segunda-feira, maio 28, 2007

559.ª etapa


FORMULÁRIOS, CORPORATIVISMOS E OUTRAS ANEDOTAS…

Na passada 5.ª feira, dia 24 deste mês de Maio de 2007, a Associação Portuguesa de Corredores Profissionais (APCP) emitiu um comunicado que – é a minha modesta opinião – deveria ter merecido um maior impacto junto da Imprensa. Na verdade, só um dos jornais “desportivos” pegou no assunto. Três dias depois. E de uma forma, pelo menos, menos conseguida. Já lá irei.

O Ciclismo atravessa momentos difíceis. É uma afirmação.
Não passível de contestação. Porquê? Já lá irei…

O Comunicado da APCP foi transcrito, na íntegra em, pelo menos três sítios na Internet. Não!, não esperava que os jornais o fizessem. Mas a Internet é um meio cada vez menos desprezível por parte dos OCS. Ignorando-os, correm o sério risco de serem “julgados” por abstenção em alguns pontos importantes da vida das modalidades em causa.

Não é só do Ciclismo.
O mal começa dentro das próprias redacções que subalternam – vide as afirmações proferidas este fim-se-semana pelo técnico da Ovarense (basquetebol), o credenciado Luís Magalhães – as “modalidades”.

Mas isso acontece em todo o Mundo, em todos os jornais desportivos com uma saudável e exemplar excepção. Ou, ao contrário do que o famoso Asterix dizia, quem é mesmo louco são os gauleses e, assim sendo, estamos todos os demais enganados.

Se eu um dia, e teria de ser por um surpreendente – e coisa em que já deixei de acreditar – golpe de sorte, me visse responsável por um jornal, a primeira coisa que faria seria a de obrigar – OBRIGAR – os responsáveis editoriais a estudarem (não era a ler, era a estudarem) o l’Équipe. Que, valha-nos a abertura de espírito desses mesmos gauleses – que costumamos apelidar de chauvinistas –, não olham ao formato, tamanho e peso da bola, não olham, de todo à presença ou não de UMA bola, para chamar à primeira página e às suas páginas nobres a modalidade que, no que concerne a cada uma das suas edições, merece maior destaque.

O l’Équipe será, não tenho muitas dúvidas, o ÚNICO jornal desportivo do Mundo.

Na Grã-Bretanha não há jornais diários desportivos e, na Península Ibérica temos é jornais de futebol que, com alguma condescendência, lá abrem mão de quatro páginas para se falar de qualquer outra coisa que não seja o Futebol.

O Futebol dos clubes com seis meses de salários em atrasoalguém viu alguma reportagem digna desse nome focada neste assunto? -, o Futebol que a mesma Imprensa travestiu de Palhaço Rico. Aquele que dá as chapadas… mas nunca, nunca, tropeça. Muito menos cai em público.

Os mesmos jornais que varrem para debaixo do tapete as porcarias deixadas pelo futebol, abrem as suas (poucas páginas) dedicadas às outras modalidades, principalmente ao que de mais sujo estas têm.

Um exemplo? TODOS “ofereceram” as suas páginas ao Nuno Assis que teve, somando a audiência dos três "desportivos", mais de três milhões de portugueses a poderem ler a sua auto-defesa num caso de doping.
Onde tudo foi esmiuçado.
Foram uns comprimidos para a tosse?
Uma pomada por causa de uma alergia?
Não interessa – (é que eu não li!) –, o clube defendeu-o até ao limite do verosímel… Mas nem teria precisado disso.
Tivessem submetido o Nuno Assim a um julgamento popular e ele teria, de imediato, sido absolvido.

Não tenho nada, MESMO NADA contra o Nuno Assis. Aliás, e nunca o escondi, sou benfiquista. E até sou fã do Nuno. Gosto de o ver jogar. (Fim de tema)

Saltemos agora para o Ciclismo.
Gostei – e, se calhar, só aconteceu pela subalternidade que as modalidades merecem – de ver que o assunto não foi exageradamente empolado.
Foi mais um caso.
Falo do "caso" Sérgio Ribeiro.

Com a excepção de um dos “desportivos” que, qual troféu, abriu uma página com o anúncio da detecção do ilícito para, meia dúzia de dias depois, não fora alguém ter-se esquecido, cair no ridículo de, a partir de um comunicado, ter travestido uma peça como se ela fora uma entrevista.

A abrir página, claro.

Figurativamente, primeiro mandou-o a chão e depois… deu-lhe uns pontapés valentes!
É de… valente!
Bater em quem está por baixo é de valente.

Mas – infelizmente é o MEU jornal, e que ninguém o ponha em causa: é o MEU jornal… não sei é se o é de alguns dos intervenientes nestas “estórias” – nem uma oportunidade de defesa para o suspeito, logo culpado, julgado e condenado na praça pública.

(Digam-me… tentem convencer-me, que não falta formação – nem digo jornalística, digo de cidadania – a quem coordena aquilo. Se há UMA página para o julgar… TEM QUE HAVER UMA PÁGINA, para que se defenda!)
Não foi isso que fizeram com o Nuno Assis?

A partir daqui podem imaginar-se mil e um cenários…
O primeiro, e digo-o porque estou certo do que digo, porque o “acusado”, depois da forma como foi tratado… se recusa a falar com quem se apressou a acusá-lo.
Um jornalista não pode fazer de júri… muito menos de juíz.
E o “é verdade ou não é?”, é argumento que não pega
Pelo menos, quando há outras verdades que, sem apelo, viriam “agarradas” àquela.
E que foram ignoradas.

(Eu sei que a minha escrita é chata… longa…)

Só agora chego ao Comunicado da APCP.
O tal que mereceu este título, no ÚNICO “desportivo” que dele falou:

FORMULÁRIOS CONTROVERSOS.

Dos outros tanto se me dá como se me deu. Mas o MEU jornal foi fundado por HOMENS que pugnaram – e até pagaram, com a prisão – pela VERDADE. Pela HONESTIDADE.

A APCP NÃO SE QUEIXOU dos formulários.
Foi ridícula a peça.
Que as almas de Cândido de Oliveira, Ribeiro dos Reis e Vicente de Melo descasem em paz.
O que a APCP defende é que não pode permitir que regulamentos que transguidem a Lei Geral do País sejam impostos aos Corredores.
Na História desse grande Jornal, sempre se primou pela defesa dos direitos do indíviduo.
Seja Corredor ou não.
Não são os formulários que, aqui, geram controvérsia.
É o substantivo atropelo aos Direitos de qualquer cidadão.
E que não me venham com “normas” aprovadas em Assembleias Gerais.
Reduzindo a coisa à sua ínfima fracção: Se uma associação, fosse ela qual fosse, aprovasse – mesmo que em AG – a morte de um seu membro por, fosse que motivo fosse… QUEM É QUE NÃO TERIA VERGONHA DE VIR DEFENDER ISSO EM PÚBLICO?

O que está em causa é tão grave que a própria Comissão Nacional de Protecção de Dados (pessoais) se viu na contingência de intervir
Que mais é preciso para perceber que não é legal?

Por isso acho que o dr. Artur Moreira Lopes, também ele, acabou por ser traído.
Nunca ele poderia defender normas que atentam contra o definido na Constituição do Estado português.
Às vezes quer-se ser o que se não é. E depois desemboca-se nestes “becos sem saída”.

Para terminar…
“Varredor” inveterado do que se diz e escreve na blogosfera – e sítios adjacentes - dou com um dos teóricos-mor (António Dias, não é nada de pessoal, mas acho que há alturas em que se não deve negar o “abanão” que percebemos está a ser preciso dar) a apelidar de corporativista o desempenho da APCP.
Como não acredito, nem que visse com os meus próprios olhos, que tu fosses capaz de julgar, fosse quem fosse, ouvindo apenas uma das partes, e como quero acreditar que és um pouco mais inteligente que os demais… não peças à APCP que abdique do pouco que, em termos legais, pode fazer.

Corporativismo é um termo – entendido por todos os que têm mais de 45 anos (o que até nem é o caso do Paulo Couto – parabéns pelo trabalho que vens a desenvolver em prol dos teus associados)extremamente depreciativo.

E, assumam de uma vez por todas, TODOS os TEÓRICOS do fenómeno Ciclismo, que não estão minimamente preparados para o discutir.

Por isso se somam as incongruências.
Repetindo-me… EXIGEM espectáculo e CASTIGAM quem, condicionado por essa insana exigência, vai além do permitido.

E “teorias” de que se não se sobe a 35 km/hora sobe a 25, se se está a pensar no mesmo espectáculo é porque DEFINITIVAMENTE, não percebem NADA – reforço: NADA – de Ciclismo.

Numa altura em que parece que alguns dos “mitos” do vosso ciclismo entraram em incontinência verbal… tentem, ao menos, vocês, ter algum tento na língua.
Ler 50 sites na internet por dia não vos faz “experts” na modalidade.

5 comentários:

Nuno Inácio disse...

Posso subscrever?
Assino por baixo...

Antonio Dias disse...

Não sou nenhum teórico. Apenas tenho a minha opinião. E não é, por defender posições diametralmente diferentes das tuas e de alguns senhores instalados do ciclismo, que mereço ser chamado de "teórico", que não percebe nada de ciclismo. Não preciso, portanto, de nenhum abanão.

Não sou nenhum expert, não leio 50 sites, mas também não sou burro. E posso garantir-te, caro amigo Manuel, que conheço e percebo muito mais de ciclismo do que tu ou outras pessoas possam imaginar.

mzmadeira disse...

Caro António,
claro que respeito as tuas posições e opiniões, mas deixa-me rectificar só uma coisinha: "teórico" NÃO significa que nada perceba de ciclismo (ou de outra coisa qualquer), por isso não fiques melindrado.
Ser-se teórico é, aliás, exactamente o contrário: é ter-se uma enorme informação sobre determinado assunto. Pudesse "experimentar" alguns desses conhecimentos no campo e deixaria de ser teórico para dar um passo no sentido de "especialista" porque testara a teoria, e tirara conclusões.
Mas os conhecimentos têm-os.
Não fiques amofinado por isso.
Aliás eu até posso escrever mais alguma vez (prometo que vou tentar evitar) que és um teórico, mas nunca escreveria que não percebes nada de Ciclismo. Porque não é verdade e eu sei disso.
Cumprimentos

Antonio Dias disse...

Caro Manuel,
Peço desculpa pela resposta em tom mais quente, mas pronto foi uma reacção instintiva. Respeito muito o teu conhecimento e a tua experiência, e acho que as nossas opiniões, ainda que diferentes, são compatíveis. Afinal, gostamos ambos de ciclismo.

Um abraço

mzmadeira disse...

Nem mais...
Eu podes crer que nem notei esse... "tom mais quente".
Foi uma resposta a uma opinião minha. De quem também tem todo o direito a ter opinião.

Aliás, é esse o objectivo do VeloLuso. Trocas de opinião.
Embora haja quem, nem goste das minhas opiniões, nem consiga encontrar argumentos para a rebater.

Aqui, no VeloLuso, NINGUÉM está acima da crítica.
E eu assumo as consequências pelo que escrevo.