sábado, agosto 05, 2006

184.ª etapa




VAMOS PELO "ATAQUE É A MELHOR DEFESA?»



Escapa a todas as tácticas, mas do «Convento só sabe quem está lá dentro».
Socorro-me do dito popular para tentar perceber a estratégia da LA Alumínios-Liberty.
Ok... vamos "puxar a fita atrás" e fazer um exercício de enquadramento do que estou a querer dizer...

Em que grande prova por etapas é que um dos, senão o principal, candidato assume a camisola amarela no primeiro dia? Ainda por cima numa corrida com as características da Volta a Portugal?

É uma volta pequena, de apenas dez etapas e este ano com a agravante de as etapas presumivelmente decisivas serem mesmo as... quatro últimas. Ditava a lógica que os potenciais candidatos se resguardassem e que as respectivas equipas tentassem ter o menor desgaste possível até ao momento "M". A LA mandou a lógica às malvas e, não só meteu um homem - Luís Pinheiro - na grande fuga do dia (o que até se compreende, já que alijeirava a equipa de uma perseguição sempre desgastante ), como não ganhou a etapa "por acaso". Não. Foi um trabalho preparado - e bem preparado, e melhor executado - para levar o Cândido à camisola amarela.

Se fosse eu... mesmo "atropelando" a tal lógica, teria feito o mesmo. A "alma" da equipa é Cândido Barbosa e se para ter o "corpo são" tivesse que sanar eventuais faltas de afirmação da "alma", ah!, não hesitaria.

E parece-me, a mim, que foi o que aconteceu. Ciente que está devedor, provavelmente, mais a si próprio do que em relação a terceiros, de resultados, este ano, o Cândido terá imposto a si próprio provar que a camisola amarela que lhe fora investida simbólicamente... já estava no dorso certo. Isto ultrapassa, como compreenderão, as frias jogadas tácticas. E desde quando é que Cândido Barbosa é um homem frio? E como poderia o seu director-desportivo ter-lhe impôs-to outra coisa se era isto que ele desejava?

Mas, em que pé ficamos, afinal? E é isto que mais interessa. Temos que, e volto à tal lógica, em vez de uma camisola amarela quase que irremediavelmente a prazo - e não fui o único a prever uma rotatividade da liderança nestes primeiros dias - a temos já na posse de um dos mais sérios candidatos. O cenário é o seguinte (sem querer fazer futurologia): caso o Cândido Barbosa não vença esta Volta a Portugal, ao contrário do que aconteceu o ano passado - quando ele a perseguiu tenazmente - é que... a teve e a deixou fugir. É muito arriscado. Tremendamente arriscado.

Mas que consequências terá isto na etapa de amanhã? Acho, sinceramente, que quase nenhumas. Nenhumas mesmo. Em jogo estão as vitórias nas etapas, objectivo máximo de 90% do pelotão, mas a LA não se livra de ser alvo de algumas... "provocações" durante a viagem até Lisboa. O que a obrigará, prematuramente, na minha opinião, a um desgastante estado de "alerta permanente".

Neste momento da corrida não há fugas inocentes. E o facto de o líder ser mesmo um dos principais candidatos à vitória final só vem baralhar as coisas. Que fará amanhã a LA perante uma fuga... como a de hoje, por exemplo. Claro, a primeira ordem de Américo Silva será a de que, qualquer que seja a tentativa, um dos seus homens tem que lá estar obrigatoriamente. Mas já não será como a fuga de hoje. Imaginemos que nessa fuga, para além do homem da LA - que nunca será o Cândido, nem o Nuno Ribeiro - vai um corredor de outra equipa que pode ameaçar os objectivos da equipa, em termos de história global da corrida. Só há uma coisa a fazer: perseguir. E a LA não vai encontrar aliados nessa tarefa. Toda a despesa da perseguição lhe cairá sobre os ombros (ou as pernas). O que leva a um desgaste, desgaste esse que os seus principais rivais olharão de sorriso nos lábios.

A equipa está preparada para isso - senão não tinha assumido a liderança da corrida no primeiro dia? Talvez. Quem nunca ouviu dizer que a melhor defesa é o ataque? A outra única explicação para o desfecho da etapa de hoje seria a de que Cândido estava mesmo a precisar desta "injecção" de confiança. E amanhã a equipa pode deixar "cair" a liderança. Nesse caso teria sido um grande e sonoro aviso à concorrência, que significaria, mais ou menos, isto: «Não façam pela vida não, é que nós não temos sequer medo de assumir a camisola amarela logo no primeiro dia».

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