terça-feira, maio 29, 2007

561.ª etapa


ALGUMAS EXPLICAÇÕES PARA QUE
NÃO CONTINUE A SER MAL INTERPRETADO!...

Ontem, como já o fiz várias vezes, deixei aqui um artigo no qual usei o termo "teórico" que - tenho disso consciência - pode ser lido como "desconhecedor da realidade". Pode. Mas também não é obrigatório que o seja.

Também, há muito, muito tempo, contei aqui a forma como fui "atirado" para o Ciclismo. Chegado há pouco tempo a um jornal - no caso, a saudosa A CAPITAL - aconteceu-me aquilo que ainda acontece com os recém chegados a uma redacção. Todos os outros já têm a "sua especialidade"... logo o que chega de novo "fica" com o que, à priori, passaria pelo "convencer" os já residentes e com "pelouros" fixos.

Custou-me muito. Porque parti do zero. Enquanto Jornalista (e volto a pedir desculpa pelo pretenciosismo de utilizar a caixa alta), eu só tinha um objectivo: corresponder àquilo, não que o chefe de secção pretendia, mas à exigência dos leitores. E, como acontece em todas as Modalidades, o Ciclismo tem um público sabedor, logo, exigente e pouco flexível, em relação a eventuais inexperiências do jornalista.

Acreditem-me, de futebol toda a gente sabe. Toda a gente tem opinião. Por isso o universo alvo do noticiário sobre futebol, sendo difícil, acaba por ser menos exigente. O curioso é que, ao mesmo tempo, é o que menos concorda com as opiniões dos jornalistas. É um público transversalmente abrangente, mas que centra, acima de tudo, nas suas preferências clubísticas a chamada... verdade. E gosta dos articulistas QUANDO estes têm leituras que coincidem com as suas. E verberam-no quando isso não acontece. Mas voltam a estar com ele na primeira ocasião em que as opiniões voltam a convergir.

No que respeita às Modalidades - é a favor disto que me bato - as coisas mudam radicalmente.

Quem compra um jornal só por causa de uma determinada modalidade sabe mais sobre ela que o próprio jornalista. Ou porque - eu devia dizer: principalmente - já foi praticante, ou técnico... ou árbitro. Há aqui, no que concerne às Modalidades, um quase total esvaziamento no que respeita ao adepto só adepto. Esse até pode comprar o jornal só por causa da modalidade que gosta mas, percentualmente, o peso destes é residual.

Quem começa a ler o jornal pelo fim, porque busca, de facto UM tema sobre o qual, não raro, sabe mais que o jornalista, são especialistas nessa modalidade. Praticantes, ex-praticantes, técnicos, dirigentes...

Por isso, e voltando ao ponto onde ficara, assim que fui "designado" como o homem do Ciclismo, n'A CAPITAL, passados os primeiros momentos de aflição, mergulhei o mais fundo que pude na realidade desta modalidade sem par. Ainda não havia Internet, nessa altura, por isso eu aproveitava o facto de ter de subir ao 3.º andar, no antigo edifício d'A CAPITAL, para, alietoriamente tirar da prateleira a "colecção" de uma determinada época e ler tudo o que os meus antecessores, no tratamento do ciclismo, tinham escrito.

Depois, e já no terreno, ultrapassados os primeiros momentos de maior timidez, logo que os "veteranos" me aceitavam no grupo, eu passava horas a ouvi-los.

Só queria não cometer nenhuma borrada nos meus escritos, mas, entretanto, aprendi a amar esta modalidade que é única. Exactamente porque a fui descobrindo a pouco e pouco.

E porque não quero estar para aqui a contar a história da minha vida, demos então o "salto" para o presente.

Depois de horas e horas a ouvir as estórias do Zé Neves de Sousa - ainda tive o privilégio de com ele privar -, das conversas com o Costa Santos, dos ensinamentos, quase na perpectiva de mestre e aluno com o Martins Morim e de outras mil e uma conversas com mais uma dúzia de companheiros de estrada, depois de cinco ou seis anos - e eu, perdoem-me a imodéstia - achei que com menos tempo do que isso não estava capaz de me pronunciar autonomamente, lá me abalancei a começar a fazer comentários.

Nessa altura já percebia de desmultiplicações de velocidades, já sabia de olhos fechados quem era sprinter e quem eram os melhores na montanha... Já percebia alguma coisinha de ciclismo.

Neste meio tempo conquisto amizades que ainda hoje mantenho.

O Francisco Araújo contou-me todas as suas estórias com o Agostinho; Francisco Araújo que mora, em linha recta, a pouco mais de 300 metros de minha casa. Um dos muitos amigos que o ciclismo me deu.
O Guita Júnior falou-me das Voltas que organizou. Dos acampamentos, em vez das dormidas em hotéis que não havia, na altura...
O Fernando Emílio dos mil e um truques que precisamos saber, para estar na frente, na informação. E que mos "ofereceu", no verdadeiro sentido do termo.

E depois fui ganhando a amizade de técnicos - o Manuel Maduro, o Orlando Alexandre, o Marco Chagas, o prof. José Santos, mestre Emídio Pinto, João Marta, José Marques... tantos outros - e de corredores, então ainda no activo. O Joaquim Gomes, o José Santiago, o Fernando Carvalho, o Pedro Silva, o Paulo Pinto, o Carlos Marta (pecaria sempre por defeito, por isso fico-me por aqui, pedindo desculpa aos não citados).
De dirigentes, como o eng.º Brito da Mana, o senhor Álvaro Silva, Manuel José Tavares Rijo... e tantos outros.

E fui gastando dinheiro a assinar o Mirroir du Ciclisme (que já não existe), a Vélo... o que havia em francês, antes de começar a familiarizar-me com o espanhol.

Até que um dia, depois de o ter recusado por duas ou três vezes, aceitei participar num pequeno colóquio sobre Ciclismo. Porque já achava que estava suficientemente maduro para o fazer.
Não tive pressa...

Mas, e embora continue a assinar revistas e, hoje em dia, com a Internet, quase tudo estar à distância de um clique, a verdade é que, o que me diferencia dos outros (colegas jornalistas, de uma geração posterior) são os muitos quilómetros de estrada percorridos e, principalmente, as muitas horas de conversa com os, então, veteranos do pelotão da Comunicação Social.
Isto, numa altura - recordo - em que ainda não tinha sido inventada a Internet.

E estou, depois desta redonda passagem pelo meu passado, a regressar aos dias de hoje.
Hoje tudo parece simples.
E já esfou a entrar, definitivamente, no porquê deste artigo.

Quem tem - ainda por cima no emprego - possibilidade de às 9.30 da manhã já ter lido 5 artigos espalhados pelos (mesmo que sejam) 5 jornais europeus mais interventivos no Ciclismo, vai somando conhecimentos. Claro que vai.
Eu mesmo tento alcançar essa meta: ler quatro ou cinco jornais desportivos europeus por dia.
Mas falta-lhes tudo o resto.

Pronto. Chegámos ao ponto dos... "teóricos"!

Bem Vindo, tolerado ou, já me aconteceu, banido de um dos sítios onde podemos ler coisas de ciclismo, em português, vou estando atento a todos.

E, nos últimos tempos, tenho vindo a assistir a uma futebolização - no método, que não no concreto - do Ciclismo, mormente nos casos de doping.

O adepto constrói a sua verdade e, lendo qualquer artigo que coincida com essa sua verdade, sente-se capaz de, e de peito aberto, vir à rede despejar uma série de absurdos só possíveis porque de Ciclismo de facto, daquilo que se faz na estrada, montado numa bicicleta, não sabe absolutamente NADA.

E o número de horas que passa a pesquisar sítios na Internet, tal como o número de horas que passa à berma da estrada para ver passar o pelotão, não servem para efeitos de currículo.
Aqui torna-se igual ao "cego" adepto do futebol.
Contra a sua equipa - aqui a sua opinião - qualquer "atchim!!!" é arrasado, se o entender contra, ou elevado à suprema das verdades, se com ele concordar.

No meu artigo, no qual chamei "teóricos" a alguns dos opinadores amadores que por aí pululam, dei mesmo um exemplo que ouvi.

"Se os corredores tomam EPO para subirem montanhas a 35 km/hora... mais valia que, mesmo que subisse a 25 a não tomassem. O espectáculo ia ser o mesmo."
Que dizer disto?

Primeiro, a (o uso da) EPO não tem como objectivo... andar mais depressa.

Embora eu ache que ainda há quem pense que há quem se injecte com a eritropoietina para no dia seguinte ganhar uma etapa!
Não é ridículo. É estar-se completamente de fora.
O ridículo é dizê-lo.

"Drogas" para darem força, eram aquelas que se usavam nas décadas de 50, 60 e 70 do século passado.

A EPO não dá força a ninguém.
Nem se toma 12 horas antes.
A EPO - mas há outros meios - serve para ACELERAR A RECUPERAÇÃO depois de terminada a etapa.
Potencia o organismo na reposição de todos os componentes gastos ao longo das tiradas.
Não durante a etapa.

Ganham-se etapas com as pernas e a força que - para quem acredita - o Criador lhes deu. A diferença é que, a cada manhã, estão - os que a usam - na posse de praticamente todas as suas capacidades... naturais.
Só recuperaram melhor, e mais depressa, dos que a não tomaram.

Mas, quem é que, hoje em dia, não tem uma aparelhagem tipo home-cinema e casa? E um motitor LSD com 175 centímetros para ver televisão à escala de um écrã de cinema?
Eu digo... sete em cada dez portugueses. Nove em cada dez, se alargarmos a coisa para o nível do cidadão-tipo, ao nível da União Europeia.

Perceberam o que eu NÃO disse?

Por isso tenho que chamar "teóricos" aos que sustentam as suas opiniões em editoriais lidos por aí, na Internet. De jornalistas que nunca puseram o pé numa corrida. E que só estão tomados dessa coisa que se pode assemelhar às velhas Cruzadas.
Morte aos infiéis.
Mas como não sabem quem o é, de verdade... arrastam todos à sua passagem.

E - os meus caros "teóricos" -, ainda por cima, não têm a preocupação de, na mesma Internet, procurarem aprender um pouco mais sobre o que julgam estar a falar. Definitivamente, são teóricos.
E isso percebe-se nos seus escritos "bacteriologicamente" puros.
E porque se percebe que acreditam no que escreveram.

E com isto deixo em aberto a discusão. Se é que querem participar.
É que parece que trocar opiniões comigo é a primeira coisa que esses teóricos evitam.
Eles lá sabem porquê.

2 comentários:

Antonio Dias disse...

Manuel,

É óbvio que a EPO faz andar mais depressa... Estás claramente equivocado. Um dos efeitos que os desportistas descrevem é o facto de conseguirem sofrerem mais e por essa via conseguirem andar mais rápido, com mais sofrimento, cá está. Pelo teu raciocínio, um tratamento com hormonas de crescimento ou testosterona também só acelera a recuperação... Não é verdade... Com certeza que acelera a recuperação depois da corrida, mais é ainda mais eficaz durante a corrida... É como a insulina... A insulina tem efeitos milagrosos ao nível do desgaste muscular, evitando o aparecimento prematuro de cãibras..
Finalizada a corrida, o jogo, seja lá o que for, entram os corticóides, os glucocorticoesteróides, esses sim vitais na recuperação muscular diária. É evidente que ninguém (ou alguns) toma EPO 12h antes de uma prova dado que ela é detectável pelo menos 5 dias após a sua toma. É verdade.

Na minha opinião, nada disto favorece o espectáculo. Montanhas escaladas a 40 km/h não dão gozo nenhum, só matam o espectáculo. Eu não quero ser mais um contribuinte para o ciclo de doping de última geração. E por isso, já vejo as corridas de outra forma. É um direito meu.

mzmadeira disse...

De facto, António,
dando a volta por esse lado, beneficiando da mais rápida, e melhor, recuperação do desgaste dispendido na véspera, os corredores apresentar-se-ão mais... "frescos", logo, podem andar mais depressa...