segunda-feira, junho 18, 2007

592.ª etapa


PERCEBO EVENTUAIS DESILUSÕES
EU, POR MIM, FIQUEI ENVERGONHADO

Em alguns dos mais de 600 artigos (este é 631.º, e também por isso não dei grande importância ao número redondo das 500 etapas, porque a real 500.ª postagem já aconteceu há muito) debrucei-me sobre a necessidade de as Organizações fazerem algo que, só por si, “obrigue” a Comunicação Social a dar-lhes um espaço mais alargado.

Já houve tentativas.
Por exemplo, a Volta a Portugal, desde que sob a alçada da João Lagos Sports, “jogou” naquilo que achou ser a melhor saída e levando às chegadas e partidas figuras do chamado “jetset”, embora sujeitando-se ao fogo cerrado da Imprensa Desportiva – eu fui um dos que se manifestou abertamente contra – a verdade é que transportou o evento para as páginas da chamada “Imprensa côr-de-rosa”. E falou-se de Ciclismo num muito maior número de publicações.

Não estou a mudar a “agulha”. Não!

Para ser curto e grosso, enoja-me ver o pódio invadido por josés caslelos brancos e outros espécimes do género. Aliás, o pódio devia ser “solo sagrado” onde só deviam caber os heróis da estrada.

Mesmo os senhores patrocinadores e os senhores autarcas podiam ser “explorados” de outra forma. Que o speeker de serviço os entreviste, que os deixem falar… mas deixem o pódio livre para os homens que o merecem.

Mas voltando atrás.
Escrevi que as Organizações deviam fazer o tal esforço para tentar atrair o interesse da Comunicação Social, porque o que também é verdade, é que esta se debate permanentemente com falta de espaço. Só algo verdadeiramente original e apelativo poderia convencer os responsáveis pela distribuição do espaço.

Há duas décadas atrás a Volta ao Alentejo surpreendeu e ganhou a aposta.
Os encontros diários, ao fim do dia, que juntavam – como já aqui o referi também – toda a gente envolvida, do senhor presidente da Câmara aos voluntários que, a troca de quase nada, trabalhavam nas montagens e desmontagens das estruturas físicas necessárias nas partidas e chegadas, passando pelos jornalistas, recolheram os seus dividendos.

Quantos jornalistas (só para falar destes, porque houve corredores e demais staff das equipas que “descobriram” assim o Alentejo real e conheço casos concretos de quem se tenha, em definitivo, apaixonado pela região e voltado amíude, por causa da gastronomia, por exemplo), mas escrevia: quantos jornalistas não “inventaram” espaço, esse espaço (ou a sua falta) que nos sufoca, porque “tinham” pela experiência vivida, que descrever aqueles encontros? Muitos!...
Neste aspecto, a Volta ao Alentejo cumpriu na perfeição seu papel de primeira montra da região.

A ideia da divulgação dos produtos regionais, principalmente na gastronomia, teve outros seguidores embora eu, pessoalmente, acabasse por achar estas iniciativas contraproducentes. Em vez de os “convidados” sairem mais ricos por terem experimentado especialidades que não conheceriam, foram os locais a ficar com a sensação de que aqueles não passavam de um bando de esfomeados. Assisti a inúmeras cenas degradantes.

Ainda o café com leite do pequeno almoço engolido à presa o hotel ia a meio caminho do estômago e já se “batalhava” por um lugar junto às mesas, se misturava tudo o que havia à mão, se despejavam copos de branco ou tinto que, aparentemente, todos eram como o “Jacinto”.

Até o esforço feito junto das autarquias, para que estas oferecessem aos jornalistas – neste caso aos jornalistas – informação sobre as suas terras foi inúmeras vezes defraudado. Arrecadavam-se as esferográficas e a literatura junta era deixada espalhada pelas mesas, numa manifestação de desprezo.
(O que, não raro, confesso, até me proporcionou enriquecer a minha estranha colecção de mapas e plantas de localidades… pois podia trazê-las em duplicado. Já que os outros não queriam…)

Mas tudo o que ficou para trás – salvo a referência à necessidade de as Organizações “inventarem” algo de novo para concentrar a atenção da CS – foi apenas um dar largas à liberdade de poder escrever até me doerem os dedos. Embora não tenha fugido muito ao contexto.

Do que, realmente, quero falar é da surpreendente e extraordinária iniciativa que o Grande Prémio Abimota "inventou" na edição deste ano.
Fiz a isso uma pequena referência, logo que soube, mas não voltei ao assunto. Primeiro, porque também eu fiquei na expectativa. Como é que os Jornais reagiriam?

Terminada a prova, e perante a realidade constatada, impus-me a mim mesmo um silêncio de forma a não ser traído por uma natural emocionalidade.

Mas que fez a Organização do Abimota?
Deu, a cada uma das etapas, nomes de corredores históricos.
A 1.ª, era a etapa Ribeiro da Silva; a 2.ª, Sousa Cardoso; a 3.ª Alves Barbosa; a 4.ª Ivo Neves e a 5.ª, António Batista.

Era (foi) um grande desafio à CS.
Justificava, digo eu, em cada um dos dias uma pequena “caixa” a recordar, aos mais velhos, quem tinham sido e a ensinar um pouco da história da modalidade aos mais novos.
Que aconteceu? Que em alguns dias, que não todos, lá se meteu, a “martelo”, o cognome da etapa, assim, cruamente. Quem sabe sabe, quem não sabem quem foram nem percebeu o porquê de aquilo aparecer ali.

Terá sido uma experiência decepcionante para a organização cuja motivação era perceptível, mas honesta. “Obrigar” os Jornais a darem um pouco mais de espaço ao seu evento.

E é uma ideia – a não ser que tenha sido patenteada – a seguir por outras organizações. Imaginem o Troféu Joaquim Agostinho a homenagear, assim, João Roque, Leonel Miranda, António Marta… que sei eu? Tantos grandes corredores que nasceram e vivem (ou viveram) na região Oeste.

Que a Volta ao Algarve recordasse, Jorge CorvoReis Eusébio já tem uma corrida com o seu nome –, Rogério Domingues, Brito da Mana, Zeca Teixeira
Que a Volta ao Alentejo homenageasse António Adegas, Orlando Alexandre
Que no Minho se recordasse os estatutos consolidados, por exemplo, por José Martins, Luís Teixeira, Manuel Abreu

Mas falta sensibilidade nas (demasiado) desportivamente incultas segundas estruturas das chefia nos jornais. Porque há argumentos que são defensáveis. A não ser que essa incultura desportiva suba mais alto na hierarquia…

Infelizmente não tive, não tenho, acesso à Imprensa local e regional, pelo que não sei se nelas o tema oferecido em bandeja de ouro foi aproveitado.

Mas deixo um desafio: quem é que consegue demonstrar-me que não havia qualquer interesse jornalístico na proposta da Organização do Abimota?
Claro que havia.

Ribeiro da Silva e Alves Barbosa são dois símbolos do ciclismo nacional. Felizmente, o segundo ainda está vivo, lúcido e… crítico.
Nem que fosse com a “desculpa” de se estar a cobrir uma corrida que se desenrola na região que ele representou, enquanto Corredor, TINHA que haver um espaço para dar a palavra a esse que será o homem que mais sabe de ciclismo em Portugal.
Sousa Cardoso ganhou uma Volta a Portugal.
Ivo Neves fundou o Sangalhos – uma das equipas históricas do nosso ciclismo – e chegou a presidente da FPC. António Batista não teve muito tempo para mostrar o que valia. Morreu jovem, tal como Ribeiro da Silva, vítima de acidente.

Daqui deixo os meus parabéns à Organização do Abimota, pela ideia – genial, aliás – e, mesmo sem ter responsabilidade alguma, quero também deixar o meu pedido de desculpa, enquanto Jornalista, em nome da Imprensa que reconhece, sabe… mas não pôde fazer nada.

3 comentários:

Mittch disse...

Só para referir que a ultima etapa do GP Abimota teve o nome de Antonino Baptista, e não faleceu de acidente, como referido.

Aqui fica o link com algum do palmares dele:

http://campeoesdeagueda.blogspot.com/2005/12/9-antonino-baptista-campeo-e.html

Carlos José Matos disse...

Concordo que se homenageiem os grandes campeões, que se procure "forçar" a CS a dar maior visibilidade ao Ciclismo.

É para isso que todos os que gostam de ciclismo devem trabalhar.

Foi por isso que em 4 de Novembro de 2006, o Alcobaça Clube de Ciclismo organizou uma festa/homenagem denominada "PORTUGAL - 50 ANOS DE CICLISMO".

Contudo a adesão da CS desportiva nacional foi, infelizmente, fraca para a iniciativa de homenagem a alguns profissionais da bicicleta e a outros, sem os quais é impossível a subsistência do Ciclismo.

Para quem quiser saber mais sobre o que foi esta festa aqui fica o link do blog:

http://50anos.blogspot.com/

mzmadeira disse...

É verdade Carlos Matos... infelizmente, é verdade.
Se fosse um jogo de futebol entre os amigos do Zé da Esquina, só pela almoçarada, teria direito a tratamento de "derby" decisivo para a atribuição do título de campeão.
Mas já estou a falar de mais outra vez...