terça-feira, junho 19, 2007

597.ª etapa


TESOURINHOS "DESENTERRADOS" - V

Tenho uma postura com muito de pragmático no que respeita à concorrência entre jornais.

Acho que sim, que cada um deve dar o melhor de si de forma a proporcionar aos seus leitores a melhor e mais fiável informação. Sim. Porque acho que não "vale tudo".
Mas dou valor a quem "veste a camisola"...

Também tenho uma não negligenciável experiência de "estrada" e com muito pouco, quase nada a apontar aos meus colegas. Colegas. Sempre.
Nem adversários, muito menos "inimigos".

Temos todos um trabalho a fazer, todos querem fazê-lo da melhor maneira possível e, descontando as situações em que temos de ser "mauzinhos", fazendo "caixinha" de algumas coisas, prevalece a solidariedade.

As "guerras" de audiências, de quem vende mais, ou vende menos, acontece a um nível superior ao nosso, os dos companheiros de trabalho, todos diferentes, todos iguais.
Solidários na esmagadora maioria das vezes.
Tenho amigos - felizmente tenho amigos - em todos os jornais (e não só).

Mas qual é o Jornalista que não gosta de "arrancar" uma grande "cacha"?

Dependemos, em muito, das fontes que fidelizámos, mas também estamos sujeitos a algumas manobras de... "contra-informação". Devemos estar preparados para isso.

O primeiro tesourinho de hoje já é velho, de 1998. Vivia-se uma "guerra calada" (mas não muito, não muito...) porque estava a concurso a Volta a Portugal, a partir de 2000.
Terá sido um exemplo da tal "contra-informação"?

Não sei - eu nessa altura ainda estava n'A CAPITAL, um pouco de fora destas coisas - mas a notícia saiu e anunciava... a presença de Marco Pantani na Volta a Portugal!
Não se confirmou.

Alguns anos mais tarde - ainda não cheguei lá, na arrumação que estou a fazer - foi anunciado como "praticamente certa" a vinda de Roberto Heras (que tinha ganho, se não estou em erro, a sua segunda Vuelta) à Volta ao Algarve.

Já eu estava n'A BOLA e a notícia foi avançada por um "concorrente" directo... Sinceramente, para além da frustação de ter perdido a "cacha", nenhum outro sentimento me assaltou.
Acreditem vocês agora ou não.

Mas o Roberto Heras... não apareceu.
Teve um "problema físico" a poucos dias da viagem até Portugal.

O segundo exemplo de tesourinho que aqui deixo hoje ainda é uma das maiores "cachas" que consegui. Fiquei nervoso, confesso, até ao momento em que, no dia 7 de Janeiro de 2004, me levantei e fui comprar os jornais. Era mesmo "cacha"!

Fiquei feliz. Não o escondo.

Recordo que estava de folga, em casa, quando um telefonema que recebi - a história está contada - me deu a certeza de que Lance Armstrong viria, algumas semanas depois, à Volta ao Algarve. Liguei ao meu editor - ainda não partilhava essa responsabilidade - e disse-lhe: "Dá-me uma página que o Armstrong vem cá."
Pedido imediatamente concedido.

A reacção a esta notícia, por parte da "concorrência", pelo menos parte dela, é que me maguou. Alguns até utilizaram exemplos lançados por eles próprios - e não concretizados - para tentarem diminuir a importância da notícia que A BOLA lançava.

Mas a dúvida - porque podem acontecer mil e uma coisas - também a mim incomodou até bem tarde, até à véspera do arranque da corrida e só foi varrida com um telefonema do meu querido Carlos Vidigal - que já não está entre nós - que, deixando-me em Albufeira, partira para o Aeroporto de Faro garantindo-me que, nem que tivesse de ser preso por desobediência às autoridades, ele haveria de me arranjar o "boneco" da chegada do Homem.

E no seu jeito muito próprio, quando me ligou disse: "Chefinho!, espero que já tenhas mandado para Lisboa a merda do texto, que a foto vai a caminho".

Depois de Eddy Merckx - a propósito, quantos, mesmo entre os jornalistas, sabem quem é o cidadão Edouard Merckx? -, ainda nos anos 60, do século passado, ter estado num festival de pista, em Alvalade, com o seu amigo Joaquim Agostinho; depois de, em 1996, Miguel Induráin ter estado na Volta ao Alentejo, tínhamos, pela terceira vez, um penta-vencedor (*) do Tour a correr em Portugal.

E a notícia da sua vinda, em primeira mão, ficará para sempre, bem para além da minha morte, com a minha assinatura aposta.


(*) - Destaco esta opção à outra que vejo inúmeras vezes escrita: penta-campeão. Campeão é o vencedor de um campeonato. Ora, o Tour, como qualquer outras das corridas do calendário mundial, com as excepções, dos Campeonatos do Mundo, não decidem um... campeão. Têm um vencedor. Por isso, em relação aos quatro que venceram por cinco vezes o Tour - Jacques Anquetil, Edouard Merckx, Bérnard Hinault e Miguel Induráin - os devemos tratatar como penta-vencedores da corrida. Lance Armstrong foi hepta-vencedor da mesma corrida.

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