sexta-feira, agosto 18, 2006

212.ª etapa



VOLTA - RESCALDO II


Em consciência, o que é que a LA Alumínios poderia ter feito, e não fez, para ganhar esta Volta? Eu digo… nada!
Achei arriscado, e escrevi-o logo na altura, a equipa ter assumido o controlo da corrida logo ao primeiro dia. Mais porque assim “aligeirava” a concorrência da obrigação de trabalhar na frente do pelotão do que por achar que não tinha capacidade de ela o fazer. Tinha. E teve.
Ah!, mas permitiu que acontecessem, pelo menos, três fugas que “deram” em três camisolas amarelas para outras equipas. Sim, é verdade, mas naquela altura quem é que não sabia que as referidas lideranças eram a prazo? Por acaso aconteceram em sequência – até ao cúmulo de ser uma por dia – mas estariam previstas como uma possibilidade a acontecer. Nunca, até à etapa da Guarda, a LA deixou de estar numa posição previlegiada para poder decidir a corrida a seu favor.

É verdade!, acho que a “chave” desta Volta esteve na etapa da Guarda. E, mais do que a Maia – que tinha a camisola amarela – quem mais saiu a perder nesse dia foi a LA.
A estratégia de meter o Cândido numa fuga, enquanto o seu homem melhor classificado, o Hector Guerra, ficava no pelotão junto ao João Cabreira, foi talvez o grande erro de Américo Silva. A concorrência SABIA que o homem da equipa para ganhar a Volta era o Cândido e não morderia o isco. Na verdade, ao colocar-se à frente do seu chefe-de-fila na Senhora da Graça, o espanhol baralhou todos os planos da equipa. Melhor, dinamitou o plano da equipa, que mostrou não ter mesmo um "plano B".
Atenção que eu digo ter sido a etapa da Guarda a “chave” da Volta, mas digo-o agora, depois da corrida ter acabado. Também eu, naquele dia, não percebi que o David Blanco era, de facto, candidato à vitória final.
Foi deliberada, aquela parte final da etapa, com o Blanco em fuga, ou aconteceu? Isso jamais saberemos. O Vicente Belda é um dos técnicos mais astutos do pelotão internacional e, tomando como boa a hipótese de nada ter sido planeado, a partir daquele momento soube gerir a situação com mão de mestre. Como? Mantendo a equipa, e o David Blanco “escondidos” no pelotão. A “guerra” era entre a LA e a Maia, ele, com a “presa” no laço, não o puxou de imediato, deixou-a “comer” o resto do isco e só no fim a apanhou. Se alguém no pelotão percebeu isso só pode ter sido Manuel Zeferino, não só porque é o técnico português que mais vezes teve de medir forças com a equipa valenciana, mas, acima de tudo, porque tanto Belda como o próprio Zeferino tiveram um “mestre” comum… Álvaro Pino que, por sua vez aprendeu com Rafa Carrasco que, se a memória me não engana, chegou a orientar os três na Zor, nos anos 80, quando Zeferino correu em Espanha.

Mas voltemos à LA. Creio não me ter enganado quando escrevi que Cândido Barbosa “fez questão” de ganhar a primeira etapa para ser o primeiro líder oficial da corrida. E a LA deu, nessa etapa, mostra de ser capaz de lidar com o pelotão… se as etapas tivessem sido todas semelhantes. Aliás, à chegada a Lisboa a sua estratégia voltou a funcionar. Mesmo a eventualidade de um dia perder a camisola amarela estaria de todo prevista. Até a Maia dos anos 2001/2004 não se “atreveu” a assumir a corrida do primeiro ao último dia. E os seus responsáveis certamente aceitarão que esta LA está ainda longe do poderio daquela Maia. Quando Zeferino saía com três chefes-de-fila e seis homens que controlavam a corrida a seu belo prazer. Nos próximos anos não teremos nenhuma equipa com um grupo de operários como Gonçalo Amorim, Renato Silva, Paulo Barroso, Rui Sousa, Pedro Cardoso, Victoriano Fernandez, Carlos Carneiro… (vou-me sempre esquecendo de algum!...). Todos se lembrarão ainda que em 2002 a Maia chegou ao “crono” final com três homens nos primeiros três lugares e que nesse mesmo “crono” Claus Möller “roubou” a amarela a Joan Horrach. Rui Sousa foi o 3.º classificado.

Na etapa da Senhora da Graça era mais do que previsível que a Maia ia atacar. E era quase certo que ganharia a etapa. Manuel Zeferino mostrou, outra vez, que é o melhor estratega do nosso pelotão e jogou tudo na generosidade de João Cabreira que, atacando no Viso, “despistava” a concorrência que ficou à espera – principalmente quando ele se deixou ficar para trás e permitiu a recolagem do grupo onde vinha antes – que o trunfo para a subida final seria outro. No género do «queres que a gente marque o miúdo, mas a mim não enganas». Enganaram-se.

E acredito que o Américo Silva também quis jogar no “bluff” quando no dia seguinte lançou o Cândido na fuga. Mas porque havia a Maia – apesar de ter posto na mesma fuga dois corredores, mostrando que estava atenta – de correr atrás do Cândido, mais do que o necessário, se o melhor colocado da equipa rival ia no pelotão junto com o camisola amarela? Lançar o Hector Guerra para a fuga, isso sim, teria originado grandes dores de cabeça para a Maia. Apesar dos exemplos dos dias anteriores, não acredito que ninguém tivesse previsto que a corrida ia mudar de etapa para etapa. Por isso as fugas seriam para ser controladas à distância. E o Américo Silva ficou à espera do próximo lance do Zeferino, na etapa da Torre, e este à espera que a LA batesse as suas derradeiras cartas na mesma etapa. E o facto de a camisola amarela ter ido parar ao tronco do austríaco Christian Pfannberger só veio ajudar a manter as coisas som aquela espécie de manto de nevoeiro. No qual Vicente Belda se manteve escondido, e David Blanco à vontade. Ninguém olhou para ele até reparar, depois da chegada ao Fundão, que podia vir a ser um perigo real. Como foi.

E o que aconteceu na etapa da Torre só vem provar que a LA não tinha mesmo o tal "plano B". A sua estratégia estava certa. Tirando o golpe de asa da DUJA-Tavira, os comandados de Américo Silva seguiram à risca o que estava planeado… desde Portimão. Provavelmente esperavam que na Senhora da Graça tivesse sido Pedro Cardoso ou Danaíl Petrov a ganhar, mesmo a vestir a camisola amarela, mas confiavam que, controlando, como fizeram, a etapa da Torre, ao Cândido chegaria o contra-relógio para ganhar a Volta.
Petrov perdeu 2.17 para o Cândido, no “crono”, e Cardoso 2.39.
E o Hector Guerra à frente do Cândido também atrapalhou muito.

Tentando resumir.
Não me parece que a LA não tenha feito o que podia para ganhar a corrida, à excepção daquela tal jogada furada da fuga do Cândido; e não creio que o Manuel Zeferino tenha feito “bluff” continuado acerca da juventude da equipa. Era verdade. O que ele fez foi desviar constantemente a atenção de todos dos seus homens com quem contava para discutir a Volta, “obrigando” toda a gente a “olhar” apenas para os mais novos que, nessa etapa da Guarda até foram os três últimos a cortar a meta. Um deles fora do controlo. Mas o técnico da Maia sabia até onde podia contar com eles, e não contava, certamente, que eles estivessem na frente a controlar a corrida. O que ele queria era que a LA se mantivesse na frente, desgastando-se o mais possível. Mas a LA teria sempre essa responsabilidade.

Sem comentários: