sábado, maio 05, 2007

515.ª etapa


CICLISMO É ESPECTÁCULO PURO.
NÃO VIRAM HOJE?

Deixem-me soltar o meu eu de adepto: Não há grandes corridas – ou aspirantes a isso – sem grandes etapas. E hoje pude ver uma grande etapa e, até porque conheço a corrida, de outras voltas, digo: a Volta às Astúrias é uma grande prova.

Não acredito que ninguém que tenha podido assistir à etapa de hoje tenha ficado indiferente. O ciclismo pode ser, É!, um grande espectáculo. Até televisivo.

E o meu eu de adepto não pede licença para se exprimir só porque largas fatias da etapa tiveram o especial sabor a Portugal. Também é por isso, mas tivessem sido outros os protagonistas e sentiria o mesmo.

Comecei a ver a reportagem com o Hernâni Brôco (Liberty Seguros) em destaque. Liderava a etapa, depois de ter sido segundo na primeira meta volante do dia e de ter ganho a Intervuelta. E venceu a primeira montanha do dia (de 1.ª categoria). Tinha – ou teve durante largo espaço – a companhia de Julián Sanchez (Relax) que, curiosamente, se manteria na frente depois de Brôco ter abdicado para passar a ter a companhia de outro português. Nada mais, nada menos que… José Azevedo (Benfica).

Mas, a meio tempo, ainda houve… tempo (!) para ver Rui Sousa (Liberty Seguros) a tentar também a sua sorte. A verdade é que ambas as equipas lusas se mostraram. Se mostraram numa etapa espectacular e que, quem a pode seguir não esquecerá tão depressa.

O Hernâni teria, no final, honras de pódio, por ter ganho a Intervuelta e porque foi considerado como o Corredor mais Combativo do dia. O prémio de José Azevedo creio que, e apesar de tudo, foi mais significativo ainda, mostrou que o chefe-de-fila dos lisboetas – que nitidamente se adiantou para se experimentar (o resultado foi positivo) –, apesar da inesperada paragem, está aí para as curvas. Assumiu, quase sempre, as despesas da fuga, talvez porque a subir é mais forte que Fernandez e evidentemente porque, naquela descida meio louca é preferível rolar na frente, preocupando-se apenas com a estrada, do que ir na roda tendo de manter vigilância constante sobre o homem que vai na frente. E, ao contrário que os comentadores da RTPA – ambos corredores profissionais, o Carlos Barredo (Quick Step) e o Samuel Sanchez (Euskaltel) – disseram por mais do que uma vez, o Zé é muito bom a descer.

No que ambos têm razão é que, para se descer bem convém conhecer muito bem a estrada, mas aí, e tirando alguns corredores asturianos, o desconhecimento da descida seria generalizado. E o Zé não desceu mal. Antes pelo contrário.

Tanto que, se ao coroarem a meta de montanha os fugitivos levavam pouco mais de um minuto e dez segundos de vantagem, no final da descida o avanço superava o minuto e meio. Também é verdade que a descer se desce melhor em pequenos grupos que em pelotão.

José Azevedo ainda ganhou a segunda meta volante do dia, na cidade de Cangas de Narcea, mas nessa altura já o primeiro dos grupos em que o grande pelotão se fragmentou trazia os fugitivos à vista. E, mais uma característica desta montanha do Acebo, a subida final – com cerca de dez quilómetros – inicia-se ainda dentro da malha urbana da cidade.

A partir daqui há outra história para contar. Com os principais favoritos a marcarem-se em cima e com a Saunier Duval e a Relax-GAM em completa guerra aberta, se a formação de Fuenlabrada jogara aberto, lançando Julián Sanchez – o que dispensava a equipa de fazer qualquer perseguição – a de Torrelavega teve noutro jovem, Alberto Fernandez um trunfo inesperado. Sendo que, como o provou, Koldo Gil está mais forte que Oscar Sevilla. Ou gastou menos pólvora em tiros em seco que o manchego que desde a subida Al Naranco tem insistido em mostrar-se. Mostrou-se demais e pagou hoje a factura.

Para fechar com chave de ouro, esta etapa proporcionou-nos ainda a possibilidade de testemunhar o quão diferente é esta modalidade. Mesmo – ou principalmente? – no aspecto humano.

Com Sevilla atascado lá atrás e sentindo-se com forças suficientes para o abater de vez, Koldo Gil, que esticou, esticou, esticou até… partir, alcançou o seu jovem companheiro na frente da corrida, puxou por ele, falou-lhe – a incentivá-lo, com certeza – e levou-o nos braços até à meta, dando-lhe a primeira vitória enquanto profissional. Dirão os menos emotivos… pois, mas já tinha a camisola amarela garantida! Pois tinha, mas que foi lá acima ajudar o companheiro, isso foi.
...
Só um post-scriptum...
... lembram-se daquele completo desconhecido que ganhou o Prémio da Montanha na última Volta ao Alentejo? John-Lee Augustyn (Barloworld)? Pois é, foi o terceiro, hoje, no alto del Acebo. E tem 20 anos. Faz 21 no próximo dia 10 de Agosto..

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