[Acordo Ortográfico] # SOU FRONTALMENTE CONTRA! (como dizia uma das mais emblemáticas actrizes portuguesas, já com 73 anos, "quem não sabe escrever Português... aprenda!») PORTUGUÊS DE PORTUGAL! NÃO ESCREVEREI, NUNCA, NUNCA, DE OUTRA FORMA!
quinta-feira, agosto 17, 2006
209.ª etapa
SEGURANÇAS(?)
Sou do tempo em que ainda não era preciso haver "seguranças" na Volta. Havia, isso é verdade, uma meia dúzia de figuras contratadas - pelo menos pelo seu aspecto - no cais da estiva do porto de Leixões, de volumosa barriga fora da camisola suja e transpirada que, mais pelo aspecto e pelo cheiro do que por outra coisa, afastavam as pessoas das "portas" de entrada na zona de chegada. Até essa porta, a uma boa centena de metros da meta, corríamos - não me excluo porque também fiz isso - então atrás dos corredores para, sem lhes dar tempo sequer a respirar querermos à viva força uma declaração que, naquelas circunstâncias, nunca passava do "foi duro e difícil mas estou contente..."
Já no fim da era JN a segurança chegou a ser feita por um grupo de pára-quedistas. Era mais funcional. Os portugueses sempre respeitaram (e temeram) as fardas.
Agora as coisas são diferentes, mas contratar uma empresa de segurança até nem é original. A primeira vez que isso aconteceu, ainda no tempo do JN - creio até que seria a mesma empresa que fez a segurança este ano, pelo menos, tanto quanto me lembro, os uniformes eram semelhantes - e no primeiro ano, quem comandava a equipa na Volta era o pai do corredor Paulo Ferreira.
Só estive uma tarde na Volta. Foi em Lisboa. Apesar de ser o jornalista da escrita, em actividade, com mais voltas feitas, de nos últimos 16 anos ter coberto mais de uma centena de corridas e de toda a gente me conhecer, quando cheguei ao recinto da chegada, e apesar de levar colocada uma "pulseira" azul a dizer VOLTA-LISBOA-6 DE AGOSTO, ainda foi preciso o Fernando Petronilho, responsável pela montagem e organização das Salas de Imprensa e pelas informações oficiais da corrida, para os jornalistas, dizer ao senhor da "porta" que «é um convidado, tem acesso aonde quiser ir...»
Dali passei!
Mais à frente, junto ao camião de onde trabalham as rádios, já não me foi permitida a passagem. O Joaquim Vieira, o Alex, o João Carlos Garcia tiveram de vir cá fora e debruçar-se no varandim para me abraçarem. Para eu os abraçar. A minha última intenção seria a de prejudicar os colegas que estavam a trabalhar, mas...
Depois, tive, de facto, acesso à zona VIP onde pude estar com alguns dos muitos amigos que tenho no ciclismo, e foi aí que vi a etapa, num dos vários monitores de televisão. Até tive direito a uma garrafa de água, mas podia ter pedido qualquer outra coisa, que era à borla. Mas eu agora estou a água.
Mais tarde, já depois da etapa terminada, o Fernando Petronilho combinou comigo - tinha ido com ele e regressaria com ele à Sala de Imprensa, que ainda ficava longe - encontrar-mo-nos junto ao camião onde funcionava a sala das Conferências de Imprensa. Para lá me desloquei mas não pude entrar. Apesar de vários colegas terem tentado dizer ao segurança que eu podia entrar, o home foi inflexível: «Aqui... só jornalistas!»
Jamais eu faria uso dos meus documentos para entrar ali. A não ser, se ele mos tivesse pedido para ver se me deixava entrar ou não. Não o fez. Mas tudo bem. Se não tinha o "crachat" ao pescoço é porque não pertencia ali.
O mesmo aconteceu na entrada para a zona do pódio, onde ainda fiz intenção de entrar mas da qual me afastei ao ver que o centro de todas as atenções era o senhor José Castelo Branco. A esse não barraram a entrada, como me fizeram mais tarde, já depois da cerimónia de pódio e quando só queria ir ter com os meus companheiros de A BOLA que cobriam a corrida. Acabei por entrar, sim senhor, mas porque o Joaquim Gomes deixou a pessoa com quem estava a falar e me veio buscar quando eu já me afastava.
Ao contrário do que possam estar a pensar, EU não sou a personagem desta história e os exemplos atrás até são de reconhecimento pelo trabalho dos homens da segurança. Dizem-lhes: «Aqui e ali só entram estes...» e eles cumprem. Óptimo. Nada contra.
Toda esta lenga-lenga para chegar aonde quero. Ao objectivo desta crónica.
De entre os vários homens que compõem a equipa de seguranças, deu para ver na televisão que há dois com uma missão bem específica: escoltar o vencedor da etapa, afastando-o dos chatos dos jormalistas. Ok. Já escrevi lá atrás que também eu corri atrás deles, mas hoje mudei de ideias e acho perfeitamente disparatado o querer-se que um corredor, depois de 180 km e de um sprint a 70 à hora, diga seja o que fôr com o mínimo de discernimento. Até porque depois há um espaço para uma conferência de Imprensa. E que interesse terá, seja para quem fôr, ouvir um corredor que apenas rolou no pelotão mas porque, sendo o que está mais à mão, não escapa ao microfone quase a esborrachar-lhe o nariz?
Agora é que vem a verdadeira questão. Aquilo que originou este artigo.
Dizem aos homens: «Vocês vão a correr (e eles vão) apanham o vencedor e trazem-no para aqui e não deixam ninguém chegar ao pé...»
E eles querem fazer isso mesmo. São funcionários da empresa, querem fazer o que lhes é mandado para que o chefe, e depois o próprio patrão, não tenham nada a dizer do seu trabalho. Pudera. Não é fácil arranjar emprego nos dias de hoje.
Mas, por exemplo, na etapa do Fundão, o pobre do Nentcho Dimitrov, técnico adjunto da DUJA-Tavira e búlgaro como Krassimir Vasilev, o vencedor da etapa, quase não conseguiu abraçar o seu corredor, ainda que usasse um equipamento da formação algarvia vestido. Caramba! Para obedeceram ao SEU chefe, os seguranças não deixavam nem um dos CHEFES do corredor cumprimentá-lo. Nem os companheiros de equipa que vinham dar-lhe os parabéns. Também, não levem a coisa tanto à letra.
Para "salvarem" o corredor do sufoco dos jornalistas, "sufocam-no" eles os dois sozinhos!!!
Não era mais fácil por mais uma barreira, ao fundo da zona de desaceleração, com uma porta por onde os corredores passassem? Os corredores e os seus massagistas, que em algumas etapas mal conseguiram chegar ao pé deles? Os jornalistas não passavam dali e pronto!
Algumas chegadas foram "adornadas" destas cenas caricatas. Nem os massagistas, que sempre estão depois da meta para receberem os corredores, dar-lhe uma água, qualquer coisa que eles necessitem, podiam tocar no vencedor da etapa que os dois seguranças se mostraram - creio que eram sempre os mesmos dois - demaziado zelosos.
E dei comigo a pensar "que falta de sensibilidade, se os mandassem tirar a chucha a um bebé eles faziam-no". Sem pensarem. Aquela cena da chegada ao Fundão não me sai da cabeça. Se os homens pudessem andar armados de pistola, ai não sei... mas o pobre do Nentcho, que só queria abraçar o SEU corredor, o seu amigo, o seu compatriota... ainda via uma pistola apontada ao nariz. E houve corredores, que por serem de estatura maior, se viram e desejaram para pedalem ao ritmo da corridinha dos seguranças porque iam todos atrofiados debaixo dos seus braços. Pareciam ladrões apanhados em flagrande delito. E os seguranças polícias.
Revejam lá essa postura. Se fizerem favor.
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