VOLTA A PORTUGAL/2008.5
BALANÇO À PRIMEIRA PARTE
Cumpriu-se hoje o dia de descanso desta 70.ª edição da Volta a Portugal. Uma das mais duras, disse-o Joaquim Gomes; que não, ouvi ontem o Cândido Barbosa dizer, lembrando que já houve edições em que se subiu à Torre em dois dias consecutivos… Têm os dois razão, embora exijam enquadramentos diferentes.
É um facto que, como diz o Cândido, em edições anteriores, quando e em dias consecutivos, se teve de subir duas vezes à Torre, isso, em termos de dificuldades, foi indesmentivelmente marcante;
mas também tem razão o Joaquim Gomes. Eu diria mesmo… tem a razão da… razão.
Colocar a subida à Torre na terceira etapa da corrida empresta-lhe uma dureza especial; porque a subida à Torre, pelo menos desde há duas dúzias de anos a esta parte, marca, indelevelmente, a corrida em termos do efeito que a etapa tem no subconsciente dos Corredores.
E, mais do que as pernas “emperradas”, o que a Torre sempre deixa a descoberto são as fragilidades, em termos psicológicos, que são desnudadas.
E nem falo em casos concretos de quem nunca – ou muito raramente – conseguiu lidar com a mais emblemática das subidas que o nosso relevo geográfico permite.
Aquilo mexe com muito mais do que aquilo que o simples adepto pode julgar saber.
Estão cumpridas quatro etapas, faltam… seis.
Mais 50%, em relação ao já corrido.
Mas farão alguma diferença?
Agora… já não.
Depois dos resultados da Torre, só um ataque estilo kamikaze, na etapa da Senhora da Graça poderia revolucionar a classificação. Mas não acredito que vá haver quem esteja disposto a arriscar a pele numa etapa que, repito, para poder dar a volta à Volta teria de ser assumida de uma forma… louca.
Então, se esquecermos a nossa – dos jornalistas portugueses – teimosia em não reconhecer que, há três anos o russo Vladimir Efimkin tinha ganho a Volta, à terceira etapa, na mesmíssima Serra da Estrela – pese embora com chegada ao Fundão – quem tiver o mínimo de noção do que é o nosso ciclismo, de como funcionam as nossas equipas, estou, em 95% certo de que o vencedor da Volta 2008 está encontrado.
O VENTO NÃO TEVE NADA A VER…
A Volta começou sem nos oferecer qualquer surpresa.
Apesar de muito curto – principalmente para um contra-relogista puro, como o é Rubén Plaza – não há muitos homens neste pelotão capazes de rolar a mais de 52 km/hora. E toda a gente caiu no mesmo erro primário, sustentando – falsamente – alguns argumentos que, quem está minimamente por dentro da modalidade não pode aceitar. Não aceitou.
Falo da questão do vento.
Caramba!, mesmo que os jornais o não tenham explicado, hoje em dia há mil e uma maneiras de se estar em cima do acontecimento.
Desculpem lá, a… ignorância do macaco!
Se o crono se disputou numa única e mesma avenida, indo de rotunda a rotunda… e voltando pela faixa paralela… que efeito tem o vento a ver com isto?
Oferecia menos resistência na ida… mas “empurrava” menos no regresso;
oferecia mais resistência na ida, mas “empurrava” na mesma proporção no regresso.
Ok… proporcionava aquele… varejar (expressão, com todo o a-propósito aliás, introduzido no léxico do Ciclismo pelo Alem Santos) mas que “empurrava"… empurrava…
E como já referi, em 70 edições da Volta, em, pelo menos, umas 50 passagens pelo Alentejo, só depois de o Benfica, o ano passado, ter conseguido um esboço de uma situação de abanico é que os experts acrescentaram isso aos seus argumentos quando da leitura da antecipação da etapa.
Se calhar, nem na Volta, nem noutras provas disputadas no Alentejo, se notou tanto o efeito do vento… mas também só a Volta tem etapas a terminar depois das cinco da tarde.
O resto é pura situação explicitamente constante da Disciplina de Física.
Pelo menos, no meu tempo de estudante do secundário era.
Uma zona larga em área, sujeita a forte incidência do calor do sol, que aquece a terra, quando aquele caminha para o ocaso deixa espaço para que o calor libertado pela terra, que o absorvera, como ar quente que é, se eleve, abrindo, num estrato inferior, espaço que é, naturalmente preenchido por ar mais frio e a abrupta, porque repentina, abertura à entrada deste ar mais fresco não é mais do que… aquilo a que chamamos vento.
Que não é mais do que uma corrente de ar frio a entrar num dado espaço, ocupando aquele que o ar aquecido pelo sol sobe, exactamente por estar aquecido. O ar quente é mais leve…
HÁ “PIADAS” QUE TÊM MAIS GRAÇA
CONTADAS PELA SEGUNDA VEZ…
Ora, e perante aquele episódio do ano passado protagonizado pelo Benfica – do qual ninguém se esqueceu – e que chegou a deixar o Manel Zeferino fora de si, porque o “seu” candidato ficara no corte… e se tudo o que escrevinha em jornais, mesmo que seja a primeira vez que cobre uma Volta, este ano não deixou de recordar… digam-me uma coisa...
... eu sei que os prognósticos feitos depois do jogo, raramente falham… mas aceitem que já era o que eu pensava.
Ainda por cima quando tudo o que é “enviado especial” – será impressão minha, ou metade dos “enviados especiais” este ano não levantam o rabo da cadeira nas suas redacções? – fez questão de lembrar o episódio do ano passado…
Quem é que vocês acham que eu… acho que deveria ter tomado a iniciativa este anos?
Pois é. Diz-se que um raio não cai duas vezes no mesmo sítio, mas isso não está provado e na dúvida pode e deve arriscar-se.
Era o Benfica, desta feita, provavelmente, de forma mais consistente, quem – e o facto de ter a camisola amarela não significava nada – devia ter repetido a gracinha…
Porque assim, assim não passou de uma gracinha.
O Benfica ficou-se, deixou que fosse Saunier Duval (oops… esta não, que teve dopados no Tour), a Scott-American Beff (deve ser hamburger!) a fingir que estava a fazer aquilo que o Benfica fingiu que estava a fazer o ano passado.
Deu em nada.
COMO OS “CONCERTOS”
EM “PLAY-BACK”
Não estou a falar do Há Volta!
Já agora, deixo aqui mais um reparo… quem é que percebe qual a diferença entre efabular um assunto – tipo, prof. José Hermano Saraiva – ou pretender falar a sério de tristes efabulações?
Deus do Céu!... Em Portugal apanha-se a RTVE, a televisão francesa e a italiana…
Porque não copiam???
O “espectáculo” Há Volta, eu não lhe tocava.
Montava-o, assim , com play-backs mais do que evidentes e “concursos” para ver quem anda mais quilómetros e mais depressa sem sair do mesmo sítio, mas para animar as zonas de chegada… não aproveitando nada daquilo – que é tão mauuuuuu – para a emissão em directo.
É um caso de inteligência. Ou falta dela.
Eu sei que metade do caminho para que a Organização consiga os 50 mil euros das Câmaras Municipais passa por garantir aos respectivos presidentes que terão o seu tempo de antena.
Mas já se fez melhor na Volta. E não há muitos anos ainda.
Em vez das cheer-leaders, se calhar tinham que ter jornalistas em campo; em vez – já não há pachorra! – das RP dos mais famosos night resorts algarvios (isto será conseguido a troco do quê? É só uma questão!), se calhar fazer-nos um retrato da realidade da região…
VOLTEMOS AO CICLISMO…
Voltemos ao Ciclismo.
Não é por nada, e façam o favor de acreditarem que, apesar das minhas amizades pessoais, ainda sou capaz de olhar para um DD e dizer que é fracote, fraquinho, fraco…
Acho que não li – a não ser em Fóruns – os múltiplos erros dos vários DD na abordagem à Torre.
Sem querer ferir susceptibilidades – até porque eles tiveram de fazer a análise em cima do acontecimento, e eu estou a fazê-lo 48 horas depois – porque é que o Benfica insistiu no Pedro Lopes?
Quando o trio da frente ficou na frente, e aí percebia-se, era o melhor classificado dos três, logo, defendia a camisola amarela do Benfica;
a presença do Luís Livramento será a mais fácil de explicar… a Palmeiras Resort-Tavira vincava um posição de presença no pelotão; não se tinham, deixado ver, mantiveram-se escondidos depois, mas… naquela altura, estavam lá;
quanto ao Rui Sousa… Quanto ao Rui Sousa quero acreditar nas palavras dos responsáveis pela equipa. Quero porque quero. Porque acho que tudo o que pudesse escrever de negação à opção seria tremendamente injusto para o Rui. Mais…
… todos sabemos o quão difícil é prognosticar o final de uma corrida como a Volta a Portugal. Pode acontecer tanta coisa!...
Aqui, permitam-me um pequeno desvio no discurso…
… até há três anos atrás eu sabia com que amigos podia contar; neste meio tempo, sei-o e haverá com certeza a quem reste um pouco de vergonha na cara para perceber que o “capital” que consegui reunir em 15 anos de contactos estreitos, sempre orientados por uma honestidade da qual jamais abrirei mão, da parte dos quais ainda merece um certo respeito…
A Volta está totalmente aberta.
O drama é que há quem jamais arriscará um só pelo do seu couro cabeludo para contribuir para o espectáculo. Nem mesmo aqueles que mais não nos podem dar do que espectáculo.
Então… o que é que eu acho que vai acontecer até sábado?
Nada!...
Uns vão estar a preparar estratégias para atacar, isto enquanto os demais só estão preocupados em cavar trincheiras para melhor de defenderem.
Quem perde é o Ciclismo, claro.
Mas terminando, porque isto está a ficar demasiado longo…
Quem são os vencedores da primeira metade da Volta?
O Benfica, porque andou três dias de amarelo;
A Liberty, porque ganhou a etapa da Estrela e aí roubou a liderança aos encarnados;
Danilo Napolitano, porque ganhou duas das quatro etapas;
Rui Sousa, porque chegou de amarelo ao dia de descanso…
A Corrida recomeça amanhã…
Gostava de ser capaz de antever o que vem aí… mas não estou seguro.
Se eu fosse um dos Directores Desportivos de uma das equipas em prova… eu sabia o que haveria que fazer… mas como não sei o que lhes vai na cabeça…
Só para terminar… a camisola amarela envergada durante três dias por Rubén Plaza vai valer… zero, se o Benfica não ganhar a Volta; cada um dos dias em que Rui Sousa andar de amarelo cimentará o seu estatuto, dentro do pelotão…
… Para além destes dois, o outro destaque que não pode passar em claro é o de Francisco José Pacheco ter sido 2.º, nas duas primeiras etapas, e ter ganho a quarta.
A Barbor-Siper já ganhou a sua volta…
Falta sabe… quem vai ganhar a Volta.
1 comentário:
O Benfica não vai ganhar a volta,está mais que visto.
A Liberty se quer ganhar, tem que apostar noutro que não seja Hector Guerra.
O contabilista foi o unico que fez as contas bem feitas na Torre e é o que ja provou que tem a calculadora mais bem afinada.
Enviar um comentário