APENAS... DUAS HISTÓRIAS
1. Concluía uma temporada a todos os níveis notável. Sentia-se com forças e alimentava um sonho, queria tentar ser campeão do Mundo, ainda em sub-23.
Entre o final da Volta a Portugal e os mundiais, Portugal ainda disputava uma prova a contar para a Taça das Nações e ele foi convocado. Fez saber ao seleccionador nacional que preferia não ir ao Tour de l'Avenir, pediu escusa. Não cumpriu o que está escrito nos regulamentos que o obrigava a fazê-lo por escrito... fundamentando esse pedido de escusa.
"Quero ser Campeão do Mundo e acho que sou capaz de o conseguir."
Seria este... desejo, ainda que profundo, mas apenas pessoal, argumento suficiente para convencer o seleccionador? Ainda assim, porque não informou este o corredor que deveria formalizar por escrito aquilo que lhe acabara de dizer?
Neste meio tempo o jovem Corredor participava numa outra corrida, em Portugal, corrida bem menos exigente, em termos de responsabilidades, do que o Tour de l'Avenir onde teria a obrigação de se entregar todo, em nome de um lugar de mérito para a Selecção.
Saíu a convocatória para os mundiais e o seu nome não constava.
Todos se perguntaram... porquê? E só então se soube que não fora convocado porque... era alvo de um processo disciplinar - que até o Corredor desconhecia - por ter faltado à convocatória para a corrida francesa.
Foi castigado com três meses de suspensão, castigo decidido e activado muitos meses depois, à justa medida de terminar... em vésperas do arranque desta temporada. Sem consequências desportivas objectivas, apenas um castigo moral (para além do que fica gravado na sua ficha de Corredor).
2. Figura, por mérito próprio, do primeiro plano do Ciclismo Português, com provas mais do que dadas, vice-campeão Olímpico em Atenas, há quatro anos, e líder incontestado da Selecção Nacional escalada para Pequim, tem atestado passado pelos médicos da sua equipa que o autorizam ao recurso a medicamentos interditos à esmagadora maioria dos atletas.
Ao longo de todos estes anos, desde que, repito, pelo seu incontestável valor, emigrou para equipas como a Liberty Seguros, depois Astana - ao serviço da qual venceu uma etapa na Volta a Espanha -, a seguir para a Discovery Channel e de novo para uma nova Astana que não é mais do que a velha Discovery, nunca teve problemas com o documento avalizado pelos médicos das suas equipas e aceite por todos os inspectores anti-doping com que teve de se deparar.
Acontece que ainda há uma pequena discrepância entre os regulamentos anti-doping da AMA/UCI e do COI e por isso, como fez com todos os outros atletas nas mesmas circunstâncias, o Comité Olímpico de Portugal chamou-o para fazer os necessários testes sob as normas do COI e o resultado apurado ditou que o nível do mal de que padece não justifica - observando as normas olímpicas - o recurso aos tais medicamentos que, não o referi há pouco, mas de cujo composto constam produtos interditos pelos regulamentos anti-doping. Todos.
Ainda, segundo o que veio a público, tentou deixar de tomar esses medicamentos mas não se deu bem e, a 48 horas da partida para Pequim anunciou que... não iria defender a sua medalha de Prata. Comunicou-o, como mandam os regulamentos, por escrito à FPC? Usando que fundamentos para faltar à convocatória? Que não podia ir a Pequim porque, como aconteceu a todos os Corredores, mal lá chegasse seria submetido a controlos anti-doping e, pelos parâmetros do COI acusaria inapelavelmente positivo?
Qual a diferença entre pedir escusa do Tour de l'Avenir para aligeirar um pouco a carga de esforço e poder depois apresentar-se no seu melhor, nos mundiais, e confessar - ele fê-lo, eu li-o - que não ia a Pequim porque seria apanhado nos controlos anti-doping?
Qual a diferença para a FPC, claro, que para um observador, ou para os simples adeptos, ela é tão grande que nem se põe.
Só hoje um jornal tocou neste assunto. Do presidente da FPC obteve um lacónico "vamos analisar a situação e só depois, se houver razão, se avançará para um inquérito".
Esgotaram-se na Rua de Campolide os formulários para as suspensões preventivas, é o que somos levados a pensar.
É que, embora correndo numa equipa estrangeira, a licença deste Corredor é passada pela FPC que tem toda a legitimidade - aliás, é a única entidade, nestas circunstâncias - para o castigar.
Perante a falta de... curiosidade geral, fez bem o professor José Santos em, por escrito, claro, pedir explicações à FPC. Vamos aguardar.
PS - Nem de perto nem de longe visa este artigo atingir, nem pessoal, nem desportivamente o Sérgio Paulinho. Corredor que admiro, que conheço há muitos anos, de quem sou fã incondicional. Limitei-me a constatar factos. Que mentes mesquinhas não leiam aqui mais do que aquilo que ficou claramente escrito.
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