quarta-feira, maio 30, 2007

563.ª etapa


OPINADORES DE SOFÁ VALEM O QUE VALEM

Entretanto – foi azar, reconheço-o – no mesmo “editorial” a que venho a referir-me falava-se da notória ausência de público nesta edição do Giro.
Pumba!...
Mais um trambolhão. Dos grandes.
Quem assistiu à etapa não o pode negar. Uma autêntica avalanche humana no alto do Zoncolan. Que a televisão fez questão de mostrar.
Será que amanhã, quem escreveu aquilo vem penitenciar-se? Não creio. Não acredito. Não espero.

Nem espero argumentações de quem disse, pegando numa frase ouvida na televisão, “Nem as histórias do doping afastam as pessoas”! (Tenho gravado.)

Mas alguém acha que o público dá alguma importância às histórias que a CS insiste em romancear acerca do doping?

Mas quantas vezes mais eu terei que repetir aqui que o público vai é atrás do espectáculo? Não tentei já, eu, envolver o público (em abstracto) nas “culpas” que recaiem sobre alguns ciclistas em particular e no Ciclismo no geral?

Ah!... Acharam-no despropositado!
Claro que acharam.

Quem escreve de cú sentado numa cadeira e nunca viveu o que é o ciclismo na estrada pode teorizar à vontade. Não se riam é das minhas opiniões. Reinvídico o estatuto de conhecedor. Não mo neguem. Ou façam melhor do que traduzir telexes das agências.

Está ainda fresquinho o artigo que escrevi sobre isso.
O público quer espectáculo! Quer não… Exige!

Que ninguém mora naquele descampado e todos aquelas milhares de almas não se deslocaram do cú de Judas para ver um passeio de cicloturistas.

Foi para ver os seus campeões.

Não a passearem mas a sofrerem.
E quanto mais eles sofrerem mais o público gosta.
É o Circo. Não dos palhaços mas o velho Circo romano, dos gladiadores.

Matar ou morrer.

É por isso que público acorre. Viram as imagens da etapa de hoje? Viram?
A quantos quilómetros da chegada é que puderam identificar carros particulares?

Eu não vi e não posso dar palpites. Alguém pode?
E aqueles milhares (muitos) de pessoas andam, meia hora, uma hora, hora e meia a pé... para quê?

Agora fechem os olhos.
Imaginem-se Corredores.
Independentemente dos objectivos desportivos.

De quererem ganhar a etapa ou de subir na geral…

Imaginam-se Corredores profissionais sem se verem “obrigados” a ultrapassar todos os vossos limites perante aquela mole humana que gritava, aplaudia, corria lado a lado com os Corredores?…

Não me julguem, a mim, como branqueador de eventuais practicas desonestas por parte dos Corredores.

Leiam-me como testemunha privilegiada que sou do seu esforço.

Depois, tentem pôr-se na pele de um, de entre aqueles milhares de espectadores que sairam de casa de véspera, que deixaram o carro a cinco quilómetros, que andaram, por sendeiros e a corta mato, esses cinco quilómetros… a subir.
Tentem perceber o que eles sentem.
Tentem perceber o que sente um Corredor que, esgotados os últimos pingos de suor ainda vai descobrir forças onde ninguém pode imaginar…
(Querem que antecipe os vossos pensamentos? Pensam que estavam TODOS DOPADOS!)

Mas só pensaram nisso depois de regressar a casa.
Depois de se sentarem à frente dos vossos computadores de jornalistas.

Naqueles momentos ferveu-vos o sangue, imaginando-vos no seu (deles) lugares.

Capazes de arrebatar uma multidão.

Sentiram-se grandes!

Acabada a transmissão televisiva (ou chegados aos carros, estacionados cinco quilómetros mais abaixo e ligado o ar condicionado da viatura), imagino-vos a todos a desabafarem: “CAMBADA DE DOPADOS!

É isso o que pensam de verdade, não é?

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