Em relação ao artigo que vão ler a seguir tenho duas ou três coisas a dizer.
Primeiro, liga-me uma amizade sincera ao Senhor Eduardo Guita Júnior (eu sei que ele não vai gostar do Senhor, mas é-o), amizade que já leva 18 anos.
O Guita, que felizmente ainda temos entre nós, é o decano dos Jornalistas de Ciclismo - "raça" em vias de extinção, como os mais atentos já devem ter percebido - e fez tudo na Volta a Portugal. Foi até Director de Organização, nos tempos em que o Diário de Notícias organizou a Volta.
Mas sempre foi, acima de tudo, um Jornalista.
Fiel ao seu estilo, observador totalmente isento, repórter respeitado, porque sempre soube fazer-se respeitar.
O Guita - e quase aposto - cobriu, ele só, mais Voltas a Portugal do que o somatório das Voltas de todos os Jornalistas que a partir de amanhã vão estar na estrada para nos contarem como se vai desenrolando esta 70.ª edição da Prova Raínha do calendário português.
E nunca, nos muitos milhares de quilómetros que fizemos juntos, aqui em Portugal, em Espanha e em Itália (eu fiz três Mundiais, mas o Guita já não esteve nos de Liége), nunca vi o Guita em bicos de pé.
Senhor de uma cultura velocipédica que deixa todos os outros a anos-luz, para trás, foi sempre, é-o ainda, de uma humildade que só demonstra o calibre da humanidade deste homem que já testemunhou muitas coisas. Umas boas, outras nem por isso... mas não encontrarão registo assinado com o seu nome que diminua, seja lá de que forma fôr, o Ciclismo.
A sua segunda (ou a primeira?) grande paixão, depois da de ser Jornalista.
Provavelmente não será capaz de dizer, disparado, quem foi o corredor que ganhou a etapa "x" na Volta "y", mas que tem isso registado, isso tem.
Aliás, muito dos "conhecimentos" que os mais espertos dos recém-chegados irão demonstrar já amanhã, fossem eles honestos e seriam dados como informação recolhida (aprendida) no Livro que o Guita escreveu. Mas já não há homens dessa têmpera.
Ditou o destino, porque, paralelamente à Volta a Portugal, no início dos anos 90 do século passado também existiram dois Grandes Prémios promovidos por dois Jornais lisboetas, o GP Correio da Manhã - onde ele trabalhava - e o GP A Capital, onde eu trabalhava, conseguíamos estar muitas muitos mais dias juntos, na estrada.
É verdade que, a partir do momento em que descobri que o Ciclismo me agradava, procurei deitar mão a todas as opções que me pudessem ajudar a conhecê-lo melhor. Assinei revistas estrangeiras - ainda a internet não era o que hoje é - que lia de ponta a ponta mas, contudo, a minha grande aprendizagem foi com os especialistas, no campo.
Com uns aprendi que, conseguindo-se ser um pouco mais esperto que os outros, chegamos à mesma informação com muito menos trabalho. Dá jeito... Mas não deixa de ser o "chico-espertismo"...
Que é que se esfarrapou para tirar da estrada todos os OCS, sendo que ele, com os contactos que tem, podia saber de tudo o que lá estava a correr, limitando aos outros um "filme de etapa" que é coisa que ainda não vi ser bem feita em Portugal?
Mas acontece. Temos professores bons e maus...
Com o Guita aprendi que só há uma forma de sermos respeitados e credíveis... para além de cultivar um relacionamento de proximidade com os protagonistas - não impondo-me (nem mesmo com larachas e, testemunheio-o bastas vezes, para saber o que estou a dizer) mas conseguindo ser aceite por eles, os protagonistas - e depois ser sério na difícil - acreditem que o é - a tarefa de "julgar" prestações sem termos, na maior parte das vezes, nem oportunidade nem tempo, para "cavar" a razão.
Amigo Guita, você sabe a força da corrente que nos liga. É inquebrável e foi você quem me ensinou a ser como sou.
Sei da sua modéstia, por isso fico-me por aqui.
Um estreito e apertado abraço.
E sabe uma coisa?
Ninguém pode garantir que não voltaremos ainda a encontrar-mo-nos na estrada.
Muita saúde, é o lhe desejo.
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