sábado, agosto 30, 2008

II - Etapa 224

E SE O VERDADEIRO, O GRANDE ESCÂNDALO
(SE HOUVER ALGUÉM COM ELES NO SÍTIO
PARA PROCURAR A VERDADE)
NÃO REVELASSE MAIS DO QUE
UM ENORME TIRO NO PÉ?


Assunto do dia, na passada 5.ª feira: as duas páginas e meia oferecidas pl’O Jogo ao doutor Luís Horta.

É que (não sei se era essa a intenção) continua-se a bater no Corredor, a estigmatizar uma profissão que, pelo menos é o que parece, há quem se recuse a ver como capaz, através de métodos perfeitamente legítimos, acompanhar os mais recentes conhecimentos – eu quero dizer científicos, mas receio que pensem logo… nisso mesmo que estão a pensar (é um problema de menoridade mental) -, dizia eu, os mais recentes conhecimentos… científicos (pronto! disse…) que podem ir desde opções, o mais limpas possível, no que respeita à preparação, métodos de treino, recuperação do esforço dispendido... até ao extremo cuidado com a alimentação.

Só um exemplo: houve um jornal que durante a Volta a Portugal publicou um trabalho onde se vincava que, após a etapa e chegados ao hotel, os Corredores têm direito a… 45 minutos de massagens. Cada um. E vinha tudo explicado.

Há dez anos, os nove Corredores de uma equipa só não eram despachados em 45 minutos porque as equipas só tinham um massagista.

E, assomou-se-me agora à lembrança. Em quatro das sete Vueltas que fiz, a então Maia, já com três massagistas, contratava um quarto.

Um grande abraço para esse grande amigo, homem simples de trato fácil, que é o Pepe Toni (está na Caisse d’Épargne, ele que é maiorquino).

Isto significa que os quatro Corredores “preferenciais” iniciavam as massagens mal chegassem ao Hotel. Em simultâneo.

E há o avanço tecnológico das próprias bicicletas, dos próprios equipamentos que, hoje em dia, absorvem a transpiração do corredor como a fralda absorve as mijinhas dos bebés.

Mas não. Potenciado, desde logo, pelos próprios “jornalistas de Ciclismo” qualquer feito que ultrapasse a sua pobre capacidade de antevisão cai no campo do… suspeito.

Mas estou a fugir ao tema…

O jornal O Jogo publicou na quinta-feira – na mesmíssima data em que se cumpriam dois meses de suspensão, ainda não justificada, de nove elementos da equipa Póvoa Cycling Club-MSS (ele há cá cada coincidência!…) - um trabalho alargado com o doutor Luís Horta, cabeça (e cara) do CNAD (Conselho Nacional Anti-dopagem) e director do LAD (Laboratório de Análises e Dopagem).

Mas a que propósito é que este trabalho saiu nesta data?
Foi mesmo coincidência?

Peço-vos que não vejam segundas intenções no que eu escrevo.

Não tentem ler nas entrelinhas que aqui não há entrelinhas.
Neste texto não.

Foi bem produzida a entrevista. Por produzida quero dizer a forma como foi editada. Não saberão os meus leitores em geral, mas sabem-no os colegas de profissão. A conversa com os entrevistados às vezes desvia-se de um assunto, mas esse assunto também é interessante, logo, aproveitável para uma peça secundária ou uma “caixa”…

Na verdade e graças a deus – digo eu que não acredito em deus – ainda há jornalistas, ainda há editores que, perante meio bloco de notas preenchido é depois capaz de organizar as matérias de forma a oferecer ao leitor um trabalho escorreito.

Nem tudo o que se lê nos jornais é a transcrição ipsis verbis sacada de um gravador.

Ok, emendando os erros de português dos entrevistados…

Lá fugi eu outra vez…

Voltemos à entrevista dada pelo doutor Luís Horta.
Porque é que, en passent, se fala dos novos fatos usados na natação e, por exemplo, não se fala dos novíssimos equipamentos para o ciclismo?

São feitos com matérias que, não só absorvem mas também expelem a transpiração do Corredor, mantendo-lhe o corpo numa temperatura praticamente constante?

Porque não se fala dos novos materiais usados nas bicicletas, dos cada vez mais aerodinâmicos acessórios, desde a roda lenticular, aos capacetes tipo filme de ficção científica usados nos cronos?

É que, dizendo o doutor Luís Horta que não encontra nada de mal nos novos equipamentos da natação… seria engraçado ouvi-lo dizer que também não há nada contra os novos equipamentos do Ciclismo. E que estes podem ter influência nos resultados. Como o têm os da natação.
É a evolução.
Há 20 anos ainda havia quem corresse a Volta com camisola de lã que no final da etapa pesava dois quilos de encharcada que estava em suor.

Contudo, esta “entrevista” ao doutor Luís Horta, ainda por cima na data em que é publicada, não me convence.

Repesquemos algumas passagens.
O doutor Luís Horta “explica” o rol de recordes na natação com o facto de a piscina ser mais larga (tinha dez pistas, das quais só oito era utilizadas) e mais profunda, o que quase anularia a ondulação provocada pelos nadadores….

… na próxima vez, perguntem ao doutor Luís Horta qual é a grande diferença que existe entre a subida da Senhora da Graça, hoje, e aquela que se fazia há 12 anos.

E já nem falo dos outros 90% das estradas de Portugal…

(Se houve alguma área da qual, hoje, podemos mostrar fotografias e rir-mo-nos do que éramos há 15 anos, é a das comunicações rodoviárias).

Não. Falou-se dos novos fatos da natação e das características sem par da piscina olímpica de Pequim. Mas não enganaram ninguém, A mim, pelo menos, não… aquilo foi a sopinha servida antes do grande prato principal: o caso Póvoa-MSS.

E na longa entrevista que o doutor Luís Horta ganhou na 5.ª feira, n’O Jogo, há duas ou três coisas a reter.
E guio-me pela entrevista recusando aqui qualquer responsabilidade…
Cito: “… quando a legislação sobre o tráfico de produtos dopantes surge no horizonte"
[
traduzo: está-se à espera que seja aprovada]

Calma aí!…
Então não foi, esgotadas as saídas – porque, de repente, perceberam que há mais quem esteja a par dos regulamentos da FPC, para além do próprio presidente – não foi numa eventual suspeita de tráfico que assentou a dramática suspensão de nove elementos da equipa Póvoa?

Assente, cito o doutor Luís Horta, quando a legislação sobre o tráfico de produtos dopantes ainda está por sair, sob que Lei – não regulamento, que nenhum se pode sobrepor à Lei –, sob que Lei estão suspensos os homens da Póvoa?

Isto, atenção… isto SE tivesse sido conseguida alguma evidência clara, uma prova, um testemunho contra ela! O que eu continuo a dizer que não aconteceu porque senão aquilo que quiseram fazer, que era o de exemplarmente castigar uma equipa para servir de exemplo (dissuasor, claro, às outras)… já tinha sido feito.
E não foi.

Expliquem-me como se eu fosse uma criança de dez anos…
Porque é que a PJ, se tivesse motivos para isso, não prendeu ainda ninguém?


É que nem convocados foram para dizer das suas razões ou, se fosse o caso, para se defenderem.

Quem é que acredita que a PJ tem provas e está à espera que chova para avançar com o processo?

O curioso é que o responsável pelo organismo que tem que zelar por um Desporto – não é por um Ciclismo, é por um Desporto – limpo, é o primeiro a reconhecer que não temos Lei que puna aquilo que nos quiseram vender.
Mesmo que tivessem razão.

Isso é que ninguém tem a coragem de dizer.
O CNAD tem é que fazer controlos. Muitos, os que quiser.

Nunca os Corredores se negaram.
Porque é que é o presidente do CNAD a lembrar-nos que não temos Lei que puna o tráfico de produtos proíbidos?

Sinceramente, e sem a mínima ironia, depois disto estou à espera que o Director-geral da PJ dê uma entrevista a dizer que foram apanhados “x” corredores com controlo positivo.

Está tudo virado ao contrário. É o desnorte.

Aqui ao lado, em Espanha e quando da Operation Puerto, a CS desancou, bateu forte e feio, baixou o pau nas costas de todos os responsáveis institucionais.

A começar pelos juízes, passando pelo estado-maior da Guardia Cívil e acabando na RFEC.

Pergunto eu, após mais estas declarações, quem é que ainda duvida que a FPC, o CNAD, a sociedade protectora dos animais e seja lá mais quem for… não tem nada contra a equipa da Póvoa?

Porque é que há pessoas que estão suspensas, sem que lhe tenha sido comunicado um motivo válido para tal, e outras que, não o estando, foram impedidas de exercer a sua profissão?

E diz o doutor Luís Horta, cito de cor: “Quando se souber toda a verdade as pessoas compreenderão.”

Mas que verdade?
A de hoje? A de há dois meses ou aquela que por obra do espírito santo caia do céu um dia destes?

E como é que uma federação pode suspender pessoas só porque… está aí uma verdade para chegar?
Quem tem coragem para denunciar esta situação que atropela alguns dos deveres mais protegidos (não são, pois não?) de um cidadão?

Outro tema focado na entrevista do doutor Luís Horta.
Aplaudo a mãos ambas quando diz que “os asmáticos vão ter de fazer exames chancelados por médicos inscritos na Ordem”.
Isso vai ser a partir de quando doutor Luís Horta?

Quantos falsos asmáticos já ganharam Corridas de Ciclismo?
São mais ou menos batoteiros que os outros?

De qualquer forma, e repito-me, o que mais me chocou nesta entrevista “dada” pelo doutor Luís Horta, muito mais que “pedida” pelo jornal, é quando ele diz, em relação ao caso do Póvoa Cycling Club, é que “é um ponto de viragem”.
Deixou mesmo a ameaça: “Quando este processo chegar ao fim, as pessoas vão percebê-lo.”

Fica implícito que ele já o sabe e aqui não consigo perceber uma coisa.
Então porque ninguém lhe pergunta porque está o processo parado?

A alternativa é óbvia, não sabe nada e apenas joga com as palavras e a falta de coragem dos entrevistadores para o fazerem falar.
Não se deixa uma questão destas pendurada…
Se não tiveram mesmo coragem, tinham subtraído esta parte no que escreveram.

A sério!
Então se o meu entrevistado faz uma insinuação deste calibre, eu não ferro o dente e dali não saio?
Se diz o que diz, é porque sabe mais do que diz.
Se sabe, o jornalista tem que o fazer dizer. Ou então não publica nada.

Mas entre muitas outras virtudes, o doutor Luís Horta tem a de saber chamar a si o papel de protagonista.

Mas… em frente, que a festa ainda não acabou.

Outra pérola que nos é dada como se tivesse sido proferida pelo doutor Luís Horta. Te-lo-á sido, certamente:
«… Em Portugal todas as equipas de ciclismo são tratadas da mesma forma… Há umas mais controladas que outras.»
[Céus!… É isto o… da mesma forma?]

E depois aquela saída habitual. Diz o membro do Conselho Nacional anti-Dopagem e Director do Laboratório de Análises e Dopagem, que “a gestão desses resultados [dos controlos anti-doping feito durante a Volta a Portugal] é realizada pela UCI, dado tratar-se de uma prova internacional…"

Portanto, a Autoridade Nacional na Luta contra o doping… de doping não sabe nada porque isso é com a UCI…

… contudo, a mesma entidade já sabe que “as buscas na LA-MSS surgiram após longa investigação…/… e andaram pessoas infiltradas em determinados locais, num trabalho de longa data”…”

Ok. É interessantíssimo ficar a saber pelo director do LAD que a PJ tem, ou teve, homens infiltrados.
Onde?
Na equipa?

Ou estavam infiltrados do outro lado?
Isto é, tomando como provável haver organizações que vendem produtos proíbidos, fazerem-se passar como tal?

Não se pode deixar nada por questionar neste caso, e não se pode porque é a vida, a forma de ganhar a vida de mais de duas dezenas de famílias que está em jogo.

Houve uma denúncia que conduziu a PJ até à equipa da Póvoa. Murmurou-se muito, mas hoje já pude ler num jornal especializado que a denúncia partiu da LagosBike – deixemos o Benfica fora disto, porque o clube não tem nada a ver.

Está escrito, podem confirmar. Murmurava-se mos mentideros, mas foi a primeira vez que o li, claramente escrito.

Mas ia perdendo uma situação que não posso deixar de sublinhar. O doutor Luís Horta fala, letrinha por letrinha – pelo menos foi o que foi transcrito na “entrevista” – em… infiltrados da PJ.

Esta declaração, no mínimo ingénua, deve ter agradado de sobremaneira à PJ.

Toda a gente sabe que um agente infiltrado descoberto é um agente queimado.
Regra número um das polícias, nunca confirmar uma situação dessas.

Mas eis que se abre uma nova frente e não a descartem só porque sim.
E se esses… infiltrados, não fossem mais do que - embora atropelando todas as regras de qualquer polícia, o que estas jamais poderão admitir ter feito – os hipotéticos “vendedores” da banha da cobra?
Que para tramar uma equipa se tenham apresentado como aquilo que não eram?

Claro que faz sentido!
Houve uma denúncia. Não houve flagrantes, senão já teria havido consequências… não descartemos esta hipótese.
Se os contactados se tivessem mostrado interessados, estavam a denunciar-se. Só que a polícia não pode avançar porque teria usado métodos não permitidos.

Por isso eu digo que tudo, mas mesmo tudo neste processo, tem que ser questionado.

E não vale a pena tentarem intoxicar-nos com entrevistas mais ou menos dadas, mais ou menos pedidas, mais ou menos conseguidas.



E em datas muito peculiares!...

10 comentários:

Pedro disse...

«… Em Portugal todas as equipas de ciclismo são tratadas da mesma forma… Há umas mais controladas que outras.»

Isto é do mais ridículo que li ultimamente... o que eu me ri com esta citação... Mas não tem piada nenhuma, de facto. É muito, muito triste. É pena não haver os 'Zamente' nas palavras dele, senão era mais um tesourinho deprimente..

Paulo Sousa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Paulo Sousa disse...

Outra estranha coincidência de datas foi a publicação do “caso Cabreira” no dia de arranque da 70ª Edição da Volta a Portugal edp.

Será porque se temia no “diz que disse” que alguém ligado ao Póvoa Cycling Clube se preparava para dar uma conferencia de imprensa nesse mesmo dia?

Bem, isto sou eu a pensar em voz alta, NÃO ESTOU A AFIRMAR NADA, repito, não estou a afirmar nada!!!!

Mas que há cada coincidência, lá isso há…

Não tem nada a ver com este tema em particular, mas estou a lembrar-me de outros casos bem mais mediáticos (como o da casa pia) em que o tema forte era o chamado segredo de justiça e as fugas de informação.

Estou também a pensar num caso que se passou comigo há três anos, estava eu de férias no Algarve com a família quando ás 06:30 da manhã toca o telemóvel com uma chamada da polícia perguntando-me se tinha emprestado um carro a um individuo (por demais referenciado por eles como gatuno - que tinha sido opor eles também apanhado umas horas antes com um carro que me tinha sido furtado durante a minha ausência em casa por motivo de férias), ao qual eu respondi que não, tão pouco o conhecia e que o se o carro estava com ele é porque me tinha sido efectivamente furtado. Apressei-me então a ir á GNR de Albufeira apresentar queixa por roubo para que o indivíduo pudesse ser apresentado ao Tribunal por roubo, o qual lá foi e saiu em liberdade, tendo no dia seguinte voltado a ser apanhado pelo mesmo crime. De referir que ele já se encontrava em liberdade a aguardar por julgamento por outros vários crimes iguais e que depois do meu ainda foi apanhado uma série de vezes mais em flagrante delito e continuou sempre em liberdade… bem, havia outro crime por ele também cometido em simultâneo, ou seja, o de conduzir sem estar habilitado para isso (sem carta).

…isto tudo para que, se um vulgar e reles ladrão apanhado em flagrante delito pelas autoridades policiais é considerado inocente até julgamento (e só após a sentença transitar em julgado) porque é que os organizadores de corridas (UDO, Boavista F.C., Pad, etc., etc., etc.) não fazem a mesma coisa, vindo pois armados em “justiceiros por conta própria” impedindo a participação da equipa nas provas por si organizadas?
É que a Federação “sai de limpinho” nisto tudo, pois a única prova que era da sua responsabilidade deixou os corredores não suspensos alinhar, assim como continua a “sair de limpinho” dizendo que o Povoa Cycling Clube pode sempre recorrer contra os organizadores que os não convidaram exigindo o pagamento das diárias a que teriam direito se tivessem competido.
A comissão de estrada é um “órgão” meramente consultivo e cuja composição depende directamente da direcção da federação, e estando o Presidente da direcção presente nesse órgão entendo que os seus pareceres o são também da Federação, digo eu, não sei.
Pena é que a Federação Portuguesa de Ciclismo não tenha a mesma ligeireza (que teve ao suspender os elementos do Póvoa Cycling Clube) por exemplo para os organizadores de corridas que não cumprem o caderno de encargos a que estão obrigados e não me estou a referir á Pad, pois por ventura a Pad será a única a cumpri-los.

Em jeito de conclusão, pois já vai extenso este meu comentário;

Relembro, segredo de justiça, formalização de culpas, etc., etc., etc., isso é o que? (como não sou jurista é esta a minha duvida…)
Se realmente existe “prova provada” que deduzam a acusam, que se punam os culpados e que se inocentem os inocentes, o tempo não para, o relógio biológico também não, pelo que salvo melhor opinião este será um assunto de urgente resolução.

BEM, EU SÓ FALO COM BASE NO QUE SEI, E O POUCO QUE SEI É COM BASE EM RECORTES DE JORNAIS.

P.Veloso disse...

«E diz o doutor Luís Horta, cito de cor: “Quando se souber toda a verdade as pessoas compreenderão.”» pois é doutor Luís Horta, eu ainda estou à espera das armas de destruição massiva que o iraque tinha...e já lá vai muito tempo!? Tenha dó...

Armando disse...

Este ano o queixinhas quase conseguiu o objectivo... (impedimento da equipa LA/MSS vencer a volta),mas como mesmo assim não conseguiu vencer a volta,para o ano muda de equipa e o alvo a abater é o Tavira .

carneiro disse...

DR. Luis Horta. Protagonista. Vaidoso q.b. O Homem confunde-se com a função e com o emprego e com o protagonismo. Ele vai ter que arranjar, mesmo, qualquer coisa contra o Povoa, senão fica muito mal visto. E o emprego em risco.

"Infiltrados" da PJ ? Deixa-me rir... Como sabemos todos pelos sucessivos fracassos investigatórios recentes, os polícias competentes foram todos contratados pelo AXN...

O que é triste Sr. Madeira, é que a investigação criminal em Portugal se faça prendendo pessoas ou aprendendo coisas a esmo e, depois, é que se vai ver se existe ou não crime. E quando a comunicação social dá eco, eles deixam de investigar e passam apenas a tentar encontrar justificações para os actos processuais precipitados que antes cometeram, sem terem ponderado as consequências.
A Justiça portuguesa não é de decisões de Juízes em julgamento. è de prisões preventivas, suspensões preventias e procedimentos cautelares. A Justiça definitiva não existe. Só se usa a precária. E esta permite que qualquer déspota, só porque por lei tem aquele poderzinho, se transforme num protagonista dos telejornais. Mas, desculpe, a principal culpa é dos jornalistas que entram no jogo pérfido, em vez de fazerem aos gajos as perguntas difíceis. Dão-lhes cobertura e a notoriedade que de outro modo nunca teriam. Até os Juízes. Um juiz de direito não é famoso por dar sentenças justas depois de avaliar em julgamento. Juiz "bom" é aquele que manda prender, mesmo que no processo não conste qualquer elemento de culpa. E quando se chega ao desporto...
País de vaidosos e de cagões, é o que isto é...

Agora aquela de "não existir lei aprovada" é hilariante. Um principio sagrado do direito penal - e dos seus derivados disciplinares - é a tipicidade que, além doutras características, significa que ninguém pode ser sancionado sem o ser através de uma lei que esteja em vigor no momento do facto. Foi uma conquista dos enciclopedistas franceses contra a monarquia absoluta e traduz um baluarte do nosso estado de direito. A não ser assim, a actual maioria do PS poderia aprovar todas as leis que lhes apetecesse só para prejudicar os adversários politicos. Seria uma republica das bananas.

Carl Floyd disse...

Caro Madeira

Em primeiro lugar, um muito obrigado, em meu nome e no do pessoal de O JOGO, pelos elogios. Feitos por ti, a quem reconhecemos um grau de exigência elevado, têm importância acrescida e digo-o com sinceridade.

Quanto a detalhes como a data peculiar, fico abismado.
Por um lado, ainda bem que existe uma coincidência de data, pois isso é sempre um valor acrescentado para qualquer trabalho.
Por outro, e sabendo tu como funcionam os jornais e o que o doutor Luís Horta não é futebolista de Benfica, Sporting ou FC Porto, é fácil perceber que uma entrevista desta dimensão – e ficou quase o dobro de fora… - anda infelizmente em bolandas pelas redacções até alguém puxar dos galões e deixar bem claro que há prazos de validade. Se A Bola é mais organizada nisto e consegue estudar datas peculiares, tiro-vos o chapéu.

Agora as perguntas por fazer. Se o trabalho foi feito por jornalistas escolhidos para ele e que se completam, é evidente que nenhuma pergunta ficou por fazer. Podem ter ficado algumas por responder. Mas com um entrevistado desta dimensão, e que em determinadas matérias se pode defender com o segredo de justiça, serias tu a arrancar-lhe tudo o que pretendias? Ou vinhas embora a meio? (comigo a editor, e depois de se ter feito uma deslocação do Porto a Lisboa, tavas tramado…)
Restava a possibilidade de suprimir as partes interligadas às tais por responder. Mas isso, privando uma entrevista de trechos importantes, seria um mau serviço aos leitores. O que não faço. Seria até, vê lá tu, tirar-te argumentos para um texto quase tão grande como a própria entrevista.

Por último, e o mais importante. O JOGO não foi entrevistar o dr. Horta por causa do “caso Póvoa”. O trabalho abrange imensos assuntos, alguns para mim até mais importantes, e se algum defeito teve foi mesmo o de deixar mais alguns temas para debater. O que não lhe tira mérito nem um novo agradecimento meu, este agora por me dares motivo e oportunidade para, por escrito, dar os parabéns ao António José Rodrigues e ao João Santos pelo trabalho bem feito.

mzmadeira disse...

Caro Flórido,

não foram elogios, foi uma constatação. O trabalho estava exemplarmente editado. Não me dês cabo da vida (ainda mais) dizendo que eu ando por aqui a elogiar a concorrência... :-)

(Era brincareirinha, perceberam, não?)

Não vamos entrar em polémicas estéreis e das quais nenhum de nós saíria bem.

Ignlro, como deves calcular, a data em que fizeram a entrevista, logo, quanto tempo esteve na "gaveta" até que, cito-te, "alguém teve de puxar dos galões...", para que ela saísse... no dia em que saíu.

Claro que há coincidências... eu só a constatei.

Ao achares que era devida uma explicação, não a mim, mas aos leitores do VeloLuso, fazes-me franzir o sobrolho. Sempre achei que que acha que precisa de se justificar é porque ten algum problema de consciência. E eu sei bem qual é.

Mas tirando duas citações ao título O Jogo, mais aquela parte da edição impecável, todo o resto do artigo que escrevi - quase tão grande como o que o teu jornal publicou, nas tuas palavras - visava (e acho que não fui malcriado, muito menos injurioso) - o entrevistado, não os entrevistadores.

Ok... essa parte da pergunta que "ou se arranca, ou se ignora a passagem" foi exponenciada por mim. Foi.

Mas a tua explicação não me convence e isso daria mais um para de artigos.
Primeiro, porque, e como é que o doutor Luís Horta está limitado por um hipotético "segredo de justiça"?

Que segredo de notícia?

Garantes-me que a entrevista não tinha como objectivo mandar mais algumas achas para a fogueira onde alguns estão a tentar "queimar" um Homem e uma equipa, logo, vários homens mais as pessoas que esses homens têm a seu cargo.

Não acredito. Pronto. Sou-te sincero.

Embora saiba perfeitamente que te preocupas com alguns dos mais recentes fenómenos. Sim, claro que li a tua opinião em relação ao polícia francês que ninguém sabia quem era e, de repente, saltou para a primeira linha da natação mundial. Aliás, leio tudo o que escreves e com inegável prazer.

Um àparte...
pode ser uma "frase feita" (é-o, com certeza) mas é um dos meus lemas de vida. Até hoje não me arrependo de nada do que fiz. O mesmo já não posso dizer do que poderia ter feito e não fiz. Em alguns casos irremediavelmente.

Uma das coisas que me arrependo de nunca ter feito é, por exemplo, ter tentado estar contigo em meia dúzia de jantares - durante as várias Voltas que fizemos em simultãneo era possível isso ter acontecido -, contigo, com o Paulo Felizes... já com o João Araújo e mesmo com o João Santos convivi muito mais de perto. O que nunca aconteceu contigo nem com o Felizes. E hoje lamento-o.

A explicação é tão... naïf que temo até não ser entendida. É que por essas alturas - digo-o com a mais profunda das sinceridades - eu não me considerava digno de discutir Ciclismo convosco.
É verdade e não o escondo.

Curiosamente, e não sou capaz de o explicar, aconteceu simplesmente, tive oportunidae de - ficando eu caladinho, a ouvir, a aprender - de partilhar pequenas tertúlias pós-jantar, durante a Volta, com outros Colegas. Mais velhos. Com mais histórias - que me enriqueceram - mas menos perto de mim, em termos temporais.
Contavam histórias e eu ouvia e aprendia... mas não se discutia o momento.

Falta-me o que poderia ter aprendido com uma troca de experiências com gente da minha idade... sobre o Ciclismo nosso contemporâneo.

E termino sublinhando que jamais questionei o trabalho feito pelo João e pelo António José Rodrigues, que não conheço, mas há-de ser gente de bem.
(E já expliquei que a questão do "arranca-se" a resposta foi exponenciada por mim. Provavelmente de forma exagerada. Mas foi-o para marcar uma posição.)

E insisto - se puderes contraria-me - prás malvas com essa história do segredo de justiça.
Corre algum processo na Justiça contra o Zeferino e os outros?

Não o li em lado nenhum. Nem eles mo disseram. Se tu sabes de algum... ficamos á espera de ser informados.

Eu agora sou um mero adepto do Ciclismo.

Gabriel disse...

Agora que acabou a volta a Portugal é apenas deixar o caso esmorecer, enfraquecer e a opinião pública vai esquecer.
Provavelmente pro próximo ano só quando ouvir mais burburinho é que se lembro que o pessoal do ciclismo é uma cambada de dopados.
Compete a quem realmente gosta da modalidade (não sei se o presidente da federação é uma deles) não deixar a situação cair em saco roto e denuncia-la sempre que possível. Porque acima de tudo um grupo de homens está proibido de fazer o que mais gosta e ainda ninguém sabe o que se passa. Sr. Madeira não deixe o caso esquecer-se que eu também não o vou esquecer.
Força Afonso Azevedo, João Cabreira, Angel Vicioso, Tino Zaballa, Bruno Pires, Cláudio Faria, José Garrido, Pedro Cardoso, Xavier Tondo, Pedro Romero, Tiago Silva, Rogério Batista e todos os responsáveis técnicos, mecânicos e médicos.

Gabriel disse...

Que injustiça esquecer-me do Bruno Neves. Também ele, esteja onde estiver, não está em paz com esta situação de merda, até porque estão a usa-lo da pior maneira, quando já não se pode defender.
Saudações à sua família!