SÃO HUMANOS, CLARO QUE SÃO!...
Algumas horas após o final da terceira etapa do Giro’07 ainda estou a ver aquela imagem que nos mostrou um Alessandro Petacchi curvado sobre o guiador da sua bicicleta e em choro quase convulsivo. Foi um momento de fazer arrepiar. Afinal, o homem tinha ganho a etapa…
Registo, também – e com inegável agrado – que o jornalista da televisão, que estava junto a ele, recolheu momentâneamente o microfone, respeitando os sentimentos de Petacchi que estariam em ebulição. Foi bonito.
E deu-me o moto para esta crónica.
A frieza dos comentários, de jornalistas ou simples comentadores, até mesmo dos adeptos, que exigem, exigem, exigem… tudo dos corredores, principalmente dos principais nomes, há-de transformar-se numa forma de pressão que, agora, aqui, ponho em causa.
Tenho muitas centenas de horas de trabalho no terreno. Também eu já corri atrás dos corredores, também eu já lhes gritei – para ser ouvido no meio da confusão – “o que é que sente?”.
Também eu, na manhã seguinte, já procurei determinados corredores para os inquirir sobre aquilo que eu achei ter sido um resultado desastroso, na véspera.
Nestas horas, que serão, tenho a certeza, de profunda desilusão para eles, os verdadeiros e únicos artistas do ciclismo, nós, jornalistas e comentadores, às vezes vestimos a pele de juízes e de… carrascos. Acusamos e executamos a pena.
Sob que argumentos? Porque o seu currículo, porque o seu estatuto, os obriga a ganhar sempre? Mas quem somos nós para ajuizar sobre isso? Que sabemos do que se passa, por trás da cortina, e que pode ser justificativo desses momentos menos bons de homens – como nós – que nas suas vidas têm altos e baixos?
Alessandro Petacchi nem sequer estava em branco esta época. Recordo que venceu quatro das cinco etapas na última Volta ao Algarve (embora tivesse sido desqualificado na primeira) mas vinha a falhar noutras provas.
E, mesmo na véspera, ouvi críticas – no melhor dos sentidos da palavra, porque o comentador arrisca um prognóstico e, ao falhar, a primeira tendência é a de culpar o corredor porque não cumpriu a sua previsão. E não me refiro a nenhum comentador em particular porque, nestas horas que passaram não consegui deixar de pensar em coisas que já escrevi.
Um corredor que rebenta assim, depois de uma grande vitória, num pranto quase convulsivo, não está a chorar de alegria. É um despejar de mágoas. Mágoas acumuladas. Contra terceiros, mas também contra si próprio porque – a pressão é isso mesmo – não tinha vindo a ser capaz de corresponder às expectativas que sobre ele recaíam. Quem nunca são promovidas pelo próprio.
Num momento em que todas as suspeitas se abatem sobre o grande pelotão, aquele pequeno momento de revelação de uns dos heróis do mesmo pelotão como simples humano, não significa apenas o abanão que sofremos porque fomos obrigados a vê-lo com outros olhos. De homem para homem. Significa também – pelo menos para os que forem capazes de pôr a mão na consciência – que nós não estamos isentos de culpa.
Problemas físicos, ou pessoais – que ignoramos, na maior parte das vezes – que se impõem à vontade de ganhar, à imperialidade (no sentido de obrigatoriedade) de ganhar, por parte de alguns nomes, são ignorados. Somos nós quem fixa bitolas, determina metas e, sem pensar em mais nada… apressamo-nos a cobrar os falhanços.
Mas os corredores são humanos.
Alessandro Petacchi esteve enorme, na Volta ao Algarve. A partir daí eclipsou-se. Analistas, e público em geral, não lhe perdoaram.
Ganhar, em vez de ser um prazer para viver com um sorriso rasgado no rosto, transforma-se em pranto…
É para reflectir.
Principalmente quando, de tocha acesa, pronta para acender a fogueira onde, diga-se o que se disser, sobressai o mórbido prazer de ver arder na praça pública este ou aquele corredor, é o adepto anónimo – secundado (infelizmente, infelizmente...) pelos analistas – que pede mais e mais. E mais. E mais…
Foi um momento curto. Uma dúzia de segundos apenas. O que eu pergunto é se deu para que outros, tal como aconteceu comigo, tenham percebido o quão importante foi. E, já agora, quantos estarão disponíveis para abarcarem a percentagem de culpa que têm em todo este processo que ameaça enterrar o ciclismo?
São eles quem (alegadamente) se dopam… mas quem é que faz a pressão?
Algumas horas após o final da terceira etapa do Giro’07 ainda estou a ver aquela imagem que nos mostrou um Alessandro Petacchi curvado sobre o guiador da sua bicicleta e em choro quase convulsivo. Foi um momento de fazer arrepiar. Afinal, o homem tinha ganho a etapa…
Registo, também – e com inegável agrado – que o jornalista da televisão, que estava junto a ele, recolheu momentâneamente o microfone, respeitando os sentimentos de Petacchi que estariam em ebulição. Foi bonito.
E deu-me o moto para esta crónica.
A frieza dos comentários, de jornalistas ou simples comentadores, até mesmo dos adeptos, que exigem, exigem, exigem… tudo dos corredores, principalmente dos principais nomes, há-de transformar-se numa forma de pressão que, agora, aqui, ponho em causa.
Tenho muitas centenas de horas de trabalho no terreno. Também eu já corri atrás dos corredores, também eu já lhes gritei – para ser ouvido no meio da confusão – “o que é que sente?”.
Também eu, na manhã seguinte, já procurei determinados corredores para os inquirir sobre aquilo que eu achei ter sido um resultado desastroso, na véspera.
Nestas horas, que serão, tenho a certeza, de profunda desilusão para eles, os verdadeiros e únicos artistas do ciclismo, nós, jornalistas e comentadores, às vezes vestimos a pele de juízes e de… carrascos. Acusamos e executamos a pena.
Sob que argumentos? Porque o seu currículo, porque o seu estatuto, os obriga a ganhar sempre? Mas quem somos nós para ajuizar sobre isso? Que sabemos do que se passa, por trás da cortina, e que pode ser justificativo desses momentos menos bons de homens – como nós – que nas suas vidas têm altos e baixos?
Alessandro Petacchi nem sequer estava em branco esta época. Recordo que venceu quatro das cinco etapas na última Volta ao Algarve (embora tivesse sido desqualificado na primeira) mas vinha a falhar noutras provas.
E, mesmo na véspera, ouvi críticas – no melhor dos sentidos da palavra, porque o comentador arrisca um prognóstico e, ao falhar, a primeira tendência é a de culpar o corredor porque não cumpriu a sua previsão. E não me refiro a nenhum comentador em particular porque, nestas horas que passaram não consegui deixar de pensar em coisas que já escrevi.
Um corredor que rebenta assim, depois de uma grande vitória, num pranto quase convulsivo, não está a chorar de alegria. É um despejar de mágoas. Mágoas acumuladas. Contra terceiros, mas também contra si próprio porque – a pressão é isso mesmo – não tinha vindo a ser capaz de corresponder às expectativas que sobre ele recaíam. Quem nunca são promovidas pelo próprio.
Num momento em que todas as suspeitas se abatem sobre o grande pelotão, aquele pequeno momento de revelação de uns dos heróis do mesmo pelotão como simples humano, não significa apenas o abanão que sofremos porque fomos obrigados a vê-lo com outros olhos. De homem para homem. Significa também – pelo menos para os que forem capazes de pôr a mão na consciência – que nós não estamos isentos de culpa.
Problemas físicos, ou pessoais – que ignoramos, na maior parte das vezes – que se impõem à vontade de ganhar, à imperialidade (no sentido de obrigatoriedade) de ganhar, por parte de alguns nomes, são ignorados. Somos nós quem fixa bitolas, determina metas e, sem pensar em mais nada… apressamo-nos a cobrar os falhanços.
Mas os corredores são humanos.
Alessandro Petacchi esteve enorme, na Volta ao Algarve. A partir daí eclipsou-se. Analistas, e público em geral, não lhe perdoaram.
Ganhar, em vez de ser um prazer para viver com um sorriso rasgado no rosto, transforma-se em pranto…
É para reflectir.
Principalmente quando, de tocha acesa, pronta para acender a fogueira onde, diga-se o que se disser, sobressai o mórbido prazer de ver arder na praça pública este ou aquele corredor, é o adepto anónimo – secundado (infelizmente, infelizmente...) pelos analistas – que pede mais e mais. E mais. E mais…
Foi um momento curto. Uma dúzia de segundos apenas. O que eu pergunto é se deu para que outros, tal como aconteceu comigo, tenham percebido o quão importante foi. E, já agora, quantos estarão disponíveis para abarcarem a percentagem de culpa que têm em todo este processo que ameaça enterrar o ciclismo?
São eles quem (alegadamente) se dopam… mas quem é que faz a pressão?
Os patrões?
Os empresários?
Os managers?
Os directores-desportivos?
Ah!... mas, e o adepto anónimo estará mesmo completamente limpo nesta operação?
Ah!... mas, e o adepto anónimo estará mesmo completamente limpo nesta operação?
Caro que não!
Não há inocentes nesta história.
Pensem nisso.
Aquelas lágrimas de Alessandro Petacchi não podem ter sido derramadas em vão.
Pensem nisso.
Aquelas lágrimas de Alessandro Petacchi não podem ter sido derramadas em vão.
3 comentários:
vivi á um ano uma situação com o meu irmão Bruno Neves.
A dias da volta a portugal 2006, recebemos em casa a noticia de que o filho do Otão Rebelo nosso vizinho e amigo, o homem que levou o bruno para o ciclismo com 7 anos, Andre rebelo tinha acabado de dar um tiro na cabeça apenas com 22 anos e sem razoes de ser, como é natural o bruno ficou de rastos e como nossos vizinhos nós vivemos a angustia dos dias que se seguiram.
Antes um dia da volta a madeinox informa que não vai participar, depois de noite mal dormidas, por volta das 9 da manha do dia do começo da volta é que os ciclistas são informados que podem ir para a partida, diga-me como é que um ser humano aguenta estas emoções e ainda por cima ter que demonstrar resultados.
E agora só um aparte, e quando os tem, (volta a França do Futuro, camisola verde) unico portugues com esse feito, vem num canto minusculo do jornal a falar sobre isso, e ninguem ligado a este desporto fez qualquer entrevista sobre essa prova (super ciclismo / jornais, etc ), outros ciclistas passam epocas inteiras sem resultados e mesmo assim, estão sempre a ser considerados favoritos para todas as provas que estão para começar. QUE MAIS O BRUNO TEM QUE PROVAR PARA TER DIREITO POR PARTE DA IMPRENSA PORTUGUESA UM MOMENTO DE GLORIA?
desculpe o desabafo, mas ás vezes custa um bocadito estas coisas,
cristina neves
Não sei se a Cristina já leu a 451.ª etapa...
Sublinhando o título desta, que comentou, "são humanos" sim senhor.
Quanto às questões que deixa no ar... cada vez estamos pior servidos. Mesmo os "veteranos" se rendem à lógica futeboleira.
Sobram as palmadinhas nas costas, falta o reconhecimento.
E "abuse" deste espaço.
Também é para isso que existe. Para as pessoas deixarem as suas emoções. Porque é com emoções que venho a construí-lo.
Cumprimentos...
... e dê um abraço meu ao Bruno.
Excelente crónica!!!
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