quinta-feira, setembro 06, 2007

852.ª etapa


MAIS DÚVIDAS

No Dia.3 do affaire Cândido Barbosa, lidos os desportivos avolumam-se-me as dúvidas.

(Estou numa posição de mero observador, à distância. Não mantenho contactos. Não falei com ninguém. Não tive acesso ao comunicado da Liberty Seguros nem – li que iria ser distribuído um – a qualquer que tenha saído assinado pelo Cândido. Só sei o que leio nos jornais. E tudo o resto que aprendi ao longo de 16 anos…)

Já apresentei aqui uma série de dúvidas, mas a verdade é que nenhuma delas parece fácil de esclarecer.

Contudo, hoje salta uma afirmação clara do Cândido. Procura uma equipa que lhe garanta uma posição privilegiada para voltar a atacar a vitória na Volta a Portugal. E o Cândido já merecia ter ganho a principal corrida do nosso calendário. Mas…

O Benfica não tem já um candidato à vitória na Volta? Não foi em seu torno que a equipa foi formada? Onde encaixa o Cândido? Rival directo e interno do Zé Azevedo? É que nem dá para construir uma equipa que sirva os dois e depois deixar ver quem está melhor… Têm características totalmente diferentes.

Para levar o Zé à vitória na Volta o Benfica terá que prescindir de outros objectivos – nesta corrida –, nomeadamente, prescindir do(s) sprinter(s) que tiver no grupo de trabalho e levar uma meia equipa (quatro corredores) para assumir as despesas do controlo das etapas e outros quatro explosivos na montanha, para fazer, em relação ao Zé, o que a US Postal/Discovery Channel - com o próprio Zé - fazia para Armstrong.

Em relação ao Cândido – e eu sou o primeiro a reconhecer que há corredores que evoluem de uma especialidade para outra, ou melhor, para um estatuto de corredor completo (e terei sido dos primeiros a compará-lo com Laurent Jalabert, que começou por ser apenas sprinter e terminou a carreira como candidato ao triunfo nas maiores corridas) –, ele evoluiu, muito, como se vê de ano para ano e aos 33 anos está longe de estar acabado. Não pensem nisso. Mas a tal evolução nas características, como o próprio termo evolução define, é algo de… progressivo.

E a verdade é que nestes últimos três anos – aqueles em que o Cândido foi mesmo candidato –, tendo perdido peso (logo, massa muscular) de forma a estar melhor na alta montanha, não deixou de se manter sempre na luta pelo triunfo na Volta graças… às bonificações com vitórias em etapas levadas a ser discutidas ao sprint.

Então a sua equipa precisaria de ter mais três homens (o que é impossível).
Os mesmo quatro para controlarem a corrida – lembram-se do João Silva, Gonçalo Amorim, Paulo Barroso e, por exemplo, porque o quarto homem variou muito, Victoriano Fernandez na mais forte das equipas nacionais da última década? -, os tais quatro para o levarem na montanha e ainda três lançadores! É impossível, claro.
E alguma das opções seria fragilizada.

Pôr o Zé a trabalhar para o Cândido?
Se o Zé Azevedo já tivesse ganho duas ou três voltas a Portugal… se bem o conheço era homem para isso. Mas o grande objectivo do vilacondense é EXACTAMENTE o mesmo.

O Benfica formaria duas equipas – é necessário que o faça –, cumpria o seu compromisso para com o Zé, na Volta, e jogava com o Cândido – como finalizador – nas corridas no estrangeiro?
São as tais minhas dúvidas.

Ontem lemos que o principal patrocinador da Maia vê com bons olhos a possível contratação do Cândido. O problema é que o Manel Zeferino está habituado a ser ele a escolher o seu ponta-de-lança. E os resultados conseguidos falam por ele. E o Cândido encaixa naquele puzzle bem montado por Zeferino, ano após ano, mesmo nos anos em que não ganhou a Volta. Sem ter, contudo, deixar de ter sido uma equipa vencedora?

Hoje, e em palavras atribuídas ao próprio Cândido, junta-se a DUJA-Tavira como hipótese. Creio que o David Blanco tem ainda mais um ano de contrato. Assim repete-se a situação que se viveria no Benfica.

Há várias equipas, por esse pelotão mundial fora, com mais do que um chefe-de-fila mas, das duas, uma: ou falamos das ProTour, que são obrigadas a desdobrarem-se num calendário exageradamente longo e diverso e os líderes são, um para as grandes voltas, outro para as provas de um dia, ou corridas de uma semana; ou então os dois chefes-de-fila têm características semelhantes e os seus técnicos jogarão com o que a própria corrida ditar.

Há-de haver um dia em que um deles se destaca e o outro passa a ser apenas o seu escudeiro de luxo. Nada que implique grandes alterações nos métodos de trabalho, durante todo o ano, muito menos a inventar soluções alternativas em plena corrida.

Uma coisa é certa, lendo nas entrelinhas tudo o que o Cândido diz, a mim parece-me que ele já sabe qual é o seu futuro e, não sei porquê – não tenho pretensões nem dotes de vidente – creio que não será nenhum destes que ele próprio vem a alimentar.

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