série de diásporas dentro deste regtângulozinho e há gente de Beja e Viseu, e Guarda e Castelo Branco um pouco por todo o país, nomeadamente nos grandes centros urbanos onde, afinal de contas, a audiência é medida. Até confesso que numa chegada a Serpa eu era capaz de fazer um “zappingzinho” e ir alternando as imagens em directo da corrida com algumas imagens da minha terra, de onde saí menino e moço…
Mas porque é que esse programa não é retirado do horário em que coincide com a transmissão da corrida em directo? Lembro-me de, há uns anos atrás, uma Grande Prémio Telecom ter tido direito a… directos e, logo após o términus da etapa ia para o ar um País, País – que agora se chama Portugal em Directo – emitido da localidade onde a etapa terminara e com os mesmos autarcas e ranchos folclóricos… Ideia genial. Porque foi posta de parte em favor deste formato que não me parece seja o mais adequado?


Volto atrás com um pequeno pormenor.
Em Portugal (para elém da teimosia de alguns em não perceberem que, quando nos referimos aos espanhóis, termos de ter em conta que o apelido usado é o penúltimo, não o último), até porque somos, de facto, bons para as línguas estrangeiras, às vezes cometemos erros convencidíssimos de que "sabemos tudo".
Logo que vimos escrito pela primeira vez o nome da equipa Kaiku, logo "decidimos" que a sílaba tónica seria a primeira. Daí termos sempre falado na Káiku... Valeu-nos a experiência em Espanha do Orlando Rodrigues - que se calhar até teve de comprar alguma vez aquela marca de leite - para sabermos que a sílaba tónica é a segunda, pelo que Kaiku se deve ler - e dizer - Kaíku. O contrário aconteceu - e acabo de ouvir nos resumos das atapas que estou a rever - com o colombiano Feliz Cardenas. O nome do homem diz-se "Cardênas" e não "Cárdenas"...

Isto leva-me a lembrar uma das tais conversas (verdadeiras lições) que antigamente podíamos usufruir nos longossssssssss jantares após a etapa terminada e o trabalho posto nas redacções, assunto que o Fernando Emílio chamou à sua crónica pessoal na passada terça feira.

É verdade. Ficávamos se não todos, pelo menos muitos, à mesa, a ouvir as "estórias" dos mais velhos e aprendendo a admirá-los. E lembro-me muito bem de uma vez o Fernando Correia (agora na TSF, quem não conhece?) - um dos "monstros" da nossa rádio, com o qual ainda fiz algumas voltas - ter compartilhado connosco isto, que tento agora recuperar:

Contou, nessa noite, o Fernando Correia que, estando num estádio português, prestes a iniciar o relato de mais um jogo internacional, foi surpreendido por um colega do país da outra equipa que lhe pediu que lhe explicasse a pronúncia correcta dos nomes dos jogadores da equipa portuguesa. E ele fê-lo, tendo o outro colega reescrito a composição da equipa, agora tendo em conta a sua pronúncia correcta.

Nós temos a mania que sabemos tudo. Óbikwelu, Obikwélu, Obikwelú... estamo-nos nas tintas. Cada um diz à sua maneira. E bastava perguntar ao atleta como se diz o seu nome. E, se no futebol, não sendo impossível, não é fácil falar com todos, no ciclismo isso é a coisa mais fácil que há. Há dúvidas? Procure-se o corredor em causa e pergunte-se-lhe. Perguntar não ofende.

E deixemos de chamar DANIEL ao Danaíl Petrov, por exemplo.

2 comentários:

mzmadeira disse...

Obrigado José Luís, pela colaboração. Espero vê-lo por aqui mais vezes.

Jorge-Vieira disse...

Viva amigo Madeira:

Lendo mais esta sua etapa, que está muito boa, é impossível não deixar de ter a mesma opinião.
Quanto a jornais e no que toca ao ciclismo, só leio "A Bola", e já há alguns anos que é o meu o jornal de referencia em todas as competições, desde o Tour à Volta a Portugal. Esta Volta, "A Bola" continuou o seu excelente trabalho, e existiu pelo menos uma etapa que não consegui ver na televisão, e que após a leitura da cronica no dia seguinte fiquei a par a passo do que se tinha passado.
Quanto a radios e ao ciclismo, destaco a Renascensa, pelo menos no programa da noite que nos dava o resumo do dia, e que passava por volta das 22H20, sem duvida um programa de referencia e que em todos estes anos tem vindo a melhorar, para se ter uma ideia, é comparavel ao resumo que viamos na RTPN à noite, só que falado.
Quanto à nossa RTP e à transmissão, este ano paraticularmente esteve impecável, e para isso muito contribuiram os motards e cameramens que nos trazem o Tour, mas existiram pormenores deliciosos, como aquele que o amigo Madeira retrata na etapa da Serra da Estrela, e para isso é preciso entender-se muito de ciclismo e a dificuldade daquele percurso em que os carros não podem dar apoio a quem vai na frente da corrida.

Quanto aos outros programas da RTP coincidirem com a transmissão em directo num outro canal RTPN, eu não consigo entender, mas isto eu já escrevi algures aqui numas etapas anteriores, por isso não me vou voltar a repetir, mas ainda bem que o meu amigo fez o favor de voltar a este tema. Era sem duvida importante que a RTP revisse isso, porque quem goata de ciclismo, e tendo a transmissão noutro canal, nem exita... mesmo que o programa seja da sua terrinha, seria bom a RTP trocar os programas para o canal principal, bem como o resumo de 30 minutos.

Relativamente à infelicidade do comentador, em dizer que determinado ciclista andava a passar a camisola amarela, é sem duvida uma infelicidade, porque nenhum corredor por mais forte ou fraco que seja, não inverga uma camisola para a andar a passeare muito menos numa Volta a Portugal.
Relativamente ao Marco Chagas e João Pedro Mendonça, está tudo dito, um trabalho ao nível daquilo que temos tido nestes ultimos anos, e sem duvida do melhor que temos.