segunda-feira, agosto 07, 2006

187.ª etapa




E O CIRCO DESCEU À CIDADE...



Ontem visitei a Volta. Uma situação inédita para mim, habituado a, nos últimos 15 anos , fazer parte dela, no "pelotão" de jornalistas. Inédita e... estranha. Senti um enorme vazio por não ter o meu lugar à frente de um computador... Mas a vida continua e gostava de agradecer o grande carinho que os meus camaradas de lides me dispensaram.
(Eu também sinto a vossa falta, companheiros.)

Sem a preocupação de estar concentrado na corrida pude "cirandar" um pouco pelos bastidores. É significativo o esforço que a organização vem a fazer para criar um ambiente paralelo ao da corrida em si, levando à "village" figuras públicas de outras áreas, colunáveis, "habitués" das revistas "cor-de-rosa" e dos tablóides. Acontece também, por exemplo, na Vuelta - e estou sempre a falar da Vuelta porque é a corrida no estrangeiro que melhor conheço.

Foi "palpável" o interesse do público em ver de perto as figuras que só vê na televisão ou nas reportagens sobre o "jet-set" naquelas publicações. Mas atenção! Quem quer que seja que mande - e fiquei "incomodado" por ter percebido que há muita gente a mandar e nem sempre se entendem entre si - deve ter chumbado consecutivamente a geometria pois parece desconhecer a primeira, grande e ÚNICA definição de PARALELO. Que NUNCA se encontram, não é verdade?

Onde quero chegar? Pois bem, que exista uma "feira" paralela ao ciclismo - com figuras mais ou menos exóticas - tudo bem... mas levar o senhor (?) José Castelo Branco ao pódio, por todas as alminhas... Não havia necessidade.
Que, por uma questão de conveniência muito particular, tenhamos que suportar as "forças vivas" locais, ainda dou de barato. Também na Vuelta os señores alcaldes têm lugar marcado no pódio, mas figuras (???) criadas por uma dada imprensa???
Meus senhores, não misturem as coisas. Não confundam as coisas. Não se confundam e não confundam os espectadores. Mais... tenham o mínimo de respeito, que a isso eles têm direito, pelos verdadeiros e ÚNICOS heróis da Volta: OS CORREDORES.

Aquele... aquela... sei lá o quê? Aquela "coisa" de fato preto e chapéu a condizer, com fita amarela - repararam no pormenor da fita amarela? - JAMAIS cabe num pódio. Foi, mais do que provocador ou de simples mau gosto. Foi asqueroso. E quem teve a "brilhante" ideia uma coisa, pelo menos, ganhou: a minha total indignação. Minha e, de certeza, de muitas outras pessoas.

Não levem tão à letra isso de às vezes nos referirmos à Volta como o "circo". Sem qualquer espécie de desprimor por essas figuras fundamentais para o verdadeiro circo, PALHAÇOS, ali, NÃO!!! NUNCA!

E, estando misturado entre os espectadores, fui OBRIGADO a afastar-me por não suportar que as pessoas se acotevelassem, pisassem e empurrassem quem estava por perto, não para ver os corredores mas para verem a tal figura. LAMENTÁVEL. Mil vezes lamentável.

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Lamentável foi também o que aconteceu já depois de cortada a meta. Ao querer aproveitar ao máximo a excelente recta, a organização "esqueceu-se" da fundamental zona de desaceleração, ainda por cima quando se adivinhava a chegada de um pelotão compacto e bastante embalado. Aconteceu, pois, uma sempre indesejável queda colectiva, com alguns (demasiados - numa situação destas) corredores a sairem maltratados.

Lamentável também que, poucos instantes depois do acidente circular já no ar a mais "conveniente" das justificações: a culpa terá sido de um repórter fotográfico. Caramba... é preciso que aquele momento único, da vitória numa etapa, fique perpectuado através das fotos que os profissionais tiram e o seu local de trabalho é ciosamente limitado pela organização. Mesmo que tenha sido por um profissional se ter mexido para fazer o seu trabalho, estava dentro dos limites que lhe impõem para o fazer e não é ele que tem de arcar com as culpas que deveriam ter sido assumidas pela organização ao não prever a tal zona de desaceleração após a meta, sabendo que, quando os corredores da frente tivessem necessidade de travar para não entrarem pelos jardins da Praça do Império dentro, os que vinham atrás, ainda a rolar a grande velocidade esbarrariam inevitavelmente com os da frente. Mesmo que ali não estivesse ninguém...

Já gora, e porque é que estava tanta gente naquele espaço de pouco mais de 50 metros? Quem era aquela gente? Na televisão vi populares a circularem por entre os corredores caídos, um deles chegou mesmo a segurar o doutor Marcos Miranda por um braço. Era familiar de algum corredor, preocupado com este? Mesmo se fosse NÃO PODIA estar ali.

E termino com uma observação. Rápida, que fiquei farto de "ferir" susceptibilidades ou estilhaçar amores próprios e auto-estimas. Apresento só UM FACTO.
Porque é que na Sala de Imprensa da Vuelta há quatro vezes mais jornalistas que na da Volta e nas chegadas há quatro vezes menos?

1 comentário:

Jorge-Vieira disse...

Viva amigo Madeira:

Estive a ler as suas etapas desde que começou a nossa Volta a Portugal, e desde já, para quem não viu via televisão, tem aqui um excelente meio de as acompanhar... e ao pormenor.
Vim aqui, e depois de ler esta sua ultima etapa, a 187ª, em que retrata um pouco daquilo que é "mau" na organização da Volta, e desde já concordo consigo... aquela coisa(homem/mulher?)com um chapeu de fita amarela num podium???? Não lembra a ninguém, mas estamos em Portugal e cá qualquer um é VIP... basta aparecer na televisão, por isso não se admire muito se um dia vir o "Emplastro" (aquele sujeito do Porto que anda sempre atrás de uma camera de televisão) num podium....

Mas já que estamos a falar de coisas menos boas na organização, eu vou contribuir para mais uma, desta vez com nossa televisão publica, a RTP.
Comprei o jornal "A Bola" de sabado passado, li e reli o suplemento detalhado sobre a Volta a Portugal, e deparo-me com uma noticia no minimo estranha, a qual vou colocar aqui o titulo:
"Essas mulheres mudam a Volta", depois de ler o artigo em causa, vejo que a RTP obrigou a Volta a Portugal a ter horarios menos dignos para os atletas de alta competição, dado que estamos no mês de maior calor em Portugal, porque tem medo de perder uma determinada audiencia por motivos de uma telenovela.
Mais "chocado" ainda fiquei quando dizem que as grandes competições internacionais os atletas cumprem o mesmo tipo de horarios, ora, fazendo bem as contas, quando em Espanha, França, Italia, são 17H, cá são 16H, por isso se a gente fosse seguir o hoarario dessas comeptições, teriamos no minimo de ter as etapas a acabar ainda uma hora mais tarde, assim digamos que ficariamos identicos.
Relembro também que geralmente esses horario são efectuados em altas de alta montanha, muitas em que os corredores andam 6 a 7 horas em cima de uma bicicleta, e aqui não, estamos a fazer isso em etapas completamente ou quase planas.
Não me recordo de nas grandes competições os atletas sairem perto da 13H da tarde para cumprirem etapas, geralmente saem uma ou duas horas mais cedo.
Acho desumano aquilo por os corredores passam, correrem sob temperaturas de 40 ou mais graus, porque uma telenovela e um programa com uma hora meia para encher chouriços, consegue ser mais importante do que a corrida em si.
Isto leva-nos ainda a outro patamar, se a RTP tem mais que um canal, pelo menos o canal 2, porque não passar a Volta para o Canal 2 e os corredores sairem a horas mais dignas do que andarem na estrada, sem serem a fritar, para terem pouco mais de 50 kms de directo? -Para isso o canal 2 dava-nos a etapa em directo desde o seu inicio até ao seu termino, e depois até podiam coincidir os dois canais na parte final das etapas.
A RTP, tem também a RTPN, como se sabe um canal apenas distribuido por operadoras de Televisão por Cabo, acho também uma falta de respeito para com a modalidade e com os seus amantes, dado que ainda existe muita gente, que por vários motivos não tem televisão por cabo, e que é amante do ciclismo, que se vê privada dos melhores resumos (Jornal da Volta), porque o mesmo passa em formato mini, muito mini mesmo, no principal canal da RTP a horas que ninguém sabe e muitas vezesmetido num intervalo de um programa qualquer. Ainda hoje, mais uma situação caricata, a emissão da RTP1 começa, e os apresentadores nem notaram, pois estavam a comentar para a RTPN... outra que não lembra a ninguém foi cortarem a emissão de ontem logo no seu final, nem comentarios, nem podium....nada, por causa de uma corrida de toiros?????
Era importante que tudo o que envolvesse a Volta a Portugal, nos fosse trazido pelo principal canal da RTP, dado que estamos a falar numa das maiores competições nesta altura do ano, e como nem toda a gente tem televisão por cabo ou por satelite, vê-se privada do mundo maravilhoso que é o ciclismo.