(E vejam se descobrem o seu significado!)
Corriam os anos 60, no século passado. O País estava envolvido numa guerra de três frentes, em África, onde os Movimentos de Libertação lutavam pela independência, e cá por dentro o desconforto começava a notar-se.
Mas não podia saber-se, claro.
Aquele que, para vergonha dos da minha geração e anteriores, foi eleito a figura da História de Portugal - se bem que o valor daquela... "votação" não tenha mais valor do que aquele que lhe queiramos dar - mandou que apertassem a malha da Informação que era dada ao... povo, e depois havia os mangas de alpaca - sempre com têndência para serem mais papistas que o papa - que a estreitavam ainda mais, para não correrem o risco de poder vir a ser repreendidos pelo velho Botas.
Nascia, ou ganhava corpo – e que corpo – o famigerado Exame Prévio.
A Censura, em bom português.
Mas nasceu, também, e passou a ser exercício obrigatório para os Homens de Bem, o saber escrever nas entrelinhas. Dizer o que não podiam dizer, de forma a que a mensagem passasse.
Porque, se era exercida transversalmente e não deixava escapar nada que pudesse perturbar a sociedade, a Censura abatia-se, principalmente pelos Órgãos de Comunicação Social e, claro, quem mais sofria na pele (sentido figurado, claro) eram os jornais.
Explico, para quem é mais jovem e não faz ideia do que era fazer um jornal até há... não é preciso recuar muito, 25/30 anos atrás.
Os textos eram escritos - muitas vezes manuscritos -, pelos Jornalistas e entregues aos tipógrafos que, letrinha de chumbo a letrinha de chumbo (pequinininha, do tamanho em que a líamos), até formar as palavras, estas as frases, estas nos parágrafos, estes no texto, cada um dos textos, de cada uma das páginas, de todas as páginas do jornal.
E era obrigatório, conforme as páginas iam sendo completas, fazia-se uma "prova" primeiro, algo do género da alvorada dos jornais, cem anos antes, que era passar um rolo embebido em tinta pelo "quadro" de madeira onde as letrinhas estavam arrumadas e assim, por contacto fazia-se a "prova" que, obrigatoriamente tinha de ser apresentadas ao tal “Exame Prévio”.
Era um vai-vem no velho Bairro Alto, onde então moravam quase todos os jornais, e a Rua das Gáveas (no mesmo Bairro Alto) onde funcionava a Censura.
Que fazia um corte aqui, um corte ali – quem compra normalmente o Expresso sabe do que estou a falar porque há meses que anda a recordar esse tempo, com exemplo sofridos pelo próprio Expresso.
Ora, se acontecia um corte muito grande, os editores ficavam com um problema nas mãos. Como preenchê-lo? Hoje, aumenta-se ou diminui-se o tamanho de uma foto, ou acrescenta-se mais uma... naquele tempo isso era impossível.
A Capital foi o primeiro diário em que trabalhei.
Lembram-se d’A Capital?
Lembram-se do seu logótipo?
A Capital, com uma bola vermelha colocada entre o A e o C, apanhando metade as duas...
Ora era aqui que eu queria chegar.
Aquela bolinha nem sempre fez parte do logótipo. Aliás, originalmente não fazia.
Aquela bolinha, que até era a negro – cores, nos jornais, só mesmo no cabeçalho e quase só o vermelho (curiosamente) – tinha ainda outra particularidade... mudava de tamanho.
Era maior ou mais pequena conforme... o tamanho do espaço que ficara em branco por causa dos cortes da Censura nas notícias.
E a bola, ou círculo - ainda a preto - inventou-a Norberto Lopes, então director d'A Capital.
Para além de ser uma “solução para desenrascar”, ao mesmo tempo os leitores mais informados sobre a realidade que se vivia, ficavam a saber o tamanho da tesourada da Censura.
Só mais tarde é que, já afeiçoados à bolinha, é que esta saltou, em vermelho, para o cabeçalho do jornal.
Mas porque é que eu escrevi mesmo isto?!...
3 comentários:
Pois é.... muito simples, o que parece é... parece que a censura de há tempos chegou ao ciclismo... eu diria ainda melhor, parece que o sr. João Lagos trouxe a máfia do futebol também para o ciclismo.
Não, não!
Não mudei em nada o que penso sobre o João lagos, pessoa que é muito mais acessível e afável do que aquilo que a maioria possa pensar.
Estão a "focar-se" no alvo errado!
Confiem em mim, na minha capacidade para julgar os homens. Sem pretenciosismos. Tenho-a.
PS: Laurentino, tu não correste no Janotas&Simões? Sei lá... ai por 94 ou 95? Com o João Marta como DD?
Responde-me para o meu email: mzmadeira@hotmail.com.
Não sabia que eras alentejano. Eu também sou!
Mas ainda falta deslindar o que eu aqui deixei à discussão...
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