quinta-feira, junho 28, 2007

624.ª etapa


IMAGINEM... QUE ERA CONVOSCO

Quando há algumas semanas atrás se falou pela primeira vez do Acordo de Compromisso redigido – atenção que isto é apenas uma caricatura!... - nas catacumbas do faraónico edifício da UCI, de luzes apagadas para que ninguém mais pudesse dele ter conhecimento, para que não fosse discutido e, finalmente, para, quando posto à frente dos Corredores estes fossem induzidos a subscrevê-lo quase sem o ler (ou lendo-o, sem possibilidade de pedir um tempo para se aconselharem), ainda assim não faltou quem viesse a terreiro a aplaudir a iniciativa.
Mas confessem… não tinham a menor ideia do conteúdo desse documento que as diversas associações de corredores, por esta Europa fora, logo contestaram, pois não?

Em Portugal, pelo menos, e em termos de exposição à opinião pública, esse documento só apareceu hoje.
Já o leram?
Ok… Mantêm a mesma opinião?
Não… não por teimosia. Em consciência…
São capazes de manter a opinião que apressadamente se propuseram defender?

O que é que, agora que lido, aquilo parece? Que realmente parece.
Pois, mas o dramático reside aí. Não parece. É!.

Há pouco, e nem sei porquê, ao reler o documento lembrei-me de um dos filmes que mais me marcou. Que tenho gravado em VHS e que, de quando em vez revejo. Porque me marcou de tal maneira que a mensagem final ainda consegue arrancar-me um arrepio.

É um filme de Joel Schumacher, interpretado, entre outros, por Samuel J. Jackson (em mais um extraordinário registo), Sandra Bullock, Matthew McConaughey e o grande Donald Sunderland.
Chama-se, originalmente, “A Time to Kill”.
Em português correu com o nome de “Tempo de Matar”.
Conhecem? Lembram-se?

Muito resumidamente a história é esta: num estado do Sul, nos Estados Unidos, ainda segregacionista, apesar de a história se passar no Século XX, dois jovens sem profissão, que passam o tempo livre (que é todo) a beber cerveja, interceptam, apanham, violam, violentam e tentam matar uma menina negra.

O pai desta (Samuel J. Jackson), no dia do julgamento dos dois, escondido no edifício do tribunal mata ambos à queima-roupa e entrega-se às autoridades. Depois é o desenrolar de todo o processo de instrução. O advogado é um jovem branco que sofre toda a espécie de pressões que incluem ataques do próprio Ku-Klux-Klan.

O juri, escolhido a dedo, era maioritariamente composto por brancos o que practicamente tornava impossível a tarefa do advogado (tinha que tentar evitar a condenação de um negro), ajudado por uma jovem recém formada (papel interpretado por Sandra Bullock) e que não conseguiu o apoio material do seu professor e mestre (Sunderland), que só aparece no final e lhe diz algo parecido como “deixa o teu coração falar, só assim chegarás ao coração do juri”.

As alegações finais são a tal parte que me tocou de tal forma que, volta e meia, estou a rever o filme.

O advogado pede aos jurados que fechem os olhos e relembra toda a história. Fala de uma menina de 9 anos violentada, violada, que resistiu, por milagre, à tentativa de assassínio, que jamais poderá ser mãe porque o seu útero ficou irremediavelmente destruído.
Depois faz uma pausa.
E termina de forma arrasadora:
“Imaginem” – diz – “que essa menina era branca e os seus agressores negros”.

É isso.
Imaginem que é o vosso patrão, quem vos proporciona a pratica da vossa actividade laboral, que vos obrigava a assinar um documento destes, adaptado a cada uma das vossas profissões.
Assinavam?

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