domingo, junho 03, 2007

572.ª etapa


McQUAID... NEM SIM, NEM SOPAS

Vou escrever sobre a entrevista do senhor presidente
da União Ciclista Internacional, Patrick McQuaid, que hoje saiu n’A BOLA.
Numa entrevista, que é apenas um dos géneros jornalísticos, o jornalista põe perguntas, o entrevistado responde e… são as suas respostas que interessam.

E o senhor Patrick McQuaid deu respostas bastante interessantes.
Que apenas comprovam que o homem se não anda a leste da realidade… pelo menos ainda vai a meio do livro e não faz nem ideia de como a história vai terminar.

Primeiro, admite que a Operação Puerto é uma acção civil (certo!) mas também que, cito: “No plano da justiça desportiva a situação já está resolvida.”
Óptimo, não fora o caso de logo acrescentar: “Mas continuamos à espera da decisão do tribunal” e… “A UCI recorreu das decisões judiciais e agora aguarda”, para terminar com um curiosíssimo “Estamos naturalmente preocupados mas não podemos intervir.”
Lapidar.

A reter: aquilo que interessa.
“No plano da justiça desportiva a situação já está resolvida.”
Claro que está. Aliás, legalmente – ao nível da “justiça desportiva”NUNCA houve nada para resolver. Nenhum dos corredores cujo nome é posto em causa foi apanhado nas malhas da chamada… “justiça desportiva”!
Que parte é que o senhor Patrick McQuaid não terá percebido?

Depois.
“A UCI recorreu das decisões judiciais e agora aguarda.”
O quê?
À data do caso Operação Puerto a Lei espanhola não previa quaisquer consequências para casos de “doping”, ou outros métodos julgados como interditos à luz dos regulamentos desportivos. E é claro, em Direito, que as provas reunidas por uma acção policial não podem ser usadas por terceiros para incriminar seja quem for.

A verdade é esta: mesmo que a Operação Puerto tivesse tido consequências, em termos policiais, mesmo que os inúmeros “pseudónimos” tivessem sido directamente ligados a nomes concretos, a “justiça desportiva” continuaria sem ter margem de manobra.

E, por esta altura – as diversas, ainda que (ou mesmo por isso?) pequenas, fugas de informação não são mais do que um instrumento manuseado pela polícia espanhola para deixar saber que… ela, a polícia, sabe quem é quem – a UCI está de mãos tão atadas como sempre teve.
“Estamos naturalmente preocupados mas não podemos intervir.”
EXACTAMENTE!

E não vão poder…

E o facto de o senhor McQuaid não estar mesmo preparado para dar entrevistas fica a descoberto quando responde à pergunta – muito bem colocada, e não é por ter sido pelo Martins Morim – do porque é que um corredor, mesmo alvo de castigo, que cumpriu – caso do Santi Blanco – não pode correr por uma equipa ProTour mas pode livremente representar qualquer outra.

Todos os que leram terão – espero que definitivamente – percebido que, para a UCI, SÓ EXISTE UM CICLISMO: O ProTour.
Quer dizer… usando palavras dele, “... tendo em conta salvaguardar a credibilidade do ProTour”, mesmo que tenha acrescentado “e do ciclismo”.

Mas… a Relax-GAM, por exemplo, que acolheu cinco ou seis corredores presumivelmente implicados – alguns apanhados e castigados (mas que, também é verdade, já cumpriram as suspensões) – não tem nada a ver com isto, de dopings, de controlos positivos, de suspensões – repito: já cumpridas – e fica de fora da tal “capa” de credibilidade exigida?

Brilhante a “ferroada” do Martins Morim ao perguntar:
Mas não se defende a ética também com as outras equipas?
A resposta foi sem sal nem pimenta…
“Todos sabem que têm de respeitar o Código da AMA…”

E logo a escorregadela: “… as equipas do ProTour aceitam também um outro código um pouco mais exigente.”

Preparado, o jornalista encosta-o à parede. Há cláusulas que são, à luz de mais do que uma constituição… atropelo à liberdade individual do cidadão. Não há escapatória a isto.
Aliás, num artigo que aqui deixei não há muito tempo, a Associação Portuguesa de Ciclistas Profissionais esgrimiu com a posição claramente tomada pela Associação Nacional de Protecção de Dados… é inconstitucional obrigarem um cidadão a cederem aquilo que, pela Lei Geral do País, apenas um mandado judicial pode exigir.

Resposta do senhor McQuaid: “Do meu ponto de vista há discussão a mais sobre este assunto.”
CLARO!
Eu, pessoalmente, acho é que há respostas a menos…

Noutro ponto da entrevista fala-se da exclusão de uma determinada equipa.
É a Unibet.com, não vale a pena escondê-lo.

Agora… – e isto demonstra como existe mesmo um síndroma que, aparentemente, ataca as confederações com sede na Suíça (já explico*) – a UCI é um apenas um organismo desportivo, por mais federações e mais atletas que represente. E o senhor McQuaid, enquanto seu presidente, devia ser o primeiro a mostrar-se, pelo menos, cuidadoso no que diz.

A verdade – e agora vou cingir-me ao que leio no que é escrito em português (não nos jornais… que têm passado mais ou menos ao lado) – é que toda a solidariedade mostrada para com a Unibet.com, embora até possa ser compreendida, atropela – outra vez – as Leis Gerais.
A Unibet tem sido, é um facto, vítima, mas quando uma organização apresenta, à frente de qualquer outro argumento, a Lei do seu país… o que sobra para discutir?

Que a UCI, cega, surda e tanto que gostaria de ser muda, até agora ainda não foi responsabilizada por ter aceite a inscrição daquela equipa, com aquele patrocinador. E a empresa pode, deve e TEM que procurar ser ressarcida nos seus prejuízos pela… União Ciclista Internacional.

Foi a UCI quem a atirou para a “fogueira”. As organizações das Três Grandes procuravam um ponto fraco e este foi-lhe oferecido pela UCI

Já agora, e sem querer ser aqui o advogado do diabo

A Unibet.com JÁ CORREU ILEGALMENTE EM PORTUGAL.
A nossa Lei também proíbe a publicidade aos jogos de azar.
Aliás… quem tem esse exclusivo para além dos casinos, é a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
Mas quem se diz jornalista não sabe o mínimo sobre o terreno em que se move?

É VERDADE!


À luz da Lei portuguesa, a Unibet.com não pode correr em Portugal… com este nome.
Pergunte-se ao Sporting Clube de Braga que, durante toda a temporada – com muita coragem, assiná-lo – jogou com uma faixa negra nas camisolas porque o patrocinador que arranjou no início da temporada (a sportingbet.com) foi excluído à luz… da nossa Lei.

Mas, repito, a Unibet.com já participou em corridas em Portugal.
Também dá para ver o quanto o ciclismo “chateia” as autoridades…

* Aquela do síndroma que ataca as instituições com sede na Suíça tem a ver com a “decisão” da vestuta FIFA que quer acabar com os jogos de futebol em estádios acima dos 2500 metros de altitude.
Vá lá que o Jorge Valdano veio a público na defesa dos Equador, do Perú e dos outros países andinos. É que não parece mesmo nada uma medida para proteger o Brasil e a Argentina, naaaaaa….
EsteS não estão preparados para jogar em altitude, mas os outros, que fazem lá os seus campeonatos, estarão obrigados a jogar SEMPRE os seus jogos internacionais em altitudes ao nível do mar!... Muitooooo democrático!

1 comentário:

Pedro Morgado disse...

O mais ridículo é que proibiram o braga de publicitar a Sportingbet.com mas o Benfica pode fazer publicidade à Starbet.com