sexta-feira, setembro 07, 2007

853.ª etapa


ESTÁ A SER MEDÍOCRE A COBERTURA DA VUELTA

Está a ser medíocre a cobertura que os OCS desportivos portugueses estão a dar à Vuelta. Que, insisto, para mim – o Giro é uma prova sobretudo doméstica, aberta às equipas ProTour –, é a segunda mais importante corrida por etapas do calendário mundial.
Já li que esta edição da corrida espanhola terá sido mal traçada.
Claro que não.

No meio – ou antevendo isso mesmo, porque o traçado há quase um ano que está definido – de tanto rebuliço que se adivinhava no seio da família ciclista, a Unipublic traçou uma Vuelta que, se as coisas tivessem corrido sempre dentro do que é possível prever à distância, por esta altura e ao fim de sete etapas poderíamos já ter um terço das equipas participantes satisfeitas porque poderiam muito bem ter acontecido vitórias de cinco ou seis equipas.

É um dos segredos que qualquer organização procura preservar.
Estamos a falar de projectos que, para além de desportivos são comerciais.
Os espanhóis – já referi que o Giro fica, definitivamente de parte – estudam, em termos desportivos, um percurso que possibilite a um espanhol vir a ser consagrado como vencedor. Mas não descuram a parte comercial – ou simplesmente de impacto (logo… publicidade) – que prenda às televisões o número suficiente de espectadores que justifique respostas positivas às sempre crescentes necessidades financeiras.

E, ao contrário do que possam estar a pensar, as três vitórias de Oscar Freire, potenciando o amor-próprio dos adeptos espanhóis penalizaram a organização.

Que preferiria ter tido italianos e belgas e franceses e, fosse quem fosse, a ser o alvo dos holofotes da CS. Porque isso iria aumentar o número de páginas que nesses países os jornais dedicam à Vuelta.
Está tudo a correr mal.

Mas não é só a organização da Vuelta que, por esta altura, estará a fazer as primeiras contas à vida.

O Ciclismo precisava – depois do que voltou a acontecer no Tour (principalmente… depois do Tour) – que uma fada boa usasse da sua varinha mágica e amparasse a sua (do Ciclismo) inexorável perda de credibilidade junto às massas.
Porque esta está a acontecer.

Mas, ao jornalismo desportivo (e não é só em Portugal) e como muito bem observou o Carlos Flórido num outro espaço na net dedicado ao Ciclismo, está já a faltar – e sem grandes esperanças de que se possa vir a inverter a situação – quem (e falo de Jornalistas) consiga, primeiro, junto das hierarquias de chefia, até às administrações, consiga “justificar” a importância de uma cobertura muito mais séria dos principais eventos.

Não vale a pena olhar para trás e relembrar nomes que tinham um peso específico que jamais foi questionado.

A BOLA foi pioneira na cobertura das chamadas corridas menores – todas, que não a Volta – graças à paixão de Homero Serpa. E havia o Zé Neves de Sousa, e o Guita (este, felizmente ainda vivo)...

As novas gerações – onde eu me insiro – não mais foram capazes de fazer a agenda.

É verdade que muita coisa – quase tudo – mudou.
A começar pela mais do que evidente falta de sensibilidade dos jovens lobos que, entretanto, assumiram posições de chefia.

Como explicar-lhes que a cobertura de uma prova de Ciclismo, porque corre estradas ao longo de várias regiões é argumento mais do que suficiente para convencer quem está imediatamente acima, para que estes tentem convencer os que estão mais acima ainda… até à administração dos jornais, que se o jornal A, B ou C… só vendem 20 exemplares/dia em Alenquer… é óbvio que fazer uma cobertura séria do Grande Prémio PAD/Vinhos da Estremadura, que aí vem, quintuplicará o número de vendas naquela região?

Eu sei como é!
É por o pescoço na guilhotina e garantir – contra a perda do próprio pescoço – que de 20 jornais vendidos em Alenquer, naqueles quatro dias passam a vender-se 100.
Não sei é se quem granjeou a confiança suficiente para mandar no jornal é capaz de arriscar, não o pescoço – que era apenas uma imagem – mas a conveniente (em proveito próprio) situação de chefe!

Arriscar é… arriscado!

E só arrisca quem tem, de facto, convicções próprias.
E depois é preciso que o trabalho final justifique o "empenhamento" - no sentido de empenhar a palavra - junto da administração.
Isso fá-lo-ia qualquer profissional que ponha acima de tudo os interesses do jornal.

Aliás, não se pode pedir ao Jornal que invista se os resultados depois são nulos.
Iguaizinhos aos outros que, sem despesas... fazem crónicas iguais.
Toda a minha teoria iria por água abaixo.

Aliás, este ano foi, na última década, aquele em que a cobertura da Volta a Portugal foi a mais fraca de todas.
E se é a Volta que serve como bitola

Mas voltemos à… Vuelta, que, afinal, é o mote para este artigo.
Como é que A BOLA embarcou numa situação de mandar um enviado-especial?
Claramente por falta de conhecimentos de quem administra as Modalidades.
Ou por subserviência em relação a influências geridas fora da sua alçada.
Há prioridades e estas têm de ser definidas.
Ir ao Tour com o Zé Azevedo – ou à Vuelta, com o Zé Azevedo – era uma coisa.
Ir com o Sérgio Paulinho, à espera que uma qualquer estrelinha do céu resolvesse iluminá-lo… é coisa que só encaixa em duas possibilidades: a ignorância total do que é o Ciclismo, por um lado; ou o oportunismo de quem tem a lata de vender gato por lebre, por outro.
Em relação ao Jornal, a emenda foi pior que o soneto.
Aposta alta – com enviado-especial e tudo – e nada para contar só pode ter uma saída lógica: reduzir a segunda maior corrida por etapas do calendário internacional a… quase nada.
Mas quem é que defende que a Vuelta MERECE - pelo menos - MEIA PÁGINA?

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