Foi bastante interessante - para além de movimentada, logo, espectacular - a etapa de hoje. Contudo, foi-o menos do que aquilo que um observador neutro - como eu quero ser - esperaria.
Caramba! Para 13 ou 14 equipas das que formam o pelotão a Volta acabou hoje.
Amanhã é a Senhora da Graça e no Domingo o crono final...
E, pelo andar da carruagem podemos riscar a hipótese, que era academicamente aceitável, de podermos vir a ter duas corridas na corrida.
Uma de (perdoem-me o termo) descartados, em relação à classificação geral - e havia, há, no pelotão excelentes trepadores prematuramente afastados da luta pela vitória final -, e a outra, aquela a sério que não teria, necessariamente, que ser discutida na cabeça da corrida: a dos candidatos.
Então, qual é a minha previsão?
A de que tudo se vai jogar na frente e que, mesmo que... os descartados, pelo menos alguns, venham a misturar-se na "guerra", só um não passará despercebido se... ganhar a etapa. O que pode acontecer.
Mas o que é que vai acontecer?
Vai acontecer que todos os candidatos - não são tantos assim!... - vão aparecer, lado a lado, ombro a ombro, marcação em cima, directa... bem na frente da corrida.
Eu percebi a estratégia do Américo Silva nestes dois últimos dois dias, só não percebo como é que ele não percebeu que toda a gente estava a perceber...
Logo, que todo o desgaste a que submeteu - principalmente hoje - meia equipa ia dar em nada. Percebi, mas jamais faria o mesmo.
Vamos por partes.
A Liberty Seguros - que não deixou nem vai já deixar de pôr as fichas todas na casa do Hector Guerra - tentou colocar o Nuno Ribeiro numa posição, em termos de tempos, que importunasse, amanhã, a Palmeiras Resort-Tavira.
Se isso tivesse acontecido, sacrificando - se isso fosse necessário - toda a equipa (sacrificando no sentido de a pôr a trabalhar à morte) a puxar pelo Nuno de forma a arrastar os adversários num sempre duríssimo trabalho de perseguição, então explicar-se-ia só por si.
Com o Guerra reservado. Colado ao Blanco.
Falhou nos seus intentos.
E se disse que eu não jogaria assim também não me importo de dizer como é que eu teria jogado.
Tinha atacado com... o Rui Sousa!
Nem mais...
Aí sim. Aí ia obrigar toda a gente a dar às pernas sendo que, como acabou por acontecer, o Guerra iria sempre na onda, com o Blanco na roda, claro.
Em vez de lançar um homem que, para começar a ser tido como ameaça teria, primeiro, que vencer um atraso de cerca de quatro minutos - e uma vez que não conta, definitivamente não conta com Rui Sousa para ganhar a Volta -, fazia explodir o pelotão com... a fuga do líder.
Estão todos atrás dele, pelo que ninguém se poderia dar ao luxo e ficar a ver como paravam as modas.
Definitivamente, o xadrês não é exactamente o passatempo mais do agrado do Américo Silva. Embora tenha tentado disfarçar, fazendo avançar um inofensivo peão, talvez na esperança de o ver transformado em raínha, se atingisse a última linha do tabuleiro.
Mas não era fácil.
Para não dizer... impossível.
Mas eu vou ainda mais longe.
E não fiquem escandalizados.
Teria tratado de garantir duas ou três alianças.
A Múrcia, de Palomares - que acabou por ser adversária -, a Barbot, de Bernabéu (embora aqui a nega fosse possível se o Carlos Pereira, arriscando menos, preferisse tentar a vitória ao sprint, com o Pacheco), a Scott, de Cobo, até o Boavista...
Alguém que estivesse disposto a queimar octanas (hei!... no bom sentido, não sejam perversos!) em troca da vitória na etapa desde que ajudasse o Nuno a recortar três quartos do atraso com que conta.
Porque já há alianças no pelotão e hoje isso ficou um bocadinho à mostra.
Aliás, façam o favor de ser justos para comigo e, se se derem ao trabalho de andar algumas etapas para trás, verão que eu há muito a anunciei.
Não é nada contra natura e só pensará isso quem não tem o mínimo de noção do que é o Ciclismo ou uma grande corrida por etapas.
E nem estou a contabilizar eventuais rivalidades, no pior sentido do termo, coisa do género... não ganho eu mas também não ganhas tu, coisa que tão bem encaixa na realidade do Ciclismo luso. Nada disso.
Qualquer observador com o mínimo de conhecimentos de Ciclismo não só não vai estranhar como já está a contar com uma clara e visível aliança entre o Benfica e o Tavira, na etapa de amanhã.
Eu escrevi-o aqui no dia da etapa da Torra.
Depois da etapa.
Deixei-o implícito ontem mesmo, quando chamei a atenção para o facto de, estando recheada de trepadores, a equipa de Vidal Fitas não ter obrigado nenhum deles ao mais pequeno esforço para além do normal.
Não, não estão furados das pernas. Estão a cumprir um rigoroso plano há muito estabelecido que - daqui a 24 horas veremos se tenho ou não razão - coloca o Vidal Fitas, e ele já teve oportunidade de surpreender-nos, logo no seu primeiro ano como técnico, no estreitíssimo rol de grande estratega.
Como já escrevi, a jornada de amanhã poderia ser jogada em duas frentes.
Um grupo de arredados da vitória final a lutar pela etapa e, mais atrás, desgastando-se menos, a luta entre os candidatos - Guerra e Blanco - que se resumiria ao ganha/perde cinco ou seis segundos para depois as coisas se resolverem no crono final.
Não vai ser assim.
O que é que eu antevejo?
Sejamos lineares e olhemos a classificação geral individual.
Por estranho que possa parecer, é a equipa do camisola amarela quem tem que atacar!
Ok...
E o que vai - de diferente - fazer o Américo Silva?
Pouco ou nada. Vai lançar outra vez o Nuno Ribeiro, provavelmente com uma guarda de honra ainda mais musculada do que aquilo que hoje fez...
Tinha dois homens numa fuga, fez sair o Nuno mais dois companheiros e mandou que os outros dois esperassem para ficar com um bloco de cinco Corredores à frente da concorrência.
Teoricamente... teoricamente a jogada tinha tudo para ser perfeita.
Mas o Ciclismo não se traduz exactamente com aquela brincadeira futeboleira do "são onze contra onze e no fim ganha a Alemanha".
E o esforço a que foram obrigados fez com que três dos operários da Liberty perdessem hoje cerca de 20 minutos para o vencedor da etapa.
O Benfica só teve Mikel Pradera dentro de registo semelhante e o sétimo homem do Tavira - Luís Silva desistiu e Martin Garrido não conta para a "guerra" de amanhã - não perdeu mais de 4 minutos e meio!
Pode ainda o Benfica sonhar com a vitória na Volta?
Numa corrida de Ciclismo não se fazem previsões destas tantas e tão alargadas são as possibilidades a ter em conta.
De um dia não, a uma queda infeliz.
Rubén Plaza, mostrou-o hoje, está forte e será sempre o candidato número 1 à vitória, domingo, no contra-relógio... e, por mais que lhe queiram fazer o funeral, o Zé Azevedo ainda não está morto. Longe disso.
O que é que o Benfica perde se ajudar o Palmeiras Resort-Tavira?
O que é que o Benfica perde se levar o David Blanco são e salvo até ao alto do Monte Farinha mas ganhar a etapa?
Nada!
Antes pelo contrário.
Já venceu três tiradas, o crono está praticamente no bolso do Plaza (o que daria 4) e se ganhasse, com o Cândido, ou o Petrov, ou... o Plaza na Senhora da Graça vencia metade das etapas da Volta.
E por muito bom que seja, e é-o, o Plaza não conseguirá dar mais de três minutos ao David Blanco no crono...
Portanto, meus amigos, o Américo Silva foi corajoso.
Jogou forte, tinha que jogá-lo.
Jogou foi mal.
Mais uma vez...
Ou acontece amanhã um cataclismo, ou eu não percebo nada de Ciclismo.
Ninguém está livre do primeiro, e se ele acontecer eu não deixo de saber o que já aprendi.
Não acontecendo o primeiro... independentemente do que acontecer amanhã (repito, não acontecendo nenhum cataclismo) o David Blanco repetirá a vitória na Volta conseguida em 2006.
.......
Em relação aos "casos" do dia...
Era o que faltava eu fugir às polémicas, como se estivesse com medo ou comprometido com alguma das partes!
Quanto à queda que envolveu o David Blanco, eu não vi.
Terá acontecido antes do início do directo, ou a RTP não a mostrou ou eu não estava aqui a olhar para a tv...
Ainda assim registo, todos pela positiva - por mais que vos custe a entendê-lo -, as reacções, no final da etapa, de três dos "protagonistas".
Se...
... o Cândido, apercebendo-se do incidente que acabou por penalizar, sobretudo o David Blanco, gritou e mandou que se tivesse calma e desse tempo aos envolvidos na queda para recuperarem, fez aquilo que é regra no Ciclismo, não excepção. O respeito pelos adversários vítimas de um qualquer infortúnio;
... pareceu-me de todo honesto o depoimento do Nuno Ribeiro. Se vai à frente - apesar do tal tique que tem de ir sempre olhando por cima do ombro - e ainda por cima a descer, não pode aperceber-se da queda, logo, não tinha que parar, contudo, pediu publicamente desculpas por uma eventual falha de desportivismo;
... e em relação ao David Blanco que dizer?
Que dizer que não isto: é um Senhor. Em cima da bicicleta e fora dela.
Nos últimos dias foi vítima de quedas mas nunca se desculpou com isso.
Hoje até usou de um extraordinário humor, ao dizer que sim, caíra que nem um gato, mas "de patas para cima".
E não se queixou de ninguém.
E quanto ao sprint final...
Analisar uma situação como a de hoje exige saber-se o mínimo de ciclismo e eu até tenho vergonha de dizer que nem de bicicleta sei andar.
Mas uso a minha desculpa habitual: também nunca estive na China e sei que os chineses são amarelos!
Estou totalmente de acordo com a análise do Marco Chagas.
Os fanaticamente puritanos carregarão na tecla de que houve um desvio de trajectória do Cândido.
Houve, e é extraordinariamente magnifico o trabalho que o António Costa apresenta no Cyclolusitano, ao separar frame por frame as imagens da televisão...
Duvido até que os Comissários tenham tido melhor auxilio para a sua decisão. Mas...
... mas (e aqui é que a coisa torce o rabo) mesmo sem saber andar de bicicleta tenho tantas centenas de horas de ciclismo que me sinto com autoridade para dar a minha opinião.
Que não é gratuita, atenção, nem movida por cores ou paixões sejam elas de que espécie forem.
Toda a gente viu o Cândido, estivese ele ou não a oferecer a vitória ao Rubén Plaza, virar-se e olhar sobre o seu ombro direito. Ora, quem sabe andar de bicicleta que mo diga... se nos inclinarmos sobre a nossa esquerda para podermos ver sobre o ombro direito... em que direcção é que a bicicleta se desvia?
(Não sei andar de bicicleta mas não sou tão mau assim em física!)
E depois - mas isto só mesmo os sprinters, incluindo o Francisco José Pacheco, podem explicar - mesmo sem se ver o adversário... sente-se ou não que ele está a chegar?
E, se estamos a olhar para um lado e o não vemos, terá que ser pelo outro.
E não cai a nossa trajectória, mesmo inconscientemente, para esse lado cego?
Quando sou envolvido por um grupo de gente, inconsciente mas automaticamente levo a mão ao bolso das calças onde tenho a carteira.
Há culpa do Cândido por ter descaído para a sua esquerda, ou foi errada a aposta do Pacheco em tentar passar entre ele e as barreiras?
Como já escrevi, subscrevo na íntegra a opinião do Marco Chagas.
Que houve um ligeiro - e naquela largura de estrada não era preciso mais - desviu do Cândido para o seu lado esquerdo, houve; que eu, se fosse Comissário, não penalizaria esta chegada, não penalizaria.
Ufff!.... parece que acabei de correr a etapa.
Estou estafado. Vou descansar.
Até amanhã.
Que tenhamos, acima de tudo, acima até do espectáculo, uma etapa sem casos.
O Ciclismo agradece.
Já bastam os mangas de alpaca para o complicar.
2 comentários:
Eu penso que o Américo Silva fez o que tinha que fazer mas podia ter corrido muiito melhor, principalmente se essas tréguas que o senhor fala tivessem ocorrido, o Nuno Ribeiro andou muitas vezes a trabalhar sozinho.
Rui Sousa ontem? Acho que seria muito cedo e o camisola amarela cansar-se-ia para nada, talvez a Palmeiras tivesse que trabalhar mais um bocadinho, mas nada de mais. Aquele ataque do Isidro Nozal é que já foi muito desespero por parte da Liberty!!
Amanhã é que apostaria em Rui Sousa, o que provavelmente o Américo Silva vai fazer. Koldo Gil e Rui Sousa vao atacar e Hector Guerra vai tentar ganhar alguns segundos na última subida. Penso que será o que se passará amanhã, no entanto o Guerra ainda precisa de ganhar 20 a 30 segundos amanhã se quiser ganhar a Volta.
"Quem quer ter opinião no reino das bicicletas, primeiro dá ao pedal e, depois, emite sentenças." Xiclista
Esta citação vem a propósito da sua análise do que aconteceu entre o Cândido Barbosa (que é conhecido por ter talvez mais desclassificações devido a episódios do mesmo género que vitórias) e o Francisco Pacheco. É mesmo preciso saber andar de bicicleta para saber do que se fala.
Depois de ter efectuado vários testes, devagar, depressa, em piso bom e péssimo, em descidas e subidas, e de observar com atenção vários ciclistas, cheguei à conclusão que a física, no caso específico do olhar para trás ou para o lado nas bicicletas, não conta para estas contas. Alguma vez reparou num miúdo que esteja a aprender a andar de bicicleta? Se ele olha para o pai, e este está à sua direita, a tendência natural é que ele descambe para a direita. Acontece que o guiador, talvez por artes mágicas, tem tendência a seguir a direcção da cabeça, vá lá saber-se porquê. O máximo que os mais experientes conseguem é seguir a direito, mas sempre com tendência a "virar" para onde a cabeça está virada.
Portanto, atrevo-me a discordar da sua opinião. Aquela chegada foi mais que irregular: o Barbosa sentiu que o outro ía por outro lado, mudou intencionalmente de trajectória para prejudicá-lo, portanto devia ser penalizado e a vitória atribuída ao Pacheco.
Pessoalmente, como simpatizante do SLB, tenho pena que não tenha sido essa a interpretação dos comissários. Quando o Barbosa era de outras equipas não havia qualquer hesitação em sancioná-lo. Agora que é do Benfica fazem vista grossa à batota. É pena. O verdadeiro benfiquista prefere perder tentando ganhar com lealdade a ganhar com batota.
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