sábado, agosto 12, 2006

197.ª etapa



AINDA LONGE DO "XEQUE-MATE"



Não, não cumpri, tal como o pelotão, um dia de folga. Aconteceu que ontem a minha linha telefónica ficou "muda". Por isso não tive acesso ao mundo global. Pior era ter partido uma perna, mas que não gostei que da PT me tenham dito que só era possível consertar a avaria na… 2.ª feira (???). Pelos vistos valeu a pena a berraria que fiz. Infelizmente. Sim, infelizmente. Porque depois da “peixeirada” do início da última madrugada, e de ter de provar que sou jornalista, hoje de manhãzinha já tinha a linha disponível. E se não o fosse? E os que não são? Então… a empresa que mais vale na bolsa não tem piquetes de serviço 24 horas por dia? Ou só servem para “casos especiais”? Sinto-me envergonhado por ela, a PT. Nunca tinha tido qualquer problema, mas se é assim em todas as áreas… se calhar não é só pelos preços mais baixos que as pessoas estão a mudar de operadora. No que respeita às linhas a PT mantém o monopólio porque senão, ontem mesmo eu tinha mudado.



Mas vamos à Volta que e por isso que aqui venho. Sem pretender ser original, tenho que o ser. Antes de tudo o mais, um grande VIVA à juventude… desse eterno Carlos Pinho. O homem fez 36 anos no passado dia 30 e quantos ficaram à sua frente hoje? Três. Exactamente. E foi o segundo melhor português na etapa Raínha da Volta. Daqui um apertado e forte abraço para esse sempre jovem herói da estrada que, muitas vezes, viu os seus feitos passarem ao lado das crónicas dos jornais. Parabéns Carlos!
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Amigos, que posso eu dizer desta etapa senão que foi mais uma etapa espectacular? Lembro-me de lutas titânicas, de inesperados favoritos que saíram de onde menos se esperava, assisti ao nascer de estrelas e ao ocaso de outras mas, sinceramente, não me lembro de uma Volta assim. Apesar desta leitura ser feita à distância mas até por isso não ser objecto da paixão vivida a quente.
Todos os dias fico encantado.

Foi valente o João Cabreira. Atacou e passou sozinho no alto do Viso. Recolheu ao grupo da dianteira e foi, outra vez, a grande figura na subida final, ganhando de forma imperial. Outro corredor com menos de 25 anos. Por favor… aqueles que seguem mais atentamente o ciclismo lá fora… digam-me, em que grande volta se viu assim a juventude a imperar? Portugal ciclista, tens aqui, à tua frente, o futuro. Delicia-te. Sonha com tudo o que estes jovens ainda podem fazer.
É só o que me apetece dizer…

Mas há mais a dizer.
Foi uma etapa dura. Mas tinha que ser. Uma Volta a Portugal tem que definir as fronteiras que a separam dos grandes prémios – embora não seja apologista dos grandes prémios
“só para treinar”, aqui tem toda a razão o professor José Santos quando lamenta o facto de o pelotão (jovem) não ter oportunidade de ser testado em algumas destas subidas ao longo da temporada. Contudo, também reconheço à PAD o facto de não querer “desgastar” estas mesmas etapas (como a da Torre) ao longo da época. Sobram os outros organizadores… Não se peça tudo aos mesmos.

Não é bem o
“atalho” que vem mais a propósito, mas passo já para as declarações de Cândido Barbosa, no final da etapa. Fui um dos que mais se opôs à “vontade” muito generalizada de quererem “colar” o traçado da Volta ao Cândido – escrevi-o mais do que uma vez, nunca vi corrida “traçada à medida” de fosse quem fosse – e hoje oiço, boqueaberto, o Cândido a dizer que «há gente que não quer que o Cândido ganhe a Volta»!!!
Caramba!..., mas a Volta
“era” para o Cândido?
Descontemos o calor com o qual estas palavras foram proferidas.

Escrevi-o logo assim que soube o traçado da Volta e escrevi-o antes de toda a gente. Aconteça o que acontecer – e pode acontecer ainda tanta coisa –, esta é uma Volta com um certo toque de… jogo de xadrez. Quando se move uma peça – e se quer mesmo ganhar – é já a pensar no 4.º ou 5.º movimento que se vier a fazer a seguir. Fazer
“xeques” consecutivos pode animar a malta, mas o que vale é o xeque-mate!…
Que, para mim, está longe. Há demasiadas peças ainda no tabuleiro. Se o ano passado tivemos um
“xeque pastor”, que acabou com o jogo quase no início, este ano, a isso pelo menos, escapou-se.

Mas chamemos as coisas pelos nomes que não fui eu quem traçou estratégias ou mandei pedalar. Ou pedalei.
Ainda bem que fui fazendo uma crónica diária para que não venham dizer que estou a fazer leituras parciais. O que tinha a escrever… escrevi.
Foi muito, muito estranho, ver um dos candidatos principais – se não o principal – empenhar-se em vestir a camisola amarela logo no primeiro dia. E digo-o, outra vez., agora, pelo mesmo motivo. Ainda ninguém pode dizer o que vai acontecer, por isso…
Ora, é sabido que as despesas de controlo da corrida correm – passe a repetição da palavra – por conta da equipa do líder. Então…

Já andei lá perto mas ainda não o escrevi hoje. Mas vou escrever. Logo quando soube do traçado da Volta escrevi que a vitória final ia ser jogada… atrás, nos carros de apoio. Implicíta ficou a ideia de que o melhor estratega levaria vantagem. E, pelo menos no final da etapa de hoje viu-se quem é o melhor estratega. Foi tudo perfeito.
Que haveria de haver um ataque da Maia, disso ninguém duvidaria. Ao lançar João Cabreira no Viso…
“parecia” que estava a queimar um trunfo apenas para que os adversários mostrassem um pouco o jogo. Pois é. Estavam todos errados. Manuel Zeferino “bateu” um trunfo e… na jogada final jogou o mesmo trunfo. Quando todos os outros estavam guardados por iguais seus. Leia-se: homens capazes de, na montanha, fazerem a diferença.
E repare-se nas
“parelhas” que cortaram a meta juntas. Rui Sousa com Danail Petrov – embora o Rui um pouco mais à frente – e Nuno Ribeiro com Bruno Pires. Para marcar o João Cabreira estava o Hector Guerra. E esteve muito bem. Muito bem mesmo. Mas não chegou para evitar a vitória do corredor da Maia.
E espero que a minha leitura seja bem entendida. Sem equipa, sem
sprinters para fazer frente ao Cândido… a Maia tinha de esperar pelo terreno onde mandassem, mais que o colectivo, as individualidades.
E os adversários sabiam-no.

Apesar de Cabreira ir na frente, quando vi o Rui Sousa
“a meio” caminho “li” logo a corrida. É de cátedra. Adianta-se um corredor, depois, vindo de trás, aparece o seu chefe-de-fila e já tem ali um apoio que ajuda a chegar ainda mais à frente… Rui Sousa esperou, esperou… esperou… e nada. Lá na frente o corredor da Maia já abotoava a camisola para as fotos da chegada! E, ainda agora que estou a rever a etapa em gravação, o Marco Chagas sublinha o facto de a LA estar quase toda na frente. Esteve. Menos na hora da verdade.
Depois disto vir dizer que
«... não querem que o Cândido ganhe a Volta» acho que isto é, pelo menos, desrespeitar todas as pessoas que em todas as chegadas vitoriaram o Cândido.
E estou à vontade para dizer isto porque até somos amigos.

A verdade, e cinjamo-nos aos factos, é que está tudo… mais complicado ainda. Hoje, agora, NÃO há um candidato definido e, para mim, a etapa de amanhã é a etapa-chave.
A Serra da Estrela não vai dar em nada e… sobra o contra-relógio.
Uma vez mais vai ser a última etapa a definir o vencedor da Volta. Isto é bom. Melhor do que no ano passado.

Quem sabe se na próxima 3.ª feira não há
“retoques” em alguns discursos. Para mim tudo será bom, mas aquele Pfannberger começa a fazer-me “bortoeja”, como se diz no meu Alentejo.

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