sábado, maio 12, 2007

533.ª etapa


EQUIPAS QUEREM SER PARTE ACUSADORA
DEIXANDO A PARTE ODIOSA DO CASO
APENAS NOS OMBROS DOS CORREDORES

Num comunicado assinado pelo seu presidente, Yves Bonnamour, a Associação Internacional dos Grupos Desportivos Profissionais (AIGCP, do nome em francês) comunicou aos directores-desportivos e managers dos seus filiados que “acaba de ver-lhe reconhecido [após petição enviada às entidades competentes] o desejo de ser aceite como parte interessada no caso Operação Puerto” e que “deste modo, passará a ser considerada como parte de pleno direito [nas eventuais acusações]”.
E acrescenta o referido comunicado: “Mas, como a instrução do processo foi mandada arquivar pelo juíz, a AIGPC (em sintonia com as outras partes interessadas que já o tinham feito) ira apelar para que se reabra o processo e se avance com a instrução.”
E finaliza: “Quando o processo for reaberto, a AIGCP terá acesso a todos os documentos que dele fazem parte, sem prejuízo da intenção de poder a eles ter acesso já nos próximos dias.”

Na leitura que dele faço, este comunicado não deixa de ter o seu quê de âmbiguo.

Primeiro: A AIGCP, embora representante das equipas – e aqui podíamos pensar nos patrões – é constituída, pelo menos na sua larga maioria, exactamente pelos managers e directores-desportivos dessas mesmas equipas. Então… estão a admitir, ao quererem assumir-se como parte do colectivo de acusadores (serem mesmo juízes) em relação aos Corredores que integram as suas formações, que eles contrataram, que eles treinam e dirigem, que não sabem que espécie de atletas (de Homens) contrataram, dirigem e… treinam ao longo da temporada!
Segundo: Numa altura em que a turbulência à volta do Ciclismo é cada vez maior, o que deixa prever poder a vir a ser cada vez mais difícil segurar ao actuais patrocinadores ou encontrar novos, os responsáveis – os verdadeiros responsáveis – pela gestão das equipas pretendem mostrar que estão acima de quaisquer suspeitas. Pelo menos tão surpreendidos quanto os demais com as convulsões por que passa a modalidade!
Numa frase, curtinha: querem salvar a pele.

E, claro, TODO O ODIOSO da questão fica, a partir deste momento, apenas e só sobre os ombros dos CORREDORES.
Ao contrário do célebre dito, que o capitão é o último a abandonar o barco, ei-los a tentarem pôr-se rapidamente a salvo. Também há outro dito e em relação ao naufrágio de embarcações e dá um nome que todos conhecem aos primeiros a tentarem saltar borda fora.

O curioso é que isto contraria, em tudo, o descarado baixar dos braços por parte da mais alta Instituição que gere o ciclismo mundial. Mas já vou referir-me ao excelente Editorial assinado pelo director da Meta2Mil, Jorge Quintana, na edição desta semana daquele semanário espanhol.

Agora sinto-me na obrigação de voltar um pouco atrás.
Acho indecente que se abandonem os Corredores numa altura destas, até porque teriam que me explicar, muito bem explicadinho, como é que haverá – e refiro-me à Operação Puerto – equipas com vários corredores presumivelmente implicados e nem directores-desportivos nem managers nunca desconfiaram de nada.

Li hoje no generalista espanhol El Pais (depois de ver a chamada que para ele fez o José Carlos Gomes no seu Pedaladas) que não passam despercebidas as viagens de vários corredores a determinada cidade onde exerce um determinado médico e dos numerosos grupos que tomam um vôo charter, em Pisa, com destino a Madrid. Mais, pondo o dedo na ferida – eu acho que o jornalista não errará muito – não colocando de lado a possibilidade de, em Itália (o artigo é a propósito do Giro), poder existir também uma qualquer organização em tudo semelhante àquela que, em Espanha, tinha como rosto o doutor Eufimiano Fuentes.

E, no meio disto tudo, deixo a pergunta: qual o papel, há um ano quando tudo isto se espoletou, do senhor Manolo Saiz – presidente da AIGCP à altura – que foi apanhado com uma mala cheia de dinheiro junto a uma das clínicas do Fuentes, e, pouco depois, na posse de produtos ilícitos?

E obrigo-me a uma reflexão. Quase todos – se não todos – os nomes de corredores já citados são de primeira linha. Já conquistaram muitos triunfos, já estão em grandes equipas, já conseguiram bons contratos financeiros. Terão sido movidos pela ambição? Quereriam ganhar mais corridas, conseguirem bons, e mais bem pagos contratos em equipas ainda mais poderosas?

Não evito, contudo, deixar de pensar que a grande pressão – principalmente desde a criação do ProTour – se centra, não nos corredores mas nas equipas. Estas sim, precisam de resultados para conseguirem mais e melhores patrocinadores para conseguirem segurar os seus principais corredores.
Ou não será assim?

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